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Notas à margem

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Notas à margem

09
Mar23

Histórias de A a Z para aprender a ler e escrever - Livro II - Rui e o lobo

Zé Onofre

Rui e o lobo

 

Lá,

Onde a aldeia se acaba,

Numa mata Escura,

Húmida,

Cortada por um caminho,

Cobra serpenteante,

Que dos uivos da mata

Herdou o nome 

Caminho dos uivos,

As crianças

Paravam tudo,

Brincadeiras e cantorias,

Passavam em pés de veludo.

 

Falar-se da Mata,

Era falar do Lobo

E dos seus arrepiantes uivos.

Era falar também

De muitos caçadores,

Da Casa e vizinhos,

E dos seus dissabores.

Era falar dos gabarolas

Que mil vezes

Haviam matado o lobo,

De modos tão diversos,

Metendo-lhe a mão pela boca,

Agarrarando-lhe o rabo

Viraram-no do avesso.

 

O Rui,

Criança calada,

Foi remoendo uma maneira

De acabar com o maldito lobo

De uma forma certeira.

No dia em que fez dezoito anos

Anunciou aos pais e amigos,

Que ia fazer uma viagem longa

Sem tempo para voltar.

 

Partiu

Um dia de manhã cedo,

Sem anúncio,

Nem despedida.

Meteu-se na mata,

Procurou atrás de cada árvore,

Em todas as covas e buracos,

RUI E O LOBO.jpg

Em todos as rochas

E penedos.

Do lobo nem sombra nem figura

Apenas os uivos.

 

Derrotado,

Rui retoma o caminho a casa.

Com raiva

Deu um pontapé numa pedra.

Com a dor deu um grito,

Tão alto,

Mais parecia o uivo do lobo.

Agachado para tirar a bota

E massajar o pé dorido

Sentiu um toque macio

No seu pescoço.

Olhou para trás

Viu uns olhos tão suaves,

Cristalinos,

Doces.  

´

Num ímpeto

Passou a sua mão

Naqueles olhos meigos.

Foi assim que viu

Os pelos sedosos, daquela criatura,

Caírem e sem chegarem ao chão

Desfaziam-se no ar.

Ao mesmo tempo

Surgia uma pessoa linda

Que com um beijo na testa se despediu,

E com ele os uivos.

   

Daquele tempo resta,

Como memória,

O nome do caminho,

O Caminho dos uivos.

   Zé Onofre

24
Ago21

Souto 39 (A brincar aos poemas de Amor)

Zé Onofre

                     III  

Tudo na vida começa

No acaso de um momento.

Mesmo que para mal aconteça,

Ninguém pára o movimento.

 

Está errado quem não creia

Que o acaso é o primeiro elo

De uma enorme cadeia

Que nos ata sem apelo.

 

Por isso o que vem depois,

É um caminho desconhecido

Para se caminhar dois a dois

Até ficar com paixão concluído.

 

Os elos cuidadosamente enlaçados

Com todo o amor e carinho

E a nosso modo entrançados,

Venceremos cada curva do caminho.

                   IV

Se a estrada ouvisse e falasse,

As palavras que gemidas saem

Desta boca, talvez calasses,

E não dissesses que não te quero bem.

                  V

Encontramo-nos por acaso

Num dia fim de Verão.

O sol já passara o ocaso

Mas não o meu coração.

 

Chisparam os olhos de volúpia

Ao ver tua boca vermelha risonha.

Partiste. De lamúria em lamúria

Cada noite fica mais tristonha.

 

Recordo aquele tempo

Em que os teus cabelos sedosos

Se agitavam como ameno vento

Às carícias dos meus dedos vaidosos.

 

Sem os teus olhos sorrindo,

Sem as tuas palavras meigas,

Sem o teu corpo se abrindo

Sou árvore só numa veiga

 

Que fazer agora, então

Com esta saudade sem fim.

Esperar que venha outro verão,

E viver com o que de ti há em mim.

