Historias de A a Z para aprender a ler e a escrever - Livro II - Perdido
PERDIDO
Era uma praça na cidade.
Era uma vez uma fonte na praça.
Era uma vez uma estátua na fonte.
Era uma vez meninos a brincar.
Na cidade,
Na praça,
À volta da fonte-estátua.
Brincavam
Ao berlinde e à cabra-cega,
À caçadinha e ao pião.
Ao esconde-esconde
E à bola de trapos
Que se arrastava pelo chão.
Entre eles estava o Nuno.
O Nuno vivia ali num andar
De uma casa daquela praça.
De vez em quando
A mãe vinha à janela
- Nuno, meninos, cuidado,
Não vá haver uma desgraça.
Palavras ao vento
Voando sobre os telhados
Que passavam muito além
Dos ouvidos dos meninos
Que sonhavam acordados
Serem campeões olímpicos
Em todas as modalidades
Ali praticadas.
Uma tarde,
Um Nuno triste e desanimado,
Sentado na beira da fonte
Viu irrompendo no céu da praça
Uma ave vinda do horizonte
Que lhe fez um convite
Em golpes lentos de asas
- Deixa essa fonte sem graça.
Passo atrás de passo
Seguiu aquele voo delicado
Por ruas desconhecidas,
Praças que nunca vira,
Como se estivesse encantado.
Lentamente vai acordando.
Onde ficou a sua cidade
E que mar é aquele ondulando.
Sente-se perdido naquele areal
Desconhecido onde a ave o deixara.
Do meio das ondas vê balançar
Um barco que aproava à areia
Com um pescador só
Que apesar de nada ter pescado
Arrastava o pequeno bote
Pela areia a cantarolar.
Aproximava-se do Nuno.
Não o teria visto
Se o pequeno não lhe falasse
– Senhor, que praia é esta,
Onde não sei como vim parar.
Vim atrás de uma ave.
Agora aqui estou eu
Sem saber como regressar.
Não te preocupes,
Meu pequeno aventureiro.
Não tarda, estás em casa
Palavra de pescador e marinheiro.
Fecha os olhos
Dá-me a mão e confia.
Não abrirás os olhos
Até que eu to diga.
Subiu um degrau,
O marinheiro sentou-o.
Onde estaria?
Num carro,
Num comboio,
Num avião.
Ouviu um estrondo nunca ouvido,
E sentiu-se colado ao chão.
Que coisa maravilhosa!
Estou numa nave é o que é.
Não resistiu e abriu os olhos.
O mar era um laguinho azul
Lá em baixo.
Acordou para a realidade.
Senhor é tudo lindo, maravilhoso,
Mas estou cada vez mais longe da cidade,
Da praça e da fonte que ela tem.
Decerto já todos foram para casa.
À janela aflita deve estar a minha mãe.
Acredita no que te digo.
Pensas que estás longe,
Mas afinal estás bem perto.
Vou agora passar por cima da cidade.
Olha bem as ruas e as praças,
As pessoas à janela a olhar o mundo,
Talvez uma delas esteja a tua mãe,
A ver as crianças a brincar lá no fundo.
Nuno na nave ia agora mais calmo.
O sol batia nos telhados avivando
Os seus telhados vermelhos.
As janelas envidraçadas,
Refletiam o sol como se fossem espelhos.
As pessoas caminhavam em carreiro,
Como se fossem formigas
Nem sabiam o seu tamanho verdadeiro.
O verde das árvores
Pareciam campos de erva,
Os lagos gotas de água.
Olha aquela casa é a minha.
Ali a praça,
Os meus amigos a irem embora,
Na janela a minha mãe
Nem dá pela minha demora.
Nuno desce da nave,
Diz adeus ao marinheiro,
A correr apanha as suas coisas
Vai para casa ainda mais ligeiro.
No cimo das escadas a porta está aberta.
Entra esbaforido, preocupado com a demora.
– Mãe, hoje atrasei-me muito?
Que demora? Os teus amigos saíram agora!
Zé Onofre