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Notas à margem

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Notas à margem

24
Fev23

Rebusco 28

Zé Onofre

            28

 

SD, Aboim, AMT

 

Vais, então, falar-me

Da Mónica e do Nuno desconhecidos

E não queres saber que o meu irmão,

Me estragou um brinquedo dos mais queridos?

 

Vais falar-me de uma bola,

De um boneco e de um pato?

Sequer te passa pela tola

Que todos os dias vou cortar mato,

 

Com o meu pai logo de manhã cedo

Sonolento no carro de bois com a canção

Das rodas que espantam o passaredo,

Que por sua vez me despertam.

 

Contas-me de fadas que voam à lua,

E também de duendes. Isso, nada me diz.

Gostava de te falar daquele dia na rua

Onde caí com estrondo e o sangue no nariz.

 

Dizes-me de um cavalinho sonhador

Preso a um carrossel que só tu sabes.

Há tantas coisas que calo com dor

Para que tu fales, fales, fales, …

   Zé Onofre

21
Fev23

Histórias de A a Z para aprender a ler e escrever - Livro II - O colar de oiro

Zé Onofre

O colar de oiro

 

Oitavo,

Que nome arrevesado,

Diziam-lhe os amigos.

Onde o foste achar?

Sei lá,

Sou Oitavo,

Ponto.

 

Era mesmo resposta à Oitavo,

Resolvido,

Decidido.

Sempre pronto para a brincadeira,

Levar a vida com afinco,

Ou entrar na maior asneira.

 

Bom filho,

Bom amigo,

Bom companheiro,

Digo mais?

Digo.

 

Tanto se dava bem na algazarra,

Como na quietude da Igreja.

Na correria dos recreios,

Campos,

Nas encostas dos outeiros,

Como sentado frente ao computador,

A estudar com um ar sério,

Ou a jogar

Jogos de aventura e mistério

 

Ora uma tarde,

Estava tão concentrado,

Tão quieto,

Tão calado

Que já nem ele sabia

Onde se encontrava.

Se estava a jogar

“O colar de oiro”

Ou se era, um outro alguém,

Que jogava

“Oitavo e o colar de oiro”.

O COLAR DE OIRO.jpg

Neste momento

Está tão em pânico.

Ideia mais maluca aquela,

De se meter na aventura

De ir procurar

Na Clareira da Floresta

O colar de oiro.

Quem o faria

Sabendo os perigos,

Que no bosque havia?

 

Crocitavam os corvos

No alto das copas mais altas.

Rastejavam as serpentes,

Pelo musgo,

Fintando os arbustos florescentes.

Raposas seguiam-lhe os passos,

Lobos uivavam ao longe.

Insetos desenhavam traços,

Nos seus olhos, cegavam-no.

Outros, trombeteavam-lhe

Deixando os seus ouvidos

Surdos,

Em sangue feridos,

 

Assim, neste pânico,

Cai na Clareira da Floresta,

Onde dizem havia

Um colar de oiro,

Numa fenda desconhecida,

Que tinha como guardiões,

Dizia quem já lá tinha ido,

Muitos e ferozes escorpiões.

 

Nos seus olhos 

Como tela de um filme

Corre uma legenda sonora,

Coisa estranha de se ver,

De tal modo que não sabia

Se estava a ler,

Ou simplesmente ouvia.

 

Oitavo, Oitavo,

Presta atenção.

O vento norte vai soprar forte,

Pondo à tua frente uma folha

Fugidia

Que te levará ao Colar de oiro

Como tua guia.

 

Oitavo assim procedeu

Encontrou a bendita fenda

Com a pressa esqueceu

Que lá dentro havia

Terríveis escorpiões.

Meteu a mão

Tirou-a aos sacalões

Como se a dita

Tivesse vida própria.

 

Oitavo sente

O colar de oiro 

Que lhe desliza pelas mãos.

Vai a cair,

Segura-o com a outra mão.

Não seria agora,

Que com perigo o tinha encontrado

O iria deixar para outro

Na clareira abandonado.

 

Estava neste agarra

Deixa cair

Ouve-se um estalo.

Ao terrível estrondo

Segue-se um abalo.

A clareira desapareceu

Oitavo estava sentado

Frente ao computador.

 

Da porta uma voz,

Vamos jantar,

O pai que chama.

Foi assim que acabou

A aventura de Oitavo

Em busca de

O colar de oiro.

