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Notas à margem

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Notas à margem

11
Mar21

Formiga 7

Zé Onofre

                          7

26/10/969

Não quero mais viver.

Viver por viver não é viver.

Não quero mais pensar.

Pensar por pensar não é pensar

Não quero mais sonhar.

Sonhar por sonhar

Sonhos que não se realizam

Que nos fariam viver, sem ser por viver,

Que nos fariam pensar, sem ser por pensar.

E sem as quais não se vive.

Assim mais vale não mais viver.

                               Zé Onofre

                                2021/03/11

10
Mar21

Formiga 6

Zé Onofre

             6

20/10/969

Um pai,

Um filho,

Um filho mais novo,

Unidos pela desilusão

De um sonho abatido.

O mais novo em corrida alegre,

Ofegante conta ao irmão a visão que teve.

Numa voz triste, magoada, aguada,

Conta que também ele gritou ao mundo,

O sonho que teve de uma humanidade …

O pai, numa voz arrastada pelos anos,

Falou.

Os sonhos sonhados no calor do lar,

Morrem quando a realidade nua e crua,

Derruba as portas que a seguram.

                                          Zé Onofre

                               Livração, 2021/03/10

08
Mar21

Março em Novembro

Zé Onofre

14/11/979

Mulher,

Minha irmã

Companheira.

 

Fizeram-te

Objecto,

Adorno,

Enfeite,

Propriedade,

Jarra florida,

… … …

Mãe,

Esposa,

Amante

… … …

Mulher,

Minha irmã

Companheira,

Mulher Cidadã.

 

Só.

Isolada em casa.

Abandonada,

Retirada da vida.

Roubam-te a vida,

A ti

Que dás a vida.

Roubam-te a existência,

A ti

Que és existência.

Roubam-te a vida,

O ser,

O existir.

Amarram-te,

A ti

Que és liberdade.

Mulher,

Não és sacrifício,

És cidadã.

 

Isolada,

Com os fantasmas do passado.

Medo.

Sacrifício.

Recusa.

Abandono.

Doação.

Mulher,

És cidadã.

Mulher,

Minha companheira,

Minha irmã.

                         Zé  Onofre  

        Livração, 2021/03/08

07
Mar21

Formiga 5

Zé Onofre

19/10/969

Queria ser louco, ave ou rio.

O louco não sabe que o é,

Passa pela vida.

A ave não sabe que o é,

Somente vive.

O rio não sabe que o é,

Apenas corre.

São livres no seu não saber.

Eu que vivo a vida

Que sei o que sou

Não sou livre.

Já fui certamente ave.

Passeava entre os astros,

Fazia cama na lua,

Saltava ao sol,

Tudo era meu e não o sabia.

Um dia, maldito dia,

Gritaram-me

A vida não é feita de sonhos.

Parei de voar.

Em queda livre estatelei-me no chão

Agreste da realidade.

                           Zé Onofre

                       2021/03/07

07
Mar21

Formiga 4

Zé Onofre

19/10/969

Queria ser maluco, ave ou rio

O maluco não sabe que o é, passa pela vida.

A ave não sabe que o é, somente vive.

O rio não sabe que o é, apenas corre.

São livres no seu não saber.

Eu que vivo a vida

Que sei o que sou

Não sou livre.

Já fui certamente ave.

Passeava entre os astros,

Fazia cama na lua,

Saltava ao sol,

Tudo era meu e não o sabia.

Um dia, maldito dia,

Gritaram-me

A vida não é feita de sonhos

Parei de voar

Em queda livre estatelei-me no chão

Agreste da realidade.

                           Zé Onofre

                  

05
Mar21

Formiga3

Zé Onofre

               3

16/10/969

Queria ser maluco.

Ser apontado na rua,

Enquanto riria dos dedos esticados!

Oh, pobres daqueles que os lamentam

Porque pensam ter mais juízo.

Como andam enganados!

Não sabem que os malucos,

Na sua loucura, são os mais espertos.

Abstraem-se da vida,

Vivem o dia-a-dia como se fosse único,

E são tolos?

                    Zé Onofre

05
Mar21

Formiga2

Zé Onofre

                                     2

8/10/969

Vivemos numa bela e longa paz!

De olhos abertos vi que era a guerra.

Somos uma sociedade de amor!

Os olhos avistam o ódio, apenas.

Somos abençoados com a liberdade,

Mas era só a de viver na escravidão.

A verdade, e só a verdade, nos move.

Segui-os, caí na mentira.

Mudemos de rumo.

Os nossos filhos merecem a verdade crua,

Sem adornos de ilusão.

Sem mantos diáfanos da fantasia

Vamos conquistar a felicidade.

                              Zé  Onofre

04
Mar21

Formiga

Zé Onofre

                               1

                            1

7/10/969

Vivia num sonho de criança, talvez.

Era um sonho

Que me preenchia todas as horas.

Abri os olhos

Já não estava lá.

Para onde foi?

Esfumou-se, e era o meu norte.

Era a realidade disfarçada

De paz, amizade, amor.

Realidade pintada a fantástico.

Ingénuo, não via além da aparência.

Deliberadamente enganaram-me.

Os castelos construídos

Com estrondo ruíram

Esmagando-me nos escombros.

                                      Zé Onofre

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