Histórias de A a Z para aprender a ler e escrever - Livro II - Olavo, viajante das estrelas
Olavo, viajante das estrelas
Numa espécie de torre,
Erguida num canto de um terreiro
(Ou poder-se-á chamar-lhe jardim?)
Encimada por um andar envidraçado
Passava os dias o senhor José
Entre canudos
Grandes e pequenos,
Finos e largos.
A criançada passava para a escola,
Onde o velho professor os esperava
Para mais um dia de saber
Arrancado a cantigas
Acompanhado com solos de tamboretes
E melodia de foguetadas de lágrimas
E o senhor José lá estava
Sentado à sua mesa.
No regresso das aulas,
Um rapazinho, mais curioso do que os colegas,
Ficava como que encantado,
Paralisado com o olhar fixo
Naquelas paredes de vidro
Onde uma cabeça branca
Rabiscava horas a fio.
Às vezes esquecia-se das horas,
Do pai, da mãe, dos irmãos,
Deixava- se ficar.
Apenas acordava do encanto,
Quando o pai,
Acostumado às distrações do filho,
O chamava com um sorriso.
Porém, uma noite o pai de Olavo,
Assim se chamava o curioso,
Chegou tarde para o buscar.
Já o senhor José
O havia levado para a sala dos mistérios
E lhe enfiara um dos óculos,
Assim se chamavam os canudos,
Nos olhos
Orientando o seu olhar.
Aponte o óculo para longe,
Não, para a igreja não,
Ainda mais longe,
Mais além que a Senhora da Graça,
Que tal para o ponto mais alto da serra?
Olha, o sineiro a tocar o sino
Até parece que está aqui.
Agora, agora é o taxista
A descer o monte pelo meio da estrada,
Seguido por uma nuvem de poeira.
Olhou para a serra além do rio,
Nos vales verdes junto aos ribeiros
Lavradores chamam os bois
Que puxam os arados e as grades.
Mais acima encostado a um cajado,
Um pastor aparece mesmo ali
Com as ovelhas a entrar pelo óculo dentro.
Agora são horas de ires, Olavo.
O teu pai já está desesperado
Por não te encontrar.
Quando quiseres aparece
Numa noite sem luar e estrelada.
Alguém que te traga.
Então sim, Olavo,
Verás belezas de cegar os olhos.
Vai,
Não te esqueças do combinado,
Gritou-lhe do alto da escada.
Foi assim que numa noite estrelada
O senhor José ouviu os travões de um carro
Parar ao portão do terreiro-jardim.
Veio esperá-los
E conduziu-os diretamente
À sala de vidro,
Pomposamente chamada “observatório”.
O Olavo curioso olhou pelo óculo,
Apontou-o ao céu.
Parecia um louco,
De braços a dar a dar
Como se quisesse colher as estrelas.
Imaginava-se pendurado na estrela polar,
De lá saltava para Oríon,
Da cassiopeia fazia uma montanha russa,
Quando deu conta
Estava para além do céu conhecido.
Zé Onofre