   Zé Onofre

 

18
Fev23

Rebusco 26

Zé Onofre

               26

 

098/05/05

 

Era uma vez uma nota.

Andava fugida,

Nunca era apanhada no sítio certo.

Nunca ninguém soube

A que casa ela pertencia.

Saltava daqui

Ia para ali

De repente estava acolá.

Era o desatino de todos os músicos.

 

Um certo músico,

Mais persistente

Que a fugitiva nota,

Decidiu no seu íntimo

Domesticar a vadia.

 

Sentou-se à mesa

Onde treinava

O aprisionamento das notas.

Umas notas

Estavam no isolamento.

Outras emparelhadas.

 

Era uma cadeia multigénero,

Cabiam lá as notas, as mais diferentes.

Umas com rabos-de-cavalo,

Com um ou vários totós,

Outras de pernas para o ar.

Eretas,

Pretas retintas.

Algumas

Bolas de sabão,

Onde a luz ao passar

Soltava arcos-íris.

 

Estava decidido a cativar a fugitiva.

Porém, a espertinha usando de manha

Ora descia planando silenciosa,

Ora sapateava no teto

Onde se refugiava.

 

Ah maldita nota vadia,

Não haverá pauta que te sirva?

Trombeteava o músico,

Já quase vencido.

Teve, então, uma ideia de génio,

Que apenas os génios da música têm.

Se não te posso agarrar,

Posso ao menos registar

O teu rasto.

 

Pensou-o e fê-lo.

Durante um tempo longo,

Foi notando o seu rasto.

No fim tinha a nota no seu lugar.

No final,

Tinha escrito a mais bela sinfonia,

Que algum dia fora escrita.

    Zé Onofre

17
Fev23

Rebusco 23, 24, 25

Zé Onofre

               23

 

092/07/08, Porto

 

Somos professores,

Não somos missionários,

Somos seres humanos.

Somos professores, apenas.

 

               24

 

092/07/08, Porto

 

Até que ponto

A transformação da “cultura”

Num bem de consumo,

A desvaloriza,

E a assassina?

 

               25

 

092/07/08, Porto

 

Até que ponto

O insucesso escolar

Decorre da massificação do ensino.

Não será

Que se confundiu massificação

Por democratização?

   Zé Onofre

16
Fev23

Rebusco 22

Zé Onofre

                   22

 

092//07/08, Porto

 

 Se aqui estou,

É porque sou inquieto

Em movimento.

Pelo menos,

Atento ao movimento dos outros.

           

Se aqui estou

É porque tenho um passado

De procurar

Um rumo de futuro.

 

Se aqui estou

É porque sentia

Que o que tinha

Já era pouco.

 

Se aqui fico

É certamente

Porque continuo à procura

De um rumo,

De um futuro melhor para mim,

Para as crianças que me são confiadas.

 

Se, por acaso,

Um dia partir,

De certeza não será desistência,

É porque tentarei

Chegar mais além.

 

Se, por acaso,

Um dia partir,

É porque acredito

Que não há um só caminho,

Uma só verdade,

Uma só vida.

   Zé Onofre

16
Fev23

Que Viva Spartacus 38

Zé Onofre

A uma ave da madrugada que veio cantar ao meu canto e para o encantar

Boa noite 
Já tinha estranhado o atraso na sua resposta.
Mas pelos vistos aconteceu-lhe o mesmo que a mim. A minha resposta ao seu comentário, apesar de ser no meu próprio espaço, teve que ser bastante cortada para ser aceite. Já me tinha acontecido a comentar outros autores, e não levava a mal, ninguém está obrigado a ler os meus testamentos. Agora porem-me entrave a entrar em minha própria casa, estranhei, “Mistérios da Meia-noite”.
Vamos então falar sobre Democracia.
Sobre a Democracia Ateniense.
https://todaamateria.com.br

Democracia Ateniense, por Juliana Bezerra, professora de história

A Democracia Ateniense foi um regime político criado e adotado em Atenas, no período da Grécia Antiga.
[…]

De tal maneira, por volta de 510 a.C. a democracia surge em Atenas através da vitória do político aristocrata grego Clístenes. Considerado o "Pai da Democracia", ele liderou uma revolta popular contra o último tirano grego, Hípias, que governou entre 527 a.C. e 510 a.C.
[…]
Atenas possuía uma democracia direta, onde todos os cidadãos atenienses participavam diretamente das questões políticas da polis.
[…]
Clístenes adotou o “ostracismo”, onde os cidadãos que demostrassem ameaças ao regime democrático sofreriam um exílio de 10 anos.
[…]
os demais cidadãos livres maiores de 18 anos e nascidos em Atenas poderiam participar das Assembleias (Eclésia ou Assembleia do Povo), embora as mulheres, estrangeiros (metecos) e escravos estavam excluídos.
Diante disso, podemos intuir que a democracia ateniense não era para todos os cidadãos sendo, portanto, limitada, excludente e elitista. Estima-se que somente 10% da população desfrutavam dos direitos democráticos.

