Histórias para aprender a ler e a escrevrer - Livro I - Passeio na mata
Passeio na mata
Numa certa tarde de primavera,
Já mais parecido com um verdadeiro verão,
Do que com a primavera,
A mãe da Carolina,
Saudosa dos tempos
Em que tinha a idade que a Carolina tem,
Até porque o tempo convidava,
Disse à filha
Vamos passear.
Lá vão dois chapéus coloridos
A caminho do fresco das sombras do monte.
Carolina curiosa com a novidade
Não se cansa de falar.
Mãe que é isto?
Mãe e aquilo?
Olha era ali que fazias …
A mãe plena de melancolia,
Respondia com paciência mal disfarçada.
A Carolina, atenta e observadora
Foi avançando,
Enquanto a mãe se perdia nos seus pensamentos,
À descoberta dos lugares do monte
Que conhecia muito bem de ouvir contar.
Olha as ruínas do pombal.
Aqui é a eira do magusto da catequese.
Ali é a velha cabina elétrica,
Mesmo junto ao campo de centeio
Onde um caçador zangado,
Depois de ter falhado um coelho a dois passos,
Lhe atirou com a espingarda.
De vez em quando espreitava a mãe.
Lá vinha a mãe ausente do agora,
Presente no passado.
Agora apanhava munha para o magusto.
Já estava a rapar musgo com os dedos para o presépio.
Com a foicinha, que aparecera não sabe de onde,
Está a cortar rosmaninho para o tapete da Páscoa.
Está mesmo a avançar para o laranjal do Dr.
Cada uma caminhava os mesmos caminhos
Que eram paralelos, uma no passado, outra agora.
Nisto a Carolina ouviu
cu-cu.
Vai buscar a mãe às brumas do ontem
Chamaste mãe?
Não, continua que está tudo bem,
Regressando de imediato ao outrora.
Carolina encolheu os ombros.
Recomeçou a sua viagem de descoberta.
De novo, do nada
cu-cu.
Mãe está alguém a seguir-nos.
Não ouviste, cu-cu?
Ah isso.
Olha bem para o alto daquele pinheiro.
Que vês?
Um passaroco, não é?
Não, tolinha, é um cuco.
Um cuco?
Sim filhota um cuco.
Quando tinha a tua idade
O cuco ouvia-se muitas vezes,
Hoje já se ouve menos.
Quando o ouvíamos perguntávamos-lhe
“Cuco da beira,
Cuco da beira-mar,
Quantos anos faltam
Para eu me casar?” –
O cuco resolveu responder
cu-cu cu-cu cu-cu cu-cu…
Contaste, filha?
Oh, não!
Então ficaste sem saber.
O quê?
Quantos faltam para te casares.
Zé Onofre