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Notas à margem

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Notas à margem

02
Jul21

Souto 4

Zé Onofre

4

04/07/972

É noite.

Noite e solidão.

Nada de novo,

Sem movimento

Tudo estagnado.

Quero ritmo,

De loucura,

De amor,

Ou de paz.

Quero ritmo

Sem angústias,

Ou lamentações,

Sem tristezas.

Cansado de escrever palavras

Que vão,

Que veem,

Que em círculo fechado rodam.

Palavras

Que vão,

Que veem

Condenadas a carregar

Uma carga,

Eternamente

À procura

Da estabilidade.

Criar ritmos novos

Que me levem

Desta solidão,

Das recordações

Que me impedem de criar futuros impossíveis,

De fugir deste inferno,

De “quem não encontra a vida,

Achará apenas a morte”.

Estou cansado

De curtos circuitos,

Círculos de fogo,

Que me encurralam

Nas prisões do passado,

Queimam

As passagens, para o futuro.

Quero novos ritmos,

Que sejam de indiferença,

De hinos execráveis,

De palavras sem sentido,

Mas que levem a caminhos diferentes.

Quero novos ritmos,

Que só na aparência

Sejam de alegria,

Que de amor

Sejam só palavras,

De amor,

Apenas gritos ao vento.

E se voltasse aos meus castelos,

São de cartas,

Sejam de cartas.

São de areia,

Sejam de areia.

Desfazem-se à mais fina aragem,

Pois que se desfaçam,

Em aves de papel

Em figuras de pó.

Quero regressar ao meu jardim

De onde tudo

Me roubaram,

Onde me perdi.

Num caminho longo,

Num caminho curto,

Ou por veredas desconhecidas.

Percursos vividos sem norte,

Em passos desatinados,

À deriva do tempo,

À deriva no espaço.

Quero partir esta solidão,

Cortar os laços com que amarrei,

O meu próprio rumo.

Quero despedaçar

A rede que teci

Em que me enredei.

Fugir.

Mais uma vez fugir?

  Zé Onofre

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