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Notas à margem

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Notas à margem

20
Dez22

Rebusco 3

Zé Onofre

               3

 

989/10/12

 

Caminhamos

Um caminho,

Como quem vai à descoberta.

 

Caminhamos

Por um jardim,

Talvez o mais florido.

 

Caminhamos

Um caminho,

Talvez encantado.

 

Caminhamos

Por um jardim,

Talvez o mais belo arco-íris.

 

Caminhamos

Um caminho

Tortuoso à procura da felicidade.

 

Caminhamos

Um caminho

Que não é apenas de um sentido

 

Caminhamos

Um caminho

Lucidamente cegos.

 

Caminhamos

Um caminho

Apesar das nossas fraquezas.

 

Caminhamos

Um caminho

Assombrado pelas nossas incertezas.

 

Caminhamos

Um caminho

Certos de fazer melhor todos os dias.

 

Caminhamos

Um caminho

Tropeçando em angústia, raiva e alegria.

 

Caminhamos

Um caminho

Apesar de todos as quedas, com amor.

  Zé Onofre

17
Dez22

Histórias de A a Z para aprender a ler e escrever - Livro II - Ana e a ave

Zé Onofre

Ana e a ave

ANA E A AVE.jpg

 

Da janela do seu quarto,

Ana

Olha a paisagem

Com colinas e encostas,

Vales e ribeiros,

Que certamente irão até ao mar,

Que fica para lá do horizonte,

No qual se impõe na maior montanha,

Coberta de neve

Que reflete o sol,

O luar e as estrelas.

 

Não,

A Ana não vive numa aldeia.

Da janela do seu quarto

Vê prédios, atrás de prédios,

Uns mais altos, outros mais baixos,

Presos entre ruas, ruelas,

Praças e avenidas,

Para acabar  

Num prédio todo envidraçado

Do solo de onde se ergue

Até roçar as nuvens.

 

Uma tarde,

Como noutras tantas tardes,

Ana olhava o longe.

Naquela tarde o seu olhar

Encontrou um ponto de interesse.

Era um pequeno ponto

Que se desprendeu lá longe,

Do alto do prédio envidraçado,

E se dirigia para a sua janela.

   

Agora que estava mais próximo

Identificou aquele ponto

Como uma ave.

Era uma ave para ela desconhecida

Tão diferente das avezinhas

Que conhecia dos parques e jardins da cidade.

A sua cabeça,

Ora branca, ora prateada,

Desprendia-se um arco-íris

Que coloria as suas penas.

 

Dos olhos fundos e negros

Formaram-se duas lagoas

Que refletiam a ave,

Que se aproximava velozmente,

Ignorante do perigo

Que representava o vidro da janela.

 

A ave

Chocou violentamente contra o vidro

Caiu como morta no parapeito.  

Com cuidado abriu um pouquinho a janela,

Pegou na ave

E as lagoas dos olhos de Ana

Transbordaram sobre a ave

Que recuperou do choque.

Ana bateu palmas,

A ave bateu as asas.

Ana pegou na ave com jeitinho,

Abriu-lhe a janela,

Deu-lhe um beijo na cabeça,

Deixou-a partir.

 

Agora todas as tardinhas

A ave vinha visitar a Ana.

  Zé Onofre

29
Dez21

Por aqui e por ali 31

Zé Onofre

               31

 

986/01/06, confeitaria Mário, Amarante

 

Enquanto o manto cinzento

Cobre o tempo.

Enquanto as árvores nuas

Despem a terra

Vou dizendo

A minha angústia de saudades de criança.

 

Enquanto o cinzento

Cobre o arco-íris do Verão.

Enquanto as árvores nuas

Sonham a Primavera,

Construo sonhos ao entardecer.

       Zé Onofre