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Notas à margem

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Notas à margem

27
Fev22

Por aqui e por ali 64

Zé Onofre

             64

 

sd

 

O galo

Não mais cantará

A anunciar um novo dia.

 

O galo  

À meia-noite

Não mais cantará

A anunciar um novo dia.

 

O galo

Não mais cantará

A um novo sol que nasce.

 

O galo

Não mais cantará

A um novo dia,

Não mais,

Não mais.

23
Fev22

Por aqui e por ali 63

Zé Onofre

               63

 

sd

 

Não procuro a morte

Porque a achei.

Aqui estou eu

Sentado,

Sentado,

Sentado.

 

Só me faltam os chinelos

- Tenho os pés descalços -

Só me faltam os chinelos

E uma careca luzidia,

Para que procurar a morte?

 

Sim eu,

Eu, que jurei não morrer

Aqui estou

Abjurando.

 

Sim,

Este mesmo

Que fez promessas de juventude eterna,

Sim.

Eu,

Que já nem me revolto.

Este

Que sonhava,

Sonhava,

Sonhava…

 

Rezem-me pelo corpo

A alma,

Essa,

Já morreu.

  Zé Onofre

22
Fev22

Por aqui e por ali 62

Zé Onofre

                  62

 

sd

 

A sombra da noite

 

A noite cai. Não se ouve qualquer estrondo porque é silenciosa, como silenciosos são os passos que não se ouvem na noite silenciosa.

A noite cai. Num dia longínquo do nosso passado cai a noite roçagante de sedas maviosas e perfumes que nos inebriam, como inebriantes foram os folguedos do dia.

A noite cai. Silenciosa. Escura. Triste.

A noite cai, em silêncios de palmas de mãos abertas.

A noite cai, como pedras provindas do desconhecido, como sonhos que sonharam alvorecer.

A noite cai. Cai.

A noite cai. Cai sem a promessa de esperanças de um novo dia.

A noite cai definitiva.

A noite cai.

 

Na noite que cai é a sombra que se levanta.

A sombra e os pesadelos.

A sombra e os pesadelos levantam-se como adamastores

No solilóquio que transparece na solidão e frieza destas horas.

A sombra sem esperança de luz.

A sombra sem esperança de seja o que for.

   Zé Onofre

20
Fev22

Por aqui e por ali 60

Zé Onofre

               60

 

989/10/03

 

Já nada faz sentido.

Uma a uma as certezas desfazem-se.

De novo a dúvida e a incerteza.

Já nada é.

Tudo foi,

E dificilmente será.

De novo caminhos incertos

Se desdobram, se avolumam.

Só dor.

Só tristeza.

Só nada.

Zé Onofre

17
Fev22

Por aqui e por ali 59

Zé Onofre

                 59

 1989/09/13

 

 Professores,

Cidadãos da dúvida,

Construtores em projeto

De novos projetos.

 

Professores

Caminhantes de um caminho,

Por fazer,

Balizado entre o que é

E o que deve ser.

 

Professores,

Cidadãos da angústia,

Construtores de um sentido,

Sem demissão,

Modelando hoje

O incerto amanhã.

Zé Onofre

16
Fev22

Por aqui e por ali 58

Zé Onofre

                 58

 989/09/___

               Ser Professor

Só aos burros se ensina

A fazer uma ou outra habilidade.

Que aquilo que lhes é da vida,

Não precisam que se lhes ensine,

Fazem-no com naturalidade.

 

A partir daqui tudo se resume

A uma pequena e simples escolha.

Ser-se um domador sério,

Perfeito, consciencioso, zelador,

Ou um marco na via do saber.

 

O problema agora está

Na definição do que se pretende.

Alunos bons, alinhados,

Capazes de habilidades espantosas,

Ou descobridores de pequenas/grandes coisas?

15
Fev22

Por aqui e por ali 57

Zé Onofre

                   57

 

989/06/22

              I

Assumamo-nos

Hipócritas do futuro

Cínicos do presente.

 

Assumamo-nos!

 

Sejamos o que somos

Ignorantes

(e ignorados)

Atores de uma peça

Por escrever.

 

Assumamo-nos!

 

Flores mortas

No cemitério da pedagogia

E não seres em crescimento

Nos jardins da vida.

                  II

Violência,

É o sonho nos bairros de lata.

Não são os bairros de lata.

 

Violência

É sonhar com dias melhores.

Não são os dias maus.

 

Violência

É sonhar com o impossível

Quando o possível está por fazer.

  Zé Onofre

14
Fev22

Por aqui e por ali 56

Zé Onofre

                 56

 

1989/05/09, ação de formação na Escola de Vila Garcia, AMT,

 

                        Receita

 

Pegue-se na vida,

Envolva-se em calda de amor

Quanto baste.

Depois

Mexa-se bem mexido

Com a alegria das palavras

O tempo preciso.

Então

Junta-se o sonho,

A aventura,

O sol,

O vento…

Por fim

A criança que falou,

E escreveu

Lerá.

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