Vitória
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Era uma vez uma menina.
Era uma vez uma vaca.
Vitória era o nome da menina.
Malhada se chamava a vaca.
No verão Vitória levava
A vaca para o campo pastar.
A malhada no campo ficava
Até a Vitória a ir buscar.
Um dia Malhada, a vaca,
Parece estar ainda travada.
A cada momento estaca.
Vitória, a menina, fica arreliada.
Vamos, Malhada, vaca bela.
Mexe-te, que moleza é essa?
Dizia a Vitória, chegando-se a ela.
Move as pernas mais depressa.
A Malhada parecia não ouvir,
Continuava a passos lentos.
A Vitória já cansada de pedir,
Passou a termos mais violentos.
Olha que barriga, vaca gulosa,
Comeste tanto, pesa-te a bandulho.
Deixas de andar vagarosa,
Ou ‘inda levas de estadulho.
Malhada, a vaca, olhava a menina,
Que nunca assim a maltratara,
Parecendo dizer em voz pequenina
Hoje nada comi, coisa bem rara.
Como era de esperar a noite crescera.
Arrasta-se mal, Malhada, a vaca,
Vitória, a menina, já desespera.
Agora a vaca virou uma estaca.
Estavam assim as duas paradas,
E lá do fundo do uma voz acesa.
Eh rapariga, que fazeis a aí pasmadas,
Mexe-te qu’a ceia está na mesa.
A Vitória a culpa não é minha,
É desta barriguda que parou de repente.
Até a agora devagarinho, mas vinha.
Agora nem p’ra trás nem p’rá frente.
O avô, que era dele a voz manda
A neta ir indo, que depois vai lá ter.
Vitória num segundo desanda
E diz avô, espero por si ao amanhecer.
A espera não foi assim tanta, tanta,
Mas era noite alta quando chegou.
Chamou a neta como quem canta.
Anda cá ver que bem a vaca andou.
A Vitória curiosa desce a correr
Vai à corte da Malhada espreitar.
Nem acreditou no que estava a ver
Um bezerrinho na vaca a mamar.
Triste de lhe ter chamado gulosa,
barriguda nervosa pela noite que caía
Chega-se à vaca, que está vaidosa
Desculpa, Malhada, eu não sabia.
Zé Onofre