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996/02/23, acção de formação no Colégio S. Gonçalo. Amarante
No princípio era a tribo
E na tribo se fazia gente.
E a tribo era o espaço todo,
E a tribo era o tempo.
Havia o tempo e o espaço.
Havia a vida e o sonho.
Depois foi a cidade
E foi o campo.
Na cidade o espaço foi partido,
E o tempo encurtou.
O campo foi medido
E o tempo passou de sol a sol.
Na cidade foi o comércio,
O tempo contado,
O espaço diminuiu.
No campo foram as várias culturas,
O espaço foi contado.
O tempo diminuiu.
A cidade cresceu
As ruas apertaram
Os bairros nasciam
O espaço cada vez mais despedaçado,
O tempo cada vez mais controlado.
No campo a produção aumentava,
Nasciam os armazéns das sobras,
Os homens aumentavam
O espaço foi organizado,
A água dividida,
O tempo controlado.
Na cidade aumentavam
As oficinas, e as oficinas eram escolas.
Na cidade aumentava o comércio,
Nascia a palavra escrita e o número,
E o comércio era a escola.
Da cidade partiam barcos,
À cidade chegavam barcos,
Nascia o tempo mecânico,
E os portos e os barcos eram a escola
Lentamente
As oficinas,
O comércio,
Os portos e os barcos,
Deixaram de servir de escolas,
Pois não respondiam
Aos problemas do dia-a-dia
Cada vez mais complicado.
E nasciam as escolas
Que ensinavam com o conhecimento
De experiência feito.
Havia ainda espaço e tempo de, e para a vida.
Finalmente a escola educativa, formativa.
Sem espaço e sem tempo,
Com salas a correr por corredores,
Com tempo escasso para as apanhar.
Espaço-tempo medido
Em fracções mínimas de espaço-tempo.
Lugar de passagem sempre p’r’à frente,
Que é preciso passar velozmente sem repouso.
A escola tornou-se um corpo estranho à vida.
Às vezes desabrocha em pérolas
Corpo estranho à escola que as enquista e cerca.
Zé Onofre