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Notas à margem

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Notas à margem

26
Abr22

Dia de hoje 105

Zé Onofre

                   105

 

997/06/14

 

Regresso

 

Hoje regressais ao passado.

Cada um de vós vieste ao encontro

Do vosso passado.

Hoje, cada um de vós visita,

Revisita as suas ilusões,

As suas esperanças,

Os seus sonhos.

Hoje regressais

Aos vossos vinte anos.

Aos vinte anos de cada um.

Em sorrisos, risos, de olhos perdidos,

Olhando-vos uns aos outros de longe,

Recordais, não o mesmo passado

Que em comum a vida por acaso vos deu,

Mas o passado que cada um construiu,

Ano após ano, dia após dia.

Um passado

Que cada um de vós construiu

À medida dos vossos sonhos,

Ou à medida do que a vida permitiu.

Passaram vinte e cinco anos.

E com eles muitos outros valores se alteraram.

Sonhos e esperanças,

Alegrias e tristezas,

Saudades, fantasias,

Desesperos, Melancolias.

É com estas vestes que hoje,

Vinte e cinco anos depois,

Regressais a um passado,

Em que o acaso vos juntou,

Num momento e num espaço.

Cada um de vós vem arranjado

Com as vestes

Que a vida lhe proporcionou.

   Zé Onofre

22
Fev22

Por aqui e por ali 62

Zé Onofre

                  62

 

sd

 

A sombra da noite

 

A noite cai. Não se ouve qualquer estrondo porque é silenciosa, como silenciosos são os passos que não se ouvem na noite silenciosa.

A noite cai. Num dia longínquo do nosso passado cai a noite roçagante de sedas maviosas e perfumes que nos inebriam, como inebriantes foram os folguedos do dia.

A noite cai. Silenciosa. Escura. Triste.

A noite cai, em silêncios de palmas de mãos abertas.

A noite cai, como pedras provindas do desconhecido, como sonhos que sonharam alvorecer.

A noite cai. Cai.

A noite cai. Cai sem a promessa de esperanças de um novo dia.

A noite cai definitiva.

A noite cai.

 

Na noite que cai é a sombra que se levanta.

A sombra e os pesadelos.

A sombra e os pesadelos levantam-se como adamastores

No solilóquio que transparece na solidão e frieza destas horas.

A sombra sem esperança de luz.

A sombra sem esperança de seja o que for.

   Zé Onofre

08
Dez21

Por aqui e por ali 14

Zé Onofre

                 13

 

982/ 03/__, Vila Caiz, AMT

 

Queria falar em mil coisas

Que ficaram por dizer.

Queria pensar em mil sonhos

Que ficaram por sonhar.

Queria falar talvez

Das saudades do que não fiz,

Das esperanças que não nasceram,

Dos sonhos que murcharam.

Queria falar de tudo

Que não foi e murchou

Nas minhas mãos secas.

Queria falar,

Queria falar,

Queria falar …

   Zé Onofre

18
Ago21

Comentário 38 (NOS DIAS QUE PENSÁVAMOS SEREM ETERNOS)

Zé Onofre

                38

                 I

                2

        Reis, 1974

Viemos por caminhos velhos

Como manda a lei antiga,

Mas são novos os desejos

Que trata a nossa cantiga.

 

Um novo ano a nascer,

Nós vimos há poucos dias.

Que a vontade e o querer

O façam em muitas alegrias.

 

Contam-se pelos dedos

Os dias que o ano tem

De alegrias. Sem medos

Sejam os outros também.

 

Em cada dia que ele tiver,

Cada um com seu rosto,

Traga ele o que trouxer

Seja bem ao vosso gosto.

 

Não podendo os desejos,

De cada um adivinhar,

Queremos benfazejos

Os dias a caminhar.

 

Cada ano, novas esperanças,

Cada mês, novas alegrias,

Sejam as horas crianças

A alegrar os vossos dias.

     Zé Onofre