Histórias de A a Z para aprender a ler e escrever - Livro II - Eugénia no penedo
Eugénia no Penedo
Como todos os anos,
Eugénia,
Marido e filhos,
Visitava os seus pais pelo Natal
Na aldeia onde nascera.
Vinha uns dias mais cedo
Para conviver com os irmãos,
Com os sobrinhos.
Como era reconfortante
Ver os primos correrem na brincadeira,
Pelos cantos e recantos da velha casa,
Era ver-se com os irmãos naquela idade.
Em uma das tardes daqueles dias
Foi-se afastando.
Encontrou-se sentada no penedo,
Onde em menina se sentava
Quando se sentia só,
Triste,
Sem saber o por quê.
Pôs-se a olhar para dentro.
Via
A paisagem que conhecera,
Não aquela
Que agora de olhos abertos
Via com tristeza.
Fechava os olhos.
Um pequeno ribeiro
Correndo forte no inverno,
Leve no verão.
No verão,
Era um cantar cristalino de pedra em pedra.
No inverno,
Era uma voz furiosa,
Imitando os grandes rios,
Subindo e alagando os campos que o marginavam.
Fosse verão, ou inverno,
Fazia caminho ladeado de verde.
Abre os olhos.
Uma serpente preta
Percorre o caminho do ribeirito,
Levando veículos de todas as cores e feitios,
Em altas, ou baixas velocidades,
Todos defumando o ar que respiramos.
Olhando no seu interior
Vê matas de pinheiros,
Carvalhos e sobreiros.
Lá no meio deles,
Como carta fora do baralho,
Um enorme eucalipto,
Com eles cavalgava montes acima.
Abre os olhos.
O verde das árvores encolheu,
Muitas clareiras o rasgaram.
Cores vivas
Acompanham
O que resta do arvoredo
Até ao cimo do monte.
Olha no seu passado.
Lá estão as suas amigas,
A Lola, a Júlia e a Amélia.
Estavam a jogar à macaca,
Às pedrinhas,
O quino pedreiro,
A saltar à corda
À volta do enorme eucalipto.
Depois vê-se aninhada
Aos pés do forte eucalipto
Que a abraçava com as suas fortes raízes.
Duas lágrimas
Rolam agora pelo rosto de Eugénia.
Está a ver o seu eucalipto,
Que fora vilmente vendido,
Ser abatido.
O Toninho trepa-o com uma corda.
Chega ao alto e laça-lhe um ramo.
Em baixo, o Quinzinho e o Gaspar
Esperam que a serra acabe o serviço
Para lentamente depositarem no chão
O cano decepado.
Assim
Ramo após ramo,
O eucalipto nu
Tomba estrondosamente por terra.
Agora uma voz chamava,
Eugénia, Eugénia, …
Não eram as vozes verdes
Das suas amigas da infância.
Era a voz
Forte e madura do seu marido
Que lhe abria os olhos.
Eugénia, antes de os abrir,
Deu um último adeus ao seu eucalipto.
Ao último chamo,
Levantou-se e foi ter com a família.