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Notas à margem

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Notas à margem

27
Abr23

Comentário 315

Zé Onofre

                  315 

023/04/27

Sobre (In)consciência de Maria Soares em 12.04.23, no blog https://narrativas.blogs.sapo.pt/

 

Ao lusco-fusco,
Na despedida ao sol,
O escuro vai nascendo
E com ele vem o mistério.

Mistério,
Chamamento imperativo
À introspeção.
Ao sonhar acordado
À luz das estrelas,
Ou do luar,
Ou sob um cinzento leve,
Ou pesado como chumbo.

É esse imperativo
Que nos transporta
Até paragens inimagináveis
E que de manso
Nos vai fechando os olhos.

       Zé Onofre

26
Abr23

Histórias de A a Z para aprender a ler e escrever - Livro II - Primeira vez

Zé Onofre

Primeira vez

 

Quantas vezes,

Cátia,

Sentada nos bancos da estação,

Sonhou entrar no comboio.

 

Desde que se lembrava

Via-os passar,

Ouvia o seu cantar lento,

Mas ritmado,

Pouca-terra, pouca-terra.

 

Via-os chegar à estação,

Cansado a arfar,

Suado e sequioso

Refrescar-se e beber,

A goles enormes,

Água fresca.

 

Pois aquele

Era o dia dos seus sonhos.

Cátia iria com a mãe,

Visitar a tia Maria,

Ao Porto,

De comboio.

 

Durante a viagem,

Os seus sentidos dispersavam-se

Entre o bambolear da carruagem,

As árvores que fugiam

Dos seus olhos,

Os sons da máquina

Pouca-terra, pouca-terra,

As rodas a chiarem nas paragens,

O matraquear das rodas nos carris.

 

Nos intervalos

Massacrava a mãe com perguntas.

Ainda falta muito?

Como é o Porto?

Tem campos de milho?

E riachos como o da nossa casa?

Como são as casas do Porto?

A casa da tia é como a nossa?

 

Para bem da paciência da mãe,

A máquina estafada

Resfolegou uma última vez.

Desceram e seguiram

As dezenas de pessoas,

Que apressadas,

Se dirigiam à porta de saída,

Onde um homem de farda castanha,

Via os bilhetes.

 

A tia esperava-as de fora

E conduziu-as até à rua.

Cátia não acreditava,

Não queria acreditar,

No que os seus olhos viam.

Casas mais altas do que pinheiros,

De braço dado umas às outras,

Ladeavam um leito,

Onde não corria água,

Mas carros,

Uns para cima, outros para baixo.

 

Não tinha acordado, ainda,

Deste seu espanto

Quando um comboiozinho amarelo

Descia por entre as pessoas e os carros

Parecendo vir para cima dela.

Com o susto saltou para o lado

No momento em que mudava de direção,

O comboiozinho.

 

Tia,

 Aqui no Porto

Os comboios andam

Por entre as pessoas e os carros?

Não,

Minha tontinha,

Aquilo não é um comboio,

É um carro elétrico.

Eu explico-te.

É uma espécie de camionete,

Que anda em cima de carris

E é movido a eletricidade.

 

Para completar

A alegria surpresa

A tia levou a Cátia

No carro elétrico.

25
Abr23

Das Eras Parte V 29

Zé Onofre

              29

 

023/04/25

 

De ti

Sinto um amargor,

Coisa que resta

Da bebedeira de alegria

Que a mais bebi

No dia em que nasceste flor.

 

De ti

Sinto o ruir da ilusão

Coisa que também resta,

Daquela grande chama

Que naquele dia irrompeu

Como fogo na floresta.

 

De ti

A minha cegueira

Deixou-me enxergar

O que não eras

Evitou que visse o que eras,

Apenas um golpe militar.

 

De ti,

Sinto que abriste portas,  

Mas, se em vão não as abriste,

Há quem as venha fechando.

Por cada uma que fecham

De novo criam um povo triste.

 

De ti

Resta também uma certeza,

Que não destruirão,

Por mais que tentem.

O chão está lavrado

À espera de nova sementeira

Que num outro Abril florirão.

   Zé Onofre

21
Abr23

Das Eras - Parte VI 35

Zé Onofre

                  35

 

023/04/21

 

Anda por cá muito coração duro

Cuja saudade do passado não resiste

A acusar quem, num gesto puro,

Levantou das trevas um povo triste.

 

Alguns, para se moverem à vontade,

Num terreno que nunca foi seu,

Dizem defenderem a Liberdade,

Apenas detestam quem para ela viveu.

 

Outros, que agora se sentem seguros,

Para extravasarem o ódio contido,

Nos anos em que viveram no escuro,

Defendem a democracia do tempo ido.

 

É esta gente (que ajudamos a acordar

Da noite escura onde subsistiu, 

E a demagogia ajuda a engordar)

Que fechará as “portas que Abril abriu”.

   Zé Onofre

20
Abr23

Que viva Spartacus 40

Zé Onofre

                   40

 

023/04/20

 

Onde andas, Spartacus,

Que não vês,

Que não ouves,

Na arena aberta

Os teus camaradas gladiadores

Gritarem, já sem pulmões,

As atrocidades, os horrores,

A que os seus treinadores os sujeitam?

