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Notas à margem

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Notas à margem

15
Dez22

Rebusco 2

Zé Onofre

2
989/10/11

I

José correu,
Depois voou,
Perdeu-se no azul.

Restou dele
Apenas uma réstia
De nada.
Foi feliz.

II

Passamos o tempo
A perder o tempo
A lamentar o tempo perdido.
Somamos tempo perdido
A tempo perdido.
Quando usaremos o tempo,
Que nos é dado,
Para construir
Um tempo acrescido
De felicidade?

III

Rasgamos
Com fúria,
As condições primeiras da felicidade.
(Ternura,
Ternura e mais ternura).

Depois
Recordamos metodicamente
Os sonhos perdidos
Ao amanhecer.

IV

Pegamos em crianças.
Que fazemos delas?
Macaquinhos amestrados
A Responder a estímulos?
Macaquinhos pequeninos
Muito bem ordenadinhos?
Meninos comportadinhos,
Pequenos homenzinhos?
Ai escola, escola.

V

Pura poesia
É
A vida em movimento.

O parado
É
Sofrimento.

A escola parada
É
Tristeza pura.

Secas
São as vidas torturadas
Nos bancos da escola.

Secas
São as palavras
Que, frias, escorrem
Dos lábios das crianças
Sem sentido,
Sem ardor.

    Zé Onofre

06
Dez22

Comentário 301

Zé Onofre

                   301 

 

022/12/06

 

Sobre Palavras são Gaivotas, Sandra, 18.10.22, em crónicadassilabasasolta.blogssapo.pt

 

Andam aves à solta,

Volteando por entre azul e cinza,

Despreocupadas.  

Naquele momento voam

Sem saberem de tempestades,

De ventos parados.

Apenas sobem e descem,

Entre o verde e o azul.

 

Um dia seremos

Como aves serenas volteando

Plenos de alegria e sabedoria,

Com o coração palpitando

Ao ritmo da vida.

 

Num futuro,

Próximo ou longo,

Deixaremos de correr

De um lado para o outro,

Loucos seres

A arrancar o pão

13
Jul21

Souto 8

Zé Onofre

                         8

 ___/___/972

 Dias loucos sem tempo

Que esta casa comtempla.

Vida em apodrecimento

Ao longo do tempo.

Alguns momentos,

Poucos,

De alegria

Que não iluminam

O tempo aqui.

Vida

Vivida

Perseguindo o tempo

Que se esvai

Atrás do tempo.

Sinto-me parasita do tempo

Que passa,

Que passou

Do que virá?

Esbanjador do que fui

Parasita

Do que poderia ser.

Maus raios me levem.

Risos,

Gargalhadas,

Palavras entusiasmadas,

Fingimento de felicidade

Há muito jogada no vento

Originado nesta cabeça desnorteada.

Atirei-me para este quarto.

De mãos nuas vim

À procura de sentido

E apenas

Ecos gelados sem vida,

Da minha própria voz,

Dos meus próprios gestos.

Ouço de volta.

Risos,

Choros,

Alegrias,

Tristezas

Só ao longe,

Lá muito longe de mim.

De mim,

Da fingida liberdade que mostro,

Gelo,

Tanto gelo

Que até as pedras das paredes

Esfriam.

Campos verdes

Se espraiam na minha janela.

Regos,

Riachos,

Lagunas de água,

Refletem esta sombra

Que espia pela janela.

Este mesmo ser sombrio

Olha pelo canto da vidraça

Aves em voos artísticos,

Sob o céu azul,

Do nascer ao por do sol.

Vulto escondido,

Atrás da janela aberta,

Escuto conversas

Alegres,

Sublinhadas por risadas,

Palavras tristes

Ditas com lágrimas.

Meu viver

Feito de palavras enganadoras,

De risos postiços.

Tantos “eu”

Escondidos

Nas palavras sentidamente ditas,

Que me perco na sua rede

A descortinar qual deles sou,

Ou se nenhum.

Tanta imagem,

Tanto nada

Que encontro entre os espaços,

Nos sonhos,

Nos ventos,

Nos montes,

Nas fontes,

E quem procuro não está lá.

Não quero acreditar

Na inutilidade da vida que invento,

Na inutilidade em que me transformei.

Em tudo que intento

Está a prova

De quem nada pode,

Nem mudar o rumo da vida.

Sinto-me caído,

Destruído

Por todos e por ninguém

Mas com ajuda minha, sem dúvida.

Eliminado

Por descuido, ou arrogância,

Por engano, ou indiferença,

Ou se por recusa de continuar

Devido ao medo de errar,

Ou só de ouvir um não.

Tento levantar-me do chão

Voar em sonhos

Em que quero acreditar,

Mas sei que deles caírei

À primeira brisa contrária.

Gostava de ter a certeza

Para poder dizer

- Sou o que sou

Porque vós sois o que sois –

E seria nova fuga de mim

Para outro “eu”

Tão inútil, certamente,

Como daquele de que fujo.

De fuga em fuga,

De vai,

Vem,

E volta a ir

Vou-me construindo um nada.

Embrulho-me em mim próprio,

Imaginação do impossível,

No mundo do não sensível,

Na irrealidade.

Pára

Eu enosilhado,

De enunciar palavras loucas,

Que inocentes nascem

Das profundezas da loucura

Que sou.

Que pesadelo este,

Que por palavras incoerentes,

Tenta levar-me ao normal

Quando detesto a normalidade

Que tento fintar

Com palavras loucas.

