Por aqui e por ali 65
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Mansamente, a aspereza cresce.
Mansamente, as fendas alargam-se,
Desenvolvem-se em silêncio.
Mansamente, o caminho alaga-se.
Mansamente, o caminho desemboca em nada.
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Mansamente, a aspereza cresce.
Mansamente, as fendas alargam-se,
Desenvolvem-se em silêncio.
Mansamente, o caminho alaga-se.
Mansamente, o caminho desemboca em nada.
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O galo
Não mais cantará
A anunciar um novo dia.
O galo
À meia-noite
Não mais cantará
A anunciar um novo dia.
O galo
Não mais cantará
A um novo sol que nasce.
O galo
Não mais cantará
A um novo dia,
Não mais,
Não mais.
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Não procuro a morte
Porque a achei.
Aqui estou eu
Sentado,
Sentado,
Sentado.
Só me faltam os chinelos
- Tenho os pés descalços -
Só me faltam os chinelos
E uma careca luzidia,
Para que procurar a morte?
Sim eu,
Eu, que jurei não morrer
Aqui estou
Abjurando.
Sim,
Este mesmo
Que fez promessas de juventude eterna,
Sim.
Eu,
Que já nem me revolto.
Este
Que sonhava,
Sonhava,
Sonhava…
Rezem-me pelo corpo
A alma,
Essa,
Já morreu.
Zé Onofre
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A sombra da noite
A noite cai. Não se ouve qualquer estrondo porque é silenciosa, como silenciosos são os passos que não se ouvem na noite silenciosa.
A noite cai. Num dia longínquo do nosso passado cai a noite roçagante de sedas maviosas e perfumes que nos inebriam, como inebriantes foram os folguedos do dia.
A noite cai. Silenciosa. Escura. Triste.
A noite cai, em silêncios de palmas de mãos abertas.
A noite cai, como pedras provindas do desconhecido, como sonhos que sonharam alvorecer.
A noite cai. Cai.
A noite cai. Cai sem a promessa de esperanças de um novo dia.
A noite cai definitiva.
A noite cai.
Na noite que cai é a sombra que se levanta.
A sombra e os pesadelos.
A sombra e os pesadelos levantam-se como adamastores
No solilóquio que transparece na solidão e frieza destas horas.
A sombra sem esperança de luz.
A sombra sem esperança de seja o que for.
Zé Onofre
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sd
Águas,
Cores,
Ansiedade,
Rumores,
Saudades
De nada.
Hoje
Águas calmas,
Cores,
Gritos,
Clamores.
Águas calmas,
Dourado sonho impossível!
Águas calmas de Setembro,
Perdido no tempo,
Dourado sonho de Setembro,
Em Outubro!
Hoje,
Nem ontem,
Nem amanhã,
Sempre.
Zé Onofre
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989/10/03
Já nada faz sentido.
Uma a uma as certezas desfazem-se.
De novo a dúvida e a incerteza.
Já nada é.
Tudo foi,
E dificilmente será.
De novo caminhos incertos
Se desdobram, se avolumam.
Só dor.
Só tristeza.
Só nada.
Zé Onofre
59
1989/09/13
Professores,
Cidadãos da dúvida,
Construtores em projeto
De novos projetos.
Professores
Caminhantes de um caminho,
Por fazer,
Balizado entre o que é
E o que deve ser.
Professores,
Cidadãos da angústia,
Construtores de um sentido,
Sem demissão,
Modelando hoje
O incerto amanhã.
Zé Onofre
58
989/09/___
Ser Professor
Só aos burros se ensina
A fazer uma ou outra habilidade.
Que aquilo que lhes é da vida,
Não precisam que se lhes ensine,
Fazem-no com naturalidade.
A partir daqui tudo se resume
A uma pequena e simples escolha.
Ser-se um domador sério,
Perfeito, consciencioso, zelador,
Ou um marco na via do saber.
O problema agora está
Na definição do que se pretende.
Alunos bons, alinhados,
Capazes de habilidades espantosas,
Ou descobridores de pequenas/grandes coisas?
57
989/06/22
I
Assumamo-nos
Hipócritas do futuro
Cínicos do presente.
Assumamo-nos!
Sejamos o que somos
Ignorantes
(e ignorados)
Atores de uma peça
Por escrever.
Assumamo-nos!
Flores mortas
No cemitério da pedagogia
E não seres em crescimento
Nos jardins da vida.
II
Violência,
É o sonho nos bairros de lata.
Não são os bairros de lata.
Violência
É sonhar com dias melhores.
Não são os dias maus.
Violência
É sonhar com o impossível
Quando o possível está por fazer.
Zé Onofre
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1989/05/09, ação de formação na Escola de Vila Garcia, AMT,
Receita
Pegue-se na vida,
Envolva-se em calda de amor
Quanto baste.
Depois
Mexa-se bem mexido
Com a alegria das palavras
O tempo preciso.
Então
Junta-se o sonho,
A aventura,
O sol,
O vento…
Por fim
A criança que falou,
E escreveu
Lerá.