Por aqui e por ali 7
7
S/d
Por favor!
Grita uma voz desesperada
No silêncio das pedras.
Por favor!
Ouve-se nas trevas
Silêncios do desespero.
Por favor!
Por favor!
Zé Onofre
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7
S/d
Por favor!
Grita uma voz desesperada
No silêncio das pedras.
Por favor!
Ouve-se nas trevas
Silêncios do desespero.
Por favor!
Por favor!
Zé Onofre
6
1981/02/23, Gouveia – MCN
Vá!
Gritai-me as palavras
Com que se fazem os sonhos.
Vá!
Gritai-me as palavras
Com que se constroem mundos novos.
Vá!
Gritai-me as palavras
Com que se enfurece o mar.
Dizei-me, nem que seja em murmúrios,
A vida serena
Do sol a cantar.
Dizei-me por favor,
A poesia de uma noite,
Mesmo que não tenha luar, nem estrelas,
Que seja só de sombras e trevas.
Gritai-mas,
Dizei-mas,
Vós as sabeis.
Um dia não veio à escola,
Ficou em casa
A fazer bagaço.
Quem me disse que ele era criança?
No primeiro dia de aulas
Não veio à escola,
Ficou em casa a trabalhar.
Com que direito o avaliaremos negativamente?
Queria ter um laço vermelho,
Grito de alegria
Na cabeça a sorrir.
Queria usar palavras sinceras,
Gritos de luz
Na boca a sorrir.
Queria ter palavras misteriosas,
Sons e cores da vida a começar.
Zé Onofre
5
980/12/11, Gouveia, MCN
Senhor professor,
Creio em si,
Gosto de si,
Mas aborrece-me tanto!
Despeja palavras,
Palavras, palavras
Sobre os meus ouvidos.
Pobres ouvidos,
Os meus.
Ontem,
Por exemplo ontem,
Falei-lhe …
Falei-lhe das minhas galinhas
Que comem milho,
Que põem ovos …
E do galo
Que canta ao amanhecer.
Falei-lhe…
Falei-lhe do meu porco
Que engordou no Verão
E hoje está morto.
Não te dão o pão
Que te roubam
No dia-a-dia.
Não te cobrem o frio,
Nem te aliviam o calor
Que padeces
De sol-a-sol.
Não te ensinam
A vida
Que te sugam sem parar.
De real,
Nem o sonho
Te permitem.
Apenas,
Apenas te oferecem
Ilusões.
Mastigas,
Nas chicletes
A fome
Por matar.
Zé Onofre
4
Gouveia, 1981/01/07
A minha escola tem
Professores,
Meninos,
Meninas.
Os professores são muito bons
Muito, muito bonitos.
Os meninos e as meninas
Também são.
Eu gosto muito da minha escola.
O recreio da minha escola
Tem um muro a toda a volta,
Pedras,
Muitas pedras no alto,
Tem, também,
Lama no Inverno.
O recreio da escola
É pequeno para brincar.
Zé Onofre
3
27/11/977
Sempre à janela,
Flor,
À espera do teu sol.
Borboleta,
À espera do teu sol
Sempre à janela,
À espera,
À espera …
O sol é outro,
Tem-lo dentro de ti.
Não esperes!
Zé Onofre
2
1979/11/14
Mulher
Nossa irmã
Companheira.
Fizemos-te
Objeto,
Adorno,
Enfeite,
Propriedade,
Jarra florida.
Mãe,
Esposa,
Amante.
Mulher,
Minha irmã
Companheira.
Mulher,
Cidadã.
Só,
Emoldurada numa casa,
Abandonada,
Retirada da vida.
Roubamos-te a vida
A ti
Que dás a vida.
Roubamos-te a existência,
Tu
Que és existência.
Proibimos-te
A vida,
O ser,
O existir.
Amarramos-te,
Tu
Que és a liberdade.
Mulher
Não és sacrifício,
És cidadã.
Isolada,
Fantasma do passado,
Medo,
Sacrifício,
Recusa,
Abandono,
Doação.
Mulher
És cidadã.
Mulher,
Minha irmã,
Companheira.
Lixeira,
Essa solidão em que vives.
Lixeira,
Essa distância em que ficas.
Lixeira,
Essa lonjura do mundo.
Lixeira,
Esse fundo com que te confundes.
Lixeira,
Essa jarra que maquinalmente arranjas.
Lixeira,
A espera que fazes todos os dias.
Lixeira,
Esse tempo que vives adormecida.
Lixeira,
O desinteresse com que te entregas.
Lixeira,
Essa tua voz conformada.
Lixeira,
A cabeça que manténs baixa.
Lixeira,
A tua humanidade ofendida.
Lixeira,
A humilhação a que te sujeitamos.
Lixeira,
A tua vida de sujeição.
Flor
Serás, um dia.
Tu mesma,
Plena,
Humanizada.
Mulher,
Flor
Serás, amanhã.
Zé Onofre