Souto 17
17
25/11/974
I
Procuro-me incansável
Por entre os factos do dia-a-dia
E encontro
Sempre a mesma imagem desamparada.
Procuro-me insistentemente
No espelho do que fiz
Derrotas e humilhações
E vejo-me pessimista.
Prendo-me ao passado,
Cadeia que me enreda
Em algumas certezas,
Muitas incertezas,
E vejo
Um ser melancólico.
II
Cada lágrima é uma lápide
A cada glória desperdiçada.
Olho,
Vejo-me cheio de raiva
Pelos factos que me mostro
E que jamais fiz.
Entretanto
Os outros não me veem
Como imagem falsificada
De mim próprio.
Quando no meu quarto,
Tendo-me como companhia única,
Sinto em mim um desistente
Incapaz de desistir
Por inércia
E na esperança
Que novas forças
Me venham arrancar
A este torpe,
Estéril,
Inútil,
Viver
Zé Onofre