Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Notas à margem

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Notas à margem

30
Mar23

Dia de hoje 92 (Desafio)

Zé Onofre

                  92

023/03/30

 

Desafio

 

Há quem faça profissão

D’atacar sem amizade

Quem ousou ter liberdade.

 

Há quem, felizmente, diga

Qu’a lut’é maternidade

Da paz e amor. Amiga

Do presente d’igualdade.

 Agradecer é inútil.

Preciso é a amizade,

Conservar a liberdade.

  Zé Onofre

28
Mar23

Comentário 310

Zé Onofre

                  310

               

023/03/---

 

 Sobre “fala-me um pouco de ti” por Maria Soares, em 17.03.23 no blog  https://silencios.blogs.sapo.pt

Quando o caminhante

Se confunde com o caminho;

Quando o caminhante cria o caminho

Pelo qual vai caminhar;

Quando o olhar

Não distingue o caminheiro,

Do caminho que sonho criou,

Ficamos sem saber

Se há um caminhante,

Distinto de nós,

Ou se somos nós 

Que deambulantes,

Caminhamos?

   Zé Onofre

26
Mar23

Histórias de A a Z para aprender a ler e escrever - Livro II - O tio Tiago

Zé Onofre

O tio Tiago

 

Tio Tiago

Assim era conhecido na vila.

Era tio de todos e de ninguém,

E mesmo Tiago seria o seu nome,

Mas certezas quem as tem.

 

Chegara um dia,

Vindo nem ele sabe de onde,

Ali ficara,

No vão daquela porta

Há muito já abandonada

Se tornara tio de todos.

 

Montou a sua oficina

Com todas as ferramentas.

As suas mãos fantasistas

E um canivete mágico.

Ao lado jaziam os materiais,

Pedaços de madeira,

Ranos e raízes.

 

Sentado manejava o canivete

Cortava,

Recortava,

Modelava,

Aparava

E a figura que se escondia

No interior da madeira, da raiz ou do ramo

Nas suas mãos delicadas surgia.

 

Nunca esculpia em segredo.

Havia sempre muitos pares de olhos,

Primeiro desconfiados,

Depois encantados

Com aquele homem

De cabeça branca,

Cabelos ondulantes até às costas,

Com mãos mágicas

Que de lixo da rua criava figuras deslumbrantes

A que só faltava o sopro da vida.

 

Para as crianças

O tio Tiago não era um homem.

Era o génio da madeira

Que os fazia ficar quietos,

Silenciosos,

O TIO TIAGO.jpg

Esquecidos dos pais,

Da casa,

Da escola,

Do destino que levavam,

Para verem surgir dum pedaço de madeira,

Condenado à fogueira,

Melros e estorninhos,

Pegas e gaios,

Pombas e rolas

E até patos selvagens,

Que, em vez de descerem ao rio,

Vinham poisar nas mãos do tio Tiago.

 

As aves voavam de mão em mão.

Da mão do tio Tiago,

Às mãos das crianças.

Ficava feliz a vê-las voar

Nas mãos alegres da garotada.

 

Algumas vezes

Apareciam moedas num cantinho.

Os pais das crianças sabiam

Que o tio Tiago nunca as aceitaria

Sabiam que para o tio Tiago

O que fazia não era trabalho,

Era a sua missão.

Encher de vida e alegria

Aquela porta abandonada,

A rua,

A Vila,

E as crianças que ele amava.

   Zé Onofre

25
Mar23

Comentários 309

Zé Onofre

                  309 

 

023/03/21

 

Sobre “E foi assim...há 30 anos!” por Isabel Silva, em 2023/03/17 no blog  https://imsilva.blogs.sapo.pt/

 

Quanto é belo dar vida ao futuro.

Iniciá-lo a partir das nossas entranhas.

Um novo futuro que nos faz sorrir.

Um futuro que exige a nossa proteção.

 

Um dia esse futuro ganhará asas,

Partirá para construir novo futuro

E quem o futuro lhe iniciou,

Limitar-se-á a vê-lo voar

Com o mesmo sorriso

Com que o fez chegar.

    Zé Onofre

24
Mar23

Que viva Spartacus 38

Zé Onofre

              38

 

023/03/24

 

Jovem,

Antes de decidires entrar nessa casa,

Pensa.

Ninguém nasceu

Para matar e ser morto

Em verdes planícies,

Em ondulados areais,

Em pacíficas aldeias,

Em montanhas,

Em perdido sertão,

Nas cidades,

Nas vilas.

Ninguém nasceu carne p’ra canhão.

