história para aprender a ler er eswcrever - Livro I - Gato falante
Gato falante
Um dia a minha amiga Gorete
Contava com palavras sérias,
Daquelas que não aceitam dúvidas,
Que ia um dia para casa,
Só, pelo caminho do costume,
Quando viu, no meio da erva verde,
Uma bola branca e amarela.
Parou um momento, para respirar,
E continuo ainda mais séria.
Preparava-me eu para lhe dar um chuto.
Fiz-lhe ar com o pé,
Pois errei o alvo,
E lá do meio do manto verde
Uma voz diz
Má-má, má má …
Outra pausa.
Desta vez a Gorete
Tinha-se engasgado com a emoção.
Aninhei-me,
Peguei naquela coisa branca e amarela.
Fui surpreendida por uns olhos verdes
Piscos
Que me saltaram para o colo
A dizer.
– Que bom, que bom.
Com a boca aberta,
Para libertar o espanto,
Pensei para mim mesma.
– É um gato falante.
Mais uma pausa,
Como se esperasse uma réplica
De nós, seus ouvintes,
Como nenhum de nós se atreveu,
Continuou, como se falasse com o gato.
– Eu levo-te ao colo,
Até ficava contigo,
Mas, para tristeza minha,
E azar teu
O meu pai não acha piada
A animais lá por casa.
Mais uns instantes de silêncio,
Parecia que se tinha perdido
E não sabia como continuar.
Foi então que naquele instante
Me surgiu uma leve esperança.
– Talvez o meu pai te aceite,
Visto que és um gato falante.
Vamos lá dar às pernas
E acabar com esta agonia.
Naquele momento em que parou,
Para depois continuar,
Parecia que ouvíamos
As suas pernas a correr
E o seu coração palpitar.
Cheguei a casa
Ia bater à porta
Porém, como que por magia,
A porta abriu-se.
Atrás dela o meu pai,
Que nem um beijo me deu.
Olhou para o meu colo.
– Isso é um gato!
Parou mais uma vez.
Víamo-la frente ao pai
A tremer sem saber o que dizer.
Uns segundos depois, em sua defesa.
– Claro que é um gato,
Bem um gato não, um gatito
que aos outros não é igual.
Digo-lhe desde já,
Que é um gato falante.
Calou-se.
Ouvíamos o pai pensar
Enquanto tomava uma decisão.
Baixou-se
Para me dar um beijo e um abraço,
Disse-me segredando.
– Se é assim um gato tão maravilhoso,
Que como os homens sabe falar
Entra lá com ele.
Ouve, pareceu-me miar.
A comoção
Deveria ter sido tanta
Que ao contar-nos este passo
Quase desmaiou.
Sabem o que aconteceu.
O gatito saltou-lhe para o colo
E como se fossem velhos conhecidos,
Enrolou-se como uma bola,
Branca e amarela, já vos tinha dito,
E começou
Ai que bom, ai que bom, …
Calou-se longamente.
Pensamos que tinha acabado,
Íamos começar a desandar.
Engano nosso
A Gorete tinha algo a acrescentar.
– Se o meu gato fala
Será que pensa que eu mio?