Souto 4
4
04/07/972
É noite.
Noite e solidão.
Nada de novo,
Sem movimento
Tudo estagnado.
Quero ritmo,
De loucura,
De amor,
Ou de paz.
Quero ritmo
Sem angústias,
Ou lamentações,
Sem tristezas.
Cansado de escrever palavras
Que vão,
Que veem,
Que em círculo fechado rodam.
Palavras
Que vão,
Que veem
Condenadas a carregar
Uma carga,
Eternamente
À procura
Da estabilidade.
Criar ritmos novos
Que me levem
Desta solidão,
Das recordações
Que me impedem de criar futuros impossíveis,
De fugir deste inferno,
De “quem não encontra a vida,
Achará apenas a morte”.
Estou cansado
De curtos circuitos,
Círculos de fogo,
Que me encurralam
Nas prisões do passado,
Queimam
As passagens, para o futuro.
Quero novos ritmos,
Que sejam de indiferença,
De hinos execráveis,
De palavras sem sentido,
Mas que levem a caminhos diferentes.
Quero novos ritmos,
Que só na aparência
Sejam de alegria,
Que de amor
Sejam só palavras,
De amor,
Apenas gritos ao vento.
E se voltasse aos meus castelos,
São de cartas,
Sejam de cartas.
São de areia,
Sejam de areia.
Desfazem-se à mais fina aragem,
Pois que se desfaçam,
Em aves de papel
Em figuras de pó.
Quero regressar ao meu jardim
De onde tudo
Me roubaram,
Onde me perdi.
Num caminho longo,
Num caminho curto,
Ou por veredas desconhecidas.
Percursos vividos sem norte,
Em passos desatinados,
À deriva do tempo,
À deriva no espaço.
Quero partir esta solidão,
Cortar os laços com que amarrei,
O meu próprio rumo.
Quero despedaçar
A rede que teci
Em que me enredei.
Fugir.
Mais uma vez fugir?
Zé Onofre