Como podemos verificar a tão cantada Democracia Ateniense era uma democracia para uma minoria muito pequena.

Mas vou deixar aquela Atenas lá onde repousa há milhares de anos para nos aproximarmos de uma Democracia – A Democracia como Modelo – a dos EUA.
Da guerra da independência das Colónias Britânicas na América do Norte (assim chamado pelo colonizador Europeu) resultou um novo Estado, República, que se regia por uma constituição Democrática.
DNwww.diretnet/.com.br
“Preâmbulo
Nós, o Povo dos Estados Unidos, a fim de formar uma União mais perfeita, estabelecer a Justiça, assegurar a Tranquilidade doméstica, prover a defesa comum, promover o Bem-Estar geral e assegurar as Bênçãos da Liberdade para nós mesmos e nossa Posteridade, ordenamos e estabelecemos esta Constituição para os Estados Unidos da América.

Leiamos quem era o Povo considerado na Constituição
Os homens
Os homens que pagassem impostos.

Portanto foi uma “Democracia” feita Pelos Ricos e para os Ricos.

DNwww.direitonet/.com.br.

Retrospectiva histórica do direito ao voto nos EUA, Por Bruno Fontenele Cabral

[…]
Posteriormente, em 1870, o direito de votar foi estendido aos negros com a vigência da 15ª Emenda à Constituição dos Estados Unidos. Essa emenda veio a garantir que “o direito de voto dos cidadãos dos Estados Unidos não poderia ser negado ou cerceado pelos Estados Unidos, nem por qualquer estado da federação, seja por motivo de raça, cor ou de prévio estado de servidão”.
[…]
a Constituição dos Estados Unidos somente veio a estender o direito de voto às mulheres em 1920 com a vigência da 19ª Emenda à Constituição, ao dispor que “o direito de voto dos cidadãos dos Estados Unidos não será negado ou cerceado em nenhum Estado em razão do sexo”.
[…]
ao direito de voto dos pobres,[…] esse direito somente veio a ser disciplinado na 24ª Emenda à Constituição dos Estados Unidos, datada de 1964, que estabeleceu que não pode ser negado ou cerceado pelos Estados Unidos ou qualquer dos estados o direito dos cidadãos de votar em qualquer eleição […]

Estas são as bases em que assenta a “Democracia” que tanto louvamos.
Nas suas origens Democracia de Ricos, para os Ricos e pelos Ricos.
Ainda não houve qualquer estado Democrático que tentasse acabar com as desigualdades abissais entre um Norte rico e um Sul miserável.
Ainda não houve um qualquer Estado Democrático que tentasse acabar com a diferença de rendimentos escandalosa entre os 10% mais ricos e os restantes.
Nem haverá qualquer Estado que assente nos pressupostos fundadores desta Democracia seja capaz de inverter o abismo que se alarga entre as duas Humanidades.
Voltando atrás ao esclarecimento que tentei dar às perguntas que me fazia no seu comentário, tenho a dizer o seguinte.
Governo Socialista, Governo Conservador, Governo Neo Liberal e Governo Nazi Fascista não são de modo algum iguais, o que eu afirmei e continuo a afirmar é que qualquer um desses Governos está ao serviço dos Ricos, pelos Ricos e para os Ricos.
Quanto à solução para alterar esta situação, penso que também fui claro – Apenas uma Revolução em que o motor da economia não seja o Lucro, mas o Bem-Estar de toda a Humanidade. Apenas uma revolução que acabe com a Exploração do Homem pelo Homem.
Não acredito que o poder que se esconde atrás daqueles tipos de Governo, algum dia o largue de mão beijada.
Esta é a minha opinião, fundamentada no processo histórico como demonstrei.
“Sei que sou uma minoria”, mas não será por isso que renunciarei ao que penso.
Também não será por isso que deixarei de respeitar a quem discorde de mim dentro da civilidade e da racionalidade.
Zé Onofre

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