Histórias de A a Z para aprender a ler e escrever - Livro II - O tesouro do senhor Aires
O tesouro do senhor Aires
Quando era criança,
Contava o avô,
Conheci o senhor João,
Um velhinho de bengala,
Cabelo branco
A espreitar sob o chapéu preto.
Aos Domingos,
Sentava-se no banco do adro
À espera da pequenada
Que vinha para a catequese.
As crianças iam chegando
Uma a uma,
Outras em grupo,
E faziam roda à sua volta.
Quando estavam todos
Pediam,
Conte-nos uma história
A da velha, da cabaça e do lobo?
Não.
A da raposa dos três afilhados,
Iniciei-te, meei-te, acabei-te?
Não.
A da bota das sete léguas?
Já contou.
Qual?
Então o avô João
Começou
A verdadeira
História do tesouro do senhor Aires.
Aires
Era o rapaz dos sete ofícios.
Pedreiro,
Colmador,
Carpinteiro.
Porém, não era só,
O rapaz dos sete ofícios,
Era também
O rapaz das sete partidas.
Tanto estava aqui na aldeia,
Como andava lá por longe,
Sabe-se lá onde,
A fazer o que sabia
E o que inventava saber
E fazia
Como se o tivesse feito
Toda a vida.
Voltou na altura
Em que o senhor António da Quinta
Oferecia o tesouro
Que dizia haver
Num dos seus campos.
O Aires apressou-se logo
Para o grande achado.
Carrinho de mão,
Pá,
Enxada,
Picareta.
Assim se apresentou
Ao senhor António da Quinta,
Venho buscar o tesouro.
O tesouro que aqui há
Não se procura com esse material.
Aparecerá no bico da aiveca
Da pessoa que a manejar
Lá onde se esconde.
Aiveca, tenho eu
Junta de bois também,
É começar a lavrar
Que o tesouro há de lá estar.
Começa por qualquer campo,
Pelo lado que mais jeito te der
E começa a lavrar.
Com o empenho que começou
Em pouco tempo estava tudo lavrado
Do tesouro
Nem recado, nem achado.
Ó Aires,
Já que a terra está toda lavrada,
Para não desperdiçar
Um trabalho tão bem feito,
Que me dizes a semear centeio,
Tu, eu e a cachopa?
Nada há a perder,
Para o ano recomeço
Que em algum torrão há de estar
O tesouro que mereço.
Ano após ano
Espiolhou a terra com a aiveca.
Assim foi ficando,
Mais tempo do que o apostado
Nas mesas da taberna.
O mais curioso
É que já nem o Aires sabia por que ficava,
Do rapaz dos sete ofícios,
Passou a homem dum ofício só.
Do rapaz das sete partidas,
Passou a homem,
O Aires da Quinta.
O tesouro Aires, aparece ou não?
Creio que sim sr. António.
As tulhas estão cheias de grão.
Bem vendidas
Bons cobres renderão.
Nos quintais da casa,
Há batatas, legumes,
Fruta variada
Muita coisa boa para se comer.
Um homem como eu,
Que mais pode querer.
Talvez uma mulher,
Enquanto,
Descaradamente olhava a bela mulher,
Que era agora a filha do senhor António.
Tens razão,
Encontraste o tesouro
E, para o completar,
Apenas te falta casar.
Se a rapariga quiser
Como tu já o deste a demonstrar,
Seria para mim grande alegria
Levar-ta ao Altar.
Zé Onofre