Souto 38 (Encontros, fantasias, ilusões e enganos)
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Já não há cantares passeios,
Já não há vossa companhia,
Já não há os ternos enleios,
Já não há na noite alegria.
Recordando procuramos ver,
Na alegria que nos deste,
Se no fundo do nosso ser
Há algo, ainda, que reste.
Com mágoa forçados a dizer,
Zé, São e Céu, verdade agreste:
Já não há cantares passeios.
Há ainda uma ilusão que alumia
A vida que agora triste é.
A alma vive-a e cria-a
E acarinha-a com fé.
Sabendo tudo fantasia
Acordando dizemos: Zé
Já não há a tua companhia
Criada com grande receio
A ilusão, que em nós nasceu,
Tem a saudade como esteio.
Quando dizemos “não morreu”
Um frio corta-nos a meio.
É com dó que dizemos: Céu
Já não há os ternos enleios.
Que venha o vento, desolação,
Que venha dor à porfia.
Se perdemos toda a alegria
Não importa a solidão.
E entre as trevas, à revelia,
Se ouve um último grito: São
Já não há na noite alegria!
Zé Onofre