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Notas à margem

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Notas à margem

20
Abr23

Que viva Spartacus 40

Zé Onofre

                   40

 

023/04/20

 

Onde andas, Spartacus,

Que não vês,

Que não ouves,

Na arena aberta

Os teus camaradas gladiadores

Gritarem, já sem pulmões,

As atrocidades, os horrores,

A que os seus treinadores os sujeitam?

 

Onde andas, Spartacus,

Que no solo sangrento

Ninguém te ouve

Chamar os gladiadores

À revolta, ao levantamento?

 

Onde andas, Spartacus,

Que vês os teus camaradas

Morrerem entre vales e colinas,

Não por "balas trespassado

Duas de lado a lado”,

Mas deixando o corpo aos bocados,

Em planícies ensanguentadas,

Restos de carne dada aos canhões?

Enquanto os Césares de todo o mundo,

Nas suas tribunas imperiais,

Lustram os seus milhões.

    Zé Onofre

16
Abr22

Por aqui e por ali 95

Zé Onofre

              95

 

996/02/23, acção de formação no Colégio S. Gonçalo. Amarante

 

No princípio era a tribo

E na tribo se fazia gente.

E a tribo era o espaço todo,

E a tribo era o tempo.

Havia o tempo e o espaço.

Havia a vida e o sonho.

 

Depois foi a cidade

E foi o campo.

Na cidade o espaço foi partido,

E o tempo encurtou.

O campo foi medido

E o tempo passou de sol a sol.

 

Na cidade foi o comércio,

O tempo contado,

O espaço diminuiu.

No campo foram as várias culturas,

O espaço foi contado.

O tempo diminuiu.

 

A cidade cresceu

As ruas apertaram

Os bairros nasciam

O espaço cada vez mais despedaçado,

O tempo cada vez mais controlado.

No campo a produção aumentava,

Nasciam os armazéns das sobras,

Os homens aumentavam

O espaço foi organizado,

A água dividida,

O tempo controlado.

 

Na cidade aumentavam 

As oficinas, e as oficinas eram escolas.

Na cidade aumentava o comércio,

Nascia a palavra escrita e o número,

E o comércio era a escola.

Da cidade partiam barcos,

À cidade chegavam barcos,

Nascia o tempo mecânico,

E os portos e os barcos eram a escola

 

Lentamente

As oficinas,

O comércio,

Os portos e os barcos,

Deixaram de servir de escolas,

Pois não respondiam

Aos problemas do dia-a-dia

Cada vez mais complicado.

E nasciam as escolas

Que ensinavam com o conhecimento

De experiência feito.

 

Havia ainda espaço e tempo de, e para a vida.

 

Finalmente a escola educativa, formativa.

Sem espaço e sem tempo,

Com salas a correr por corredores,

Com tempo escasso para as apanhar.

Espaço-tempo medido

Em fracções mínimas de espaço-tempo.

Lugar de passagem sempre p’r’à frente,

Que é preciso passar velozmente sem repouso.

 

A escola tornou-se um corpo estranho à vida.

Às vezes desabrocha em pérolas

Corpo estranho à escola que as enquista e cerca.

Zé Onofre

23
Fev22

Por aqui e por ali 63

Zé Onofre

               63

 

sd

 

Não procuro a morte

Porque a achei.

Aqui estou eu

Sentado,

Sentado,

Sentado.

 

Só me faltam os chinelos

- Tenho os pés descalços -

Só me faltam os chinelos

E uma careca luzidia,

Para que procurar a morte?

 

Sim eu,

Eu, que jurei não morrer

Aqui estou

Abjurando.

 

Sim,

Este mesmo

Que fez promessas de juventude eterna,

Sim.

Eu,

Que já nem me revolto.

Este

Que sonhava,

Sonhava,

Sonhava…

 

Rezem-me pelo corpo

A alma,

Essa,

Já morreu.

  Zé Onofre

19
Jan22

Por aqui e por ali 44

Zé Onofre

                  44

sd, Escola de Portela, Aboim, AMT

Adivinha

As pernas
Começam no chão
E vão
Por ali acima
– Parecendo nunca mais acabar –
E param
De repente,
Num corpo redondo,
Fofo,
Macio
Onde é bom estar.

Os braços
Agitam-se ao vento
Do que há para fazer.
Ora pequeninos
Quando afagam,
Ora gigantes
Que tudo agarram.

Lá no alto,
A cabeça
Cor-de-noite-escura
Iluminada por duas estrelas,
Os olhos
Cor-de-muita-ternura.

25
Out21

Penafiel 69

Zé Onofre

                    69

 

___/04/978

 

Acordado nas sombras da noite

Pra ver o sol despertar.

Quero cantar belas canções

Para as calar nos teus abraços.

Quero sentir o teu amargo travo,

Sentir o teu sangue a correr

O teu corpo a tremer

Cobri-lo de flores e cravos.

 

Quero amanhecer-te com sorrisos,

Com sons leves de acordar,

Com a primeira luz da aurora

Ou com o último raio da estrela da manhã.

 

Quero o teu amor no crepúsculo do sol,

Quero ouvir o teu grito

Em noites de luar,

Quero cobrir o teu corpo

Com beijos de encantar.

  Zé Onofre

22
Ago21

Souto 39 (A brincar aos poemas de Amor)

Zé Onofre

39

                SET/975

                     I

Quando encontrei os teus olhos,

O teu corpo,

E a tua vida,

Antevi um novo dia.

Nunca esquecerei o momento             

Em que te encontrei.

Para sempre ao vento

De paixão cantarei.

Quando encontrei os teus olhos,

Antevi um novo dia.

Contarei do teu olhar,

Da tua boca a sorrir,

Dos teus cabelos doirados,

Loiro sol a sorrir.

Quando encontrei os teus olhos

Antevi um novo dia

                   II

Lembro com saudade

A tua presença serena

Que nos dias de liberdade

Vivíamos em comunhão plena.

 

Lembro com saudade,

Única coisa que ficou,

Dos dias de felicidade

De quem tanto amou.

 

Lembro com saudade

O que ficou por te dizer.

Perdi a oportunidade

Não sei o que fazer,

 

Lembro com saudade

Teus lábios, o teu sorriso

O teu olhar de lealdade.

Até penso que perdi o siso.

  Zé Onofre