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Notas à margem

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Notas à margem

07
Jun22

Por Aqui e por ali 145

Zé Onofre

              145

 

018/08/10, Casa de Xisto, Paredes de Coura

 

Silêncio,

É cristal puro

De transparências líquidas

Sem reflexos,

Sem refracções,

Apenas vibração única,

Suave,

Terna,

Onde as palavras nascem

De fonte pura,

 Límpida.

 

Palavras correntes,

Fio transparente,

Sem medos, nem mágoas,

Sem sombras, nem espinhos,

Apenas palavras exactas.

 

Silêncio,

Solar luminoso

Onde vivo e convivo,

Onde livremente o pensamento vai

De rocha em rocha,

De penedo em penedo.

 

Silêncio, borboleta arco-íris

Etérea de flor em flor,

Segredando palavras

Leves como aromas,

Perfumada com todos os perfumes

De Alecrim e rosmaninho,

Que o vento correndo

Espalha

Pelos velhos caminhos da aldeia,

Em dias de sol e amêndoas

   Zé Onofre

11
Ago21

Souto 30

Zé Onofre

30

 20/03/975

 Hoje,

Não é hoje,

São mil dias contidos

Numa vontade de quererem ser hoje.

 

Hoje, são milhões de anos

A nós trazidos, a nós agarrados

Por outros hoje, que não foram hoje,

Mas milhões de dias contidos

Numa vontade de quererem ser hoje.

 

Hoje, é uma eternidade

De milhões de hoje.

Hoje que foram milhões de anos

Todos aqui trazidos, a nós colados,

Com outros hoje que não foram hoje,

Que foram milhares de hoje contidos,

Numa vontade de querer ser hoje.

 

Hoje, é o grito da humanidade

Que ao longo de milhões de séculos

Tem evoluído de hoje em hoje,

Que têm sido uma eternidade

De milhões de hoje

Que foram milhões de anos

Aqui trazidos e acorrentados

Nos outros hoje

Que não foram hoje

Que foram mil dias contidos

Numa vontade de quererem ser hoje.

 

Hoje

É o som dum cristal,

Que, sem espaço para cristalizar,

Resolveu nascer amiba,

E iniciar a vida

Que por caminhos imprevisíveis,

Com uma infinidade de contradições

Viu surgir o bicho Homem

Que hoje

Se tenta libertar,

Que tem vindo a descobrir

Que num hoje qualquer

Na plenitude do tempo,

Na largueza do espaço,

Acabará por cristalizar.

  Zé Onofre