Desiste,

Não queiras de soldado a sorte,

Isso não é modo de vida,

É, sim, modo de morte.

     Zé Onofre

23
Mar23

Dia de hoje 91 - Canto triste XVII

Zé Onofre

91

 

023/03/23

 

Canto triste XVII

 

 Há coisas difíceis de aceitar

Que tu, jovem, sem razão

Aceites, sem tentar perceber,

A missão de morrer e matar,

Dares-te em carne para canhão.

Tanta vida para não se viver

 

Que loucura é essa,

Que loucura é essa

Que trazes na cabeça

Que só te serve para morrer,

Que não te deixa viver.

Que loucura é essa, jovem,

Que loucura é essa, jovem,

Que serve a ambição de outros

Que para ti nada tem.

Que loucura é essa, jovem.

Que loucura é essa, jovem.

Que loucura é essa, jovem

 

Não me digas que não queres saber

Quando as mortes se sucedem,

Não me digas que não vês

Os mortos que se estendem

E o vermelho de sangue nas bermas da vida.

Não me digas que não queres saber.

  Zé Onofre

19
Mar23

Histórias de A a Z para aprender a ler e a escrever - Livro II - O reino do Sol-posto

Zé Onofre

O reino do sol-posto

Havia uma vez,
Contava o pai ao Paulo
Na hora de adormecer,
Uma formiguinha
Que todos os dias
De cada mês,
Subia ao alto da montanha
Para espreitar
O reino do Sol-posto.

Quando a formiguinha
Estava mesmo quase no cume,
No ponto de viragem
Paulo adormecia
Antes que a formiguinha
Terminasse a sua viagem.

Então, Paulo,
Continuava o caminho,
Interrompido, da heroína,
Alcançava o desejado cume
De onde se via
O sonhado
Reino do Sol-posto.

Lá estava ele
Com a terra forrada a prata,
O céu brilhava de ouro
E nos rios corriam diamantes.
Agora era só descer a encosta,
Entrar no reino do Sol-posto
E ser um herói brilhante.

OREINO DO SOL_POSTO.jpg

Era só,
Não fora a mata
Com os seus tojos gigantes,
Giestas venenosas,
Codessos falantes
Que encantavam qualquer um.
Para além destas dificuldades,
Havia os lobos e as raposas,
As serpentes,
Os enormes lagartos verdes.

Por fim havia que vencer
O feiticeiro Aziago
Com os seus feitiços
De espelhos e espelhinhos,
Vidros e vidrinhos
Que enredavam os caminhos,
Trocavam os passos aos incautos
Que ali se atreviam a entrar.

Nada o impediu no seu andar,
Torneou todas as dificuldades.
Paulo conseguiu entrar
No reino do Sol-posto.
Pela mão do feiticeiro da Sorte
Conseguiu pisar o chão de prata,
Apreciar o céu de ouro,
Banhar-se nas correntes de diamantes.
Encostado ao peito do feiticeiro da Sorte
Paulo dormiu descansado
No reino do Sol-posto.

    Zé Onofre

18
Mar23

Comentário 308

Zé Onofre

                  308 

023/03/18

Sobre “Incertezas” por Maria Neves, no blog https://mluciadneves.blogs.sapo.pt

Olho a imagem,
Uma paisagem
De céu e terra,
Com dúvidas no olhar.
Fico inseguro
Só de duvidar.

Olho a imagem
Pergunto-me,
Não só por me perguntar,
Que é que os meus olhos
Estão a olhar?

Olho a imagem
- É o orbe celeste que se derrama sobre a Terra?
- É a Terra que se eleva para além das nuvens,
Que no firmamento se desterra?

    Zé Onofre

16
Mar23

Comentário 307

Zé Onofre

                   307            

023/03/16

 Sobre A Ti, Sandra, em 12.02.23 https://cronicassilabasasolta.blogs.sapo.pt/

Que sombras se esconderão

Numa paisagem colorida a verde-cinza

Onde a luz é difusa,

Mais ocultando

Que revelando?

 

Que vislumbre terá

Quem fixa o olhar

Naquela névoa?

O futuro que se sonha?

A nostalgia do passado?

Ou o presente que se questiona?

 

Será que uns olhos,

Para lá do manto translúcido,

Vigiam e seguem os nossos passos?

Será que em algum momento,

Aquele véu se romperá

E porá frente a frente

Dois seres que se pressentem,

Ou com o outro eu

Que projetamos para o desconhecido?

     Zé Onofre

Pág. 1/2