8
21/05/970
I
Há um local.
Há um tempo.
Há vida.
Há morte.
Há estudo.
Tudo enredado em conflito.
II
O local é este
Que habito neste tempo.
Este local
Em que eu, embora vivo,
Sinto que não há vida,
Mas apenas vida,
Nada mais que vida.
III
Olho em redor.
Tudo respira vida.
Neste tempo,
A vida irrompe nos campos,
Passa, em passos leves,
Ali a rasar a porta.
IV
Eu, aqui especado,
Olho os campos verdes,
As aves que descolam dos carvalhos,
E regressam,
Com bicos fartos,
Para despenhando-se nos ninhos.
V
Ouço sussurros leves,
A roçar na porta.
Se ao menos aqui,
Entre a porta e a janela.
Houvesse vida,
Não teria uma voz ensurdecedora,
A sufocar-me,
Quero vida.
VI
O local é este
E este é o tempo
Em que sinto a morte
Embalar-me nos seus braços,
Que tão docemente me aperta ao peito,
Que com carinhos me sufoca.
Contudo, dentro de mim,
Uma voz diz-me em segredo,
Que esta morte,
Não é a morte.
VII
Morto.
Não alcanço além das vidraças,
Não escuto os passos,
Que se silenciosos se arrastam,
Bem próximos da porta.
VIII
O local é este,
O tempo é este,
Em que vivo,
Em que morro
Quando o tempo é de estudo.
IX
Neste local,
Neste tempo,
De abre livros e fecha livros,
Leio páginas de enfiada,
Que mudas nada me dizem.
Atiro, sem coragem de o fazer,
Os livros ao ar
E com eles atiro palavras agudas,
Palavras iradas que ninguém ouve,
Isto não é estudo.
X
Que local
E que tempo
São estes?
Que se chocam na mente,
Em pensamentos cruzados,
Contraditórios,
Que ora afirmam uma coisa
E logo de seguida o seu contrário.
Zé Onofre
Livração, 2021/03/11