Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Notas à margem

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Notas à margem

17
Ago22

história para aprender a ler er eswcrever - Livro I - A eira da quinta do Eixo

Zé Onofre

Na eira da quinta do Eixo

NA EIRA DA QUINTA DO EIXO - Cópia.jpg

Embora não fosse essa a sua graça

Todos lhe chamavam Teixeira.

O certo é que duma chalaça,

Ficou nome para a vida inteira.

 

No verão, nas tardes quentes e sem fim,

Ia até à quinta do Eixo, evitando a soalheira,

Sentar-se com os amigos Zindo e Quim

À sombra duma frondosa parreira.

 

Depois de gozarem a sesta

Levantaram-se para irem emedar

O centeio. Para ele era uma festa,

Para os amigos era só trabalhar.

 

Quase caíram se não fora a parreira.

Numa corrida louca o boi Amarelo,

O dócil Amarelo, correu para a eira,

Tomou conta dela como seu castelo.

 

Que ninguém se aproxime dizia

O Toninho. É só uma loucura

Breve. Lá para o fim do dia

Já passou. É coisa de pouca dura.

 

Ora o nosso amigo Teixeira

Não era paciente para esperar.

Devagar, com trejeitos à maneira,

Com uma panada de erva vai-lha dar.

 

O amarelo mantem-se espantosamente

Quieto. Cheio de vaidade vai o Teixeira,

Cheio de confiança, convincente,

Chega-se perto do boi no meio da eira.

 

Os caseiros do Eixo estavam espantados

Pelo que, pela primeira vez ali aconteceria

O Teixeira virava-se com o peito inchado

Pelo que fez e a que ninguém se atreveria.

 

Em má hora, virar costas ao boi, resolveu.

De raiva, com uma cornada, atira o rapaz pelo ar.

Subiu, subiu parecia que a meta seria o céu.

Um momento suspenso e todos começam a gritar.

 

Lá vem o rapazito com uma bala direto ao chão.

As pessoas calam-se. O traquina caiu na meda.

Deixa-se escorregar como se fosse um avião,

Que o centeio espalhado na eira aparou na queda.

 

O Teixeira, como se fosse uma coisa banal

Vira-se para as pessoas e diz com ar fanfarrão.

– Que grande coisa a dos astronautas, afinal.

Com uma cornada fui ao ar, eles vão de foguetão.

Zé Onofre

Desenvolvimento

Frase - Ex,: O Amarelo fugiu para a eira da quinta do Eixo

Proceder como nos textos anteriores

12
Dez21

Por aqui e por ali 17

Zé Onofre

               17

 

982/04/01

 

Se me permite,

Minha senhora.

Eu

Falo-lhe em cães,

Gatos e coelhos,

Milho e centeio,

Vindimas e desfolhadas

Porque, raios

E carga de água,

A senhora me fala

De meninos bem comportados?

Porque me fala

Em príncipes encantados,

Ou não.

A mim, pobre criança,

Que palmilho

Descalço

Nunca as lonjuras do sonho,

Sempre as pedras ásperas do caminho?

Fala-me

Do que não entendo

E nunca dos montes e dos ninhos

Dos campos verdes onde me rebolo

Nas tardes amenas da Primavera,

Enquanto a vaca,

Pachorrenta vaca pasta.

 

Fala-me de casas,

De janelas

E não da lonjura dos horizontes

Lá,

Onde o verde dos pinheiros,

E o azul do céu, se misturam.

Onde o vento sopra forte

Em Agosto.

Lá onde os passarinhos voam

Em asas de sonho!

Lá,

A beleza,

O sonho

Voam

Em planuras de Liberdade.

 

Porque me fala

De grades,

Paredes,

Prisões,

A mim que sou livre,

Travesso,

(Assim o diz)

E gosto de movimento!

 

Porquê?

 

A srª professora fala-me,

Fala-me,

De letras, e sílabas e palavras,

Ou de palavras, sílabas e letras.

Srª professora

Ajude-me a falar,

A falar,

Sobre o meu porco morto.

      Zé Onofre