 

Onde andas, Spartacus,

Que no solo sangrento

Ninguém te ouve

Chamar os gladiadores

À revolta, ao levantamento?

 

Onde andas, Spartacus,

Que vês os teus camaradas

Morrerem entre vales e colinas,

Não por "balas trespassado

Duas de lado a lado”,

Mas deixando o corpo aos bocados,

Em planícies ensanguentadas,

Restos de carne dada aos canhões?

Enquanto os Césares de todo o mundo,

Nas suas tribunas imperiais,

Lustram os seus milhões.

    Zé Onofre

19
Abr23

Comentário 314

Zé Onofre

                  314

023/04/17

Sobre Los Angeles, por Cotovia (MC ) em 16 ABR23, no blog https://cotoviaecompanhia.blogs.sapo.pt/

 

Acreditar,
Todos acreditamos em algo
Real,
Quanto a realidade o pode ser,
Transcendente,
Quanto transcendência possa haver.

Tenho uma crença
No Ser Humano
Tão efémera e frágil
Como é a Humanidade.
É uma centelha
Que A acompanha
Desde o berço profundo
Em terras de África,
E A seguirá até às estrelas,
Ou mais além.

É uma crença certamente vã
Como poderá ser outra qualquer.
Mas sem uma crença
Vã seria a vida.

  Zé Onofre

17
Abr23

Comentários 313

Zé Onofre

                   313 

 

023/04/17

 

Sobre Terra inspiradora!.., mcegonha, em 02/ABR23, no blog https://mcegonha.blogs.sapo.pt/

 

Voamos porque somos,

Ou voamos porque temos?

O voar para além da realidade,

Mais longe que o pensamento,

Deixarmo-nos ir sem medo,

Soltarmo-nos nos ventos

É dado apenas

A quem é, por ser,

E não querer ser o que tem.

 

Se somos para ser o que temos

Viveremos uma vida de segredo,

Mostrar o que não somos

Cheios de medo

Que descubram,

Mais tarde ou mais cedo,

Que são apenas um nada

Repleto de teres.

 

O mais fácil,

Neste mundo de labirínticas aparências,

É atropelar e ser atropelado,

Pela ânsia de espezinhar tudo e todos

Para chegarmos ao cume.

 

É este o ensino

Que nos é constantemente martelado,

Nas escolas,

Nos meios de comunicação social.

Quem não tem suces$o

É um falhado,

Um pária, que não merece viver,

Que pelo ato simples de respirar,

Para os outros é já um tropeço.

     Zé Onofre

15
Abr23

Histórias de A a Z para aprender a ler e escrever - Livro II - Viagem ao Luar

Zé Onofre

Viagem ao luar

 

Há quem diga,

Com verdade, ou fantasia,

Que as noites de luar,

São repletas de magia.

 

Daniel, disso, nada sabia.

Uma noite, profundamente

Adormecido, em noite luarenta,

Uma voz chamou-o suavemente.

 

Esfregou os olhos e os ouvidos,

Olhou e escutou em redor.

Não viu pai, nem mãe,

Nem o mano menor.

 

Virou-se para adormecer.

Uma voz doce veio da janela

E de novo chamou o Daniel.

Quem teria uma voz como aquela?

 

Levantou-se com decisão.

Não aguentava a ansiedade.

Estava agora decidido

A descobrir a verdade.

 

Afastou um pouco a cortina.

Encostada ao vidro, uma bela

Uma flor chamava-o para a noite.

Era uma grande dália amarela.

 

Daniel, como que hipnotizado,

Abriu a janela e logo saltou

Para o caule curvo da dália.

E a dália como uma águia voou.

 

Onde vamos, ó minha dália,

Perguntou o Daniel. Sei lá eu,

A dália replicou. Sou só boleia,

Daniel. És o condutor o destino é teu.

 

Passaram o largo da igreja. A torre

Sobre o casario estava de atalaia,

Ao passar pelo cume do monte agreste,

Daniel decidiu. Dália, vamos à praia.

VIAGEM AO LUAR.jpg

 

A dália levou-o sobre rios, montes

E vales, vilas e uma grande cidade

E lá ao longe um espelho líquido

Onde o luar ganhava intensidade.

 

Daniel estava tão encantado,

Com o que nunca pensou ver.

Dália a viagem foi muito linda,

Mas o sol está para nascer.

 

A dália deixou-o num instante em casa.

Daniel não se demorou a deitar.

A sua mãe já não demoraria

A dar-lhe um beijo para o acordar.

 

A caminho da escola passou a mão

Pela dália. – Daniel deixa-te de ternuras.

- Dália, não fiques triste, a minha mãe

Não sabe das nossas aventuras.

   Zé Onofre

13
Abr23

Dia de hoje 94

Zé Onofre

                  94

 023/04/13

                               Canto triste XVIII

 Venham ventos, venham facas,

Que cortem esta desventura

Nascida de  políticas fracas

Que apenas trazem amargura.

 

Se ainda houver coração

Que reacenda a chama da vida

Pode ser que de novo a união

Não se deixe mais ser vencida.

 

Venha um sopro ainda que leve

Fazer de uma brasa perdida

Uma chama viva e alegre

Que dê razão a esta vida.

    Zé Onofre

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