 

Pergunto à saudade com o coração,

Se voltarão as noites de alegria,

Se os nossos corpos se unirão,

Em algum outro novo dia.

 

A saudade recorda o que perdi,

Diz-me que o que foi não voltará.

Contento-me com o que vivi,

E com o que o tempo futuro trará.

 

                         VI

Olhei-te um dia por olhar,

E vi que para mim sorriste.

Não soube bem analisar,

As palavras que pestanejaste.

 

Fico sem saber o que dizer

Nem explicar o que faço.

Como te farei entender

Que o amor se faz passo a passo.

 

Não é vivendo no passado,

Nem temendo o que trará o futuro.

Construi-lo-ei contigo ao lado,

Ou tudo será muito prematuro.

                       VII

Pensa bem que o amor

Não são palavras bonitas

Que possa dizer com fervor,

E só para te agradar serão ditas

 

O amor são os factos

Que com sinceridade

Pratico em todos actos

Com ternura e lealdade.

 

Ouve, nunca me peças,

Que te diga “eu amo-te”

Pode ser que te impeça

De ouvires o “eu engano-te”.

 

Àqueles que em simples actos,

Mostram todo o seu interior

Pensa bem se naqueles factos

Não estará o meu amor.

 

Nunca retribuas como pagamento

O que te dou desinteressadamente.

E com todo e inteiro sentimento

Mostra que te amo inteiramente.

 

Eu, que penso que sei o que é amar,

Sei também certamente compreender

Que quem tem verdadeiro amor para dar,

Alimenta-se do amor que receber.

 

Quero amar-te, sem fingimento,

Sem palavras falsas que nos firam.

Quero amar-te a qualquer momento,

Em todas as horas que nos esperam.

 

Não peças que te ame eternamente

É um pedido a que não sei responder.

Se sim, ou se não, errarei certamente,

Não sei o que o futuro nos vai trazer.

 

Supondo que em algum momento

O amor que te tenho vier a morrer,

Dir-to-ei com todo comedimento

Que amares sem ser amada é só sofrer.

 

As circunstâncias, que ditam a verdade,

Alteram-se e modificam tudo não é?

Não te esqueças que sem liberdade,

Não há amor que se mantenha de pé.

 

A liberdade é imprescindível no amor.  

Sem liberdade ele morre, torna-se prisão.

Restam muitas lágrimas, amargura e dor.

A rasgar como faca afiada um coração.

 

Neste momento que me abro aqui

Peço-te que não te deixes escolher.

Não permitas que olhem para ti

Uma flor de florista que todos vão ver.

 

Não distribuas ao desbarato o teu amor,

Dá-o apenas a quem amares realmente.

Procura saber, seja a pessoa que for,

Se é o que é, ou se é outra diferente.

 

Então sim, entrega-te e ama plenamente.

Não penses que vais viver o amor ideal,

Se ele existir, como dizem, realmente.

Zé Onofre

 

 

 

 

 

22
Ago21

Souto 39 (A brincar aos poemas de Amor)

Zé Onofre

39

                SET/975

                     I

Quando encontrei os teus olhos,

O teu corpo,

E a tua vida,

Antevi um novo dia.

Nunca esquecerei o momento             

Em que te encontrei.

Para sempre ao vento

De paixão cantarei.

Quando encontrei os teus olhos,

Antevi um novo dia.

Contarei do teu olhar,

Da tua boca a sorrir,

Dos teus cabelos doirados,

Loiro sol a sorrir.

Quando encontrei os teus olhos

Antevi um novo dia

                   II

Lembro com saudade

A tua presença serena

Que nos dias de liberdade

Vivíamos em comunhão plena.

 

Lembro com saudade,

Única coisa que ficou,

Dos dias de felicidade

De quem tanto amou.

 

Lembro com saudade

O que ficou por te dizer.

Perdi a oportunidade

Não sei o que fazer,

 

Lembro com saudade

Teus lábios, o teu sorriso

O teu olhar de lealdade.

Até penso que perdi o siso.

  Zé Onofre