Raios e trovões,

Aragens e vendavais,

Tempestades e tormentas,

Levai-me

Para onde não tenho coragem

De meter os pés a caminho

Até à fuga final.

Não deixeis de mim,

Nem uma lembrança,

Nem uma impressão digital,

Nem uma pegada,

Nem fotografia, nem som,

Nem registo de nascimento,

Que nem uma sensação   

Que diga falta aqui qualquer coisa.

Que pessoas que aqui entrem

Não sintam os calafrios das paredes.

Não sintam o peso de uma ausência.

Não sintam o calor de alguém que ali tenha vivido.

Intempéries

Se não conseguirdes satisfazer este pedido

De me fazer regressar ao ovo

De que nunca deveria ter saído,

Escrevei num rectângulo desenhado na parede,

Sob esta frase

- Ó incrédulos, o que procurais não existe. –

DEVERIA TER NASCIDO A TANTOS.

EVAPOROU-SE ANTES DOS TANTOS.

NUNCA VIVEU.

 

Zé Onofre

 

 

 

 

 

13
Jul21

Souto 8

Zé Onofre

                         8

 

___/___/972

 

Dias loucos sem tempo

Que esta casa comtempla.

Vida em apodrecimento

Ao longo do tempo.

Alguns momentos,

Poucos,

De alegria

Que não iluminam

O tempo aqui.

Vida

Vivida

Perseguindo o tempo

Que se esvai

Atrás do tempo.

Sinto-me parasita do tempo

Que passa,

Que passou

Do que virá?

Esbanjador do que fui

Parasita

Do que poderia ser.

Maus raios me levem.

Risos,

Gargalhadas,

Palavras entusiasmadas,

Fingimento de felicidade

Há muito jogada no vento

Originado nesta cabeça desnorteada.

Atirei-me para este quarto.

De mãos nuas vim

À procura de sentido

E apenas

Ecos gelados sem vida,

Da minha própria voz,

Dos meus próprios gestos.

Ouço de volta.

Risos,

Choros,

Alegrias,

Tristezas

Só ao longe,

Lá muito longe de mim.

De mim,

Da fingida liberdade que mostro,

Gelo,

Tanto gelo

Que até as pedras das paredes

Esfriam.

Campos verdes

Se espraiam na minha janela.

Regos,

Riachos,

Lagunas de água,

Refletem esta sombra

Que espia pela janela.

Este mesmo ser sombrio

Olha pelo canto da vidraça

Aves em voos artísticos,

Sob o céu azul,

Do nascer ao por do sol.

Vulto escondido,

Atrás da janela aberta,

Escuto conversas

Alegres,

Sublinhadas por risadas,

Palavras tristes

Ditas com lágrimas.

Meu viver

Feito de palavras enganadoras,

De risos postiços.

Tantos “eu”

Escondidos

Nas palavras sentidamente ditas,

Que me perco na sua rede

A descortinar qual deles sou,

Ou se nenhum.

Tanta imagem,

Tanto nada

Que encontro entre os espaços,

Nos sonhos,

Nos ventos,

Nos montes,

Nas fontes,

E quem procuro não está lá.

Não quero acreditar

Na inutilidade da vida que invento,

Na inutilidade em que me transformei.

Em tudo que intento

Está a prova

De quem nada pode,

Nem mudar o rumo da vida.

Sinto-me caído,

Destruído

Por todos e por ninguém

Mas com ajuda minha, sem dúvida.

Eliminado

Por descuido, ou arrogância,

Por engano, ou indiferença,

Ou se por recusa de continuar

Devido ao medo de errar,

Ou só de ouvir um não.

Tento levantar-me do chão

Voar em sonhos

Em que quero acreditar,

Mas sei que deles caírei

À primeira brisa contrária.

Gostava de ter a certeza

Para poder dizer

- Sou o que sou

Porque vós sois o que sois –

E seria nova fuga de mim

Para outro “eu”

Tão inútil, certamente,

Como daquele de que fujo.

De fuga em fuga,

De vai,

Vem,

E volta a ir

Vou-me construindo um nada.

Embrulho-me em mim próprio,

Imaginação do impossível,

No mundo do não sensível,

Na irrealidade.

Pára

Eu enosilhado,

De enunciar palavras loucas,

Que inocentes nascem

Das profundezas da loucura

Que sou.

Que pesadelo este,

Que por palavras incoerentes,

Tenta levar-me ao normal

Quando detesto a normalidade

Que tento fintar

Com palavras loucas.

Raios e trovões,

Aragens e vendavais,

Tempestades e tormentas,

Levai-me

Para onde não tenho coragem

De meter os pés a caminho

Até à fuga final.

Não deixeis de mim,

Nem uma lembrança,

Nem uma impressão digital,

Nem uma pegada,

Nem fotografia, nem som,

Nem registo de nascimento,

Que nem uma sensação   

Que diga falta aqui qualquer coisa.

Que pessoas que aqui entrem

Não sintam os calafrios das paredes.

Não sintam o peso de uma ausência.

Não sintam o calor de alguém que ali tenha vivido.

Intempéries

Se não conseguirdes satisfazer este pedido

De me fazer regressar ao ovo

De que nunca deveria ter saído,

Escrevei num rectângulo desenhado na parede,

Sob esta frase

- Ó incrédulos, o que procurais não existe. –

DEVERIA TER NASCIDO A TANTOS.

EVAPOROU-SE ANTES DOS TANTOS.

NUNCA VIVEU.

 

Zé Onofre