Por aqui e por ali 62
62
sd
A sombra da noite
A noite cai. Não se ouve qualquer estrondo porque é silenciosa, como silenciosos são os passos que não se ouvem na noite silenciosa.
A noite cai. Num dia longínquo do nosso passado cai a noite roçagante de sedas maviosas e perfumes que nos inebriam, como inebriantes foram os folguedos do dia.
A noite cai. Silenciosa. Escura. Triste.
A noite cai, em silêncios de palmas de mãos abertas.
A noite cai, como pedras provindas do desconhecido, como sonhos que sonharam alvorecer.
A noite cai. Cai.
A noite cai. Cai sem a promessa de esperanças de um novo dia.
A noite cai definitiva.
A noite cai.
Na noite que cai é a sombra que se levanta.
A sombra e os pesadelos.
A sombra e os pesadelos levantam-se como adamastores
No solilóquio que transparece na solidão e frieza destas horas.
A sombra sem esperança de luz.
A sombra sem esperança de seja o que for.
Zé Onofre