Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Notas à margem

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Notas à margem

16
Mai23

Historias de A a Z para aprender a ler e a escrever - Livro II - Perdido

Zé Onofre

PERDIDO

Era uma praça na cidade.
Era uma vez uma fonte na praça.
Era uma vez uma estátua na fonte.
Era uma vez meninos a brincar.
Na cidade,
Na praça,
À volta da fonte-estátua.

Brincavam
Ao berlinde e à cabra-cega,
À caçadinha e ao pião.
Ao esconde-esconde
E à bola de trapos
Que se arrastava pelo chão.

Entre eles estava o Nuno.
O Nuno vivia ali num andar
De uma casa daquela praça.
De vez em quando
A mãe vinha à janela
- Nuno, meninos, cuidado,
Não vá haver uma desgraça.

Palavras ao vento
Voando sobre os telhados
Que passavam muito além
Dos ouvidos dos meninos
Que sonhavam acordados
Serem campeões olímpicos
Em todas as modalidades
Ali praticadas.

Uma tarde,
Um Nuno triste e desanimado,
Sentado na beira da fonte
Viu irrompendo no céu da praça
Uma ave vinda do horizonte
Que lhe fez um convite
Em golpes lentos de asas
- Deixa essa fonte sem graça.

Passo atrás de passo
Seguiu aquele voo delicado
Por ruas desconhecidas,

PERDIDO.jpg

 

Praças que nunca vira,
Como se estivesse encantado.
Lentamente vai acordando.
Onde ficou a sua cidade
E que mar é aquele ondulando.

Sente-se perdido naquele areal
Desconhecido onde a ave o deixara.
Do meio das ondas vê balançar
Um barco que aproava à areia
Com um pescador só
Que apesar de nada ter pescado
Arrastava o pequeno bote
Pela areia a cantarolar.

Aproximava-se do Nuno.
Não o teria visto
Se o pequeno não lhe falasse
– Senhor, que praia é esta,
Onde não sei como vim parar.
Vim atrás de uma ave.
Agora aqui estou eu
Sem saber como regressar.

Não te preocupes,
Meu pequeno aventureiro.
Não tarda, estás em casa
Palavra de pescador e marinheiro.
Fecha os olhos
Dá-me a mão e confia.
Não abrirás os olhos
Até que eu to diga.

Subiu um degrau,
O marinheiro sentou-o.
Onde estaria?
Num carro,
Num comboio,
Num avião.
Ouviu um estrondo nunca ouvido,
E sentiu-se colado ao chão.

Que coisa maravilhosa!
Estou numa nave é o que é.
Não resistiu e abriu os olhos.
O mar era um laguinho azul
Lá em baixo.
Acordou para a realidade.
Senhor é tudo lindo, maravilhoso,
Mas estou cada vez mais longe da cidade,
Da praça e da fonte que ela tem.
Decerto já todos foram para casa.
À janela aflita deve estar a minha mãe.

Acredita no que te digo.
Pensas que estás longe,
Mas afinal estás bem perto.
Vou agora passar por cima da cidade.
Olha bem as ruas e as praças,
As pessoas à janela a olhar o mundo,
Talvez uma delas esteja a tua mãe,
A ver as crianças a brincar lá no fundo.

Nuno na nave ia agora mais calmo.
O sol batia nos telhados avivando
Os seus telhados vermelhos.
As janelas envidraçadas,
Refletiam o sol como se fossem espelhos.
As pessoas caminhavam em carreiro,
Como se fossem formigas
Nem sabiam o seu tamanho verdadeiro.

O verde das árvores
Pareciam campos de erva,
Os lagos gotas de água.
Olha aquela casa é a minha.
Ali a praça,
Os meus amigos a irem embora,
Na janela a minha mãe
Nem dá pela minha demora.

Nuno desce da nave,
Diz adeus ao marinheiro,
A correr apanha as suas coisas
Vai para casa ainda mais ligeiro.
No cimo das escadas a porta está aberta.
Entra esbaforido, preocupado com a demora.
– Mãe, hoje atrasei-me muito?
Que demora? Os teus amigos saíram agora!

    Zé Onofre

20
Ago22

Histórias para aprender a ler e a escrever - Livro I - Augusto

Zé Onofre

Augusto

 

AUGUSTO.jpg

 

Hoje saí de casa,

não quis saber de nada,

vim p’r’àqui

onde não ouça

a cada momento:

Augusto! Augusto!

como um tormento.

 

É assim todo o dia,

Todos os dias.

Augusto, p’ra cá!

Augusto, p’ra lá

parece que outro nome não há...

 

Mal chego a casa

Vindo da escola,

Com a sacola

Cansado das aulas,

E logo começa a cantiga

 

Augusto!

Augusto!

 

Augusto, vai à fonte!

Augusto, vai à lenha!

Augusto, vai ao monte!

E o Augusto … vai

mesmo que vontade não tenha...

 

Augusto!

Augusto!

Bem feito.

Hoje saí de casa

E não quis saber de nada.

 

Augusto!                                                             

Augusto!

 

O pior vai ser logo à noite

quando o escuro chegar....

Quem me vai deitar?

Quem me vai aconchegar?

Quem, os caracóis, me vai compor

e dizer com um sorriso:

Sonha com os anjos,

meu amor!

 

Augusto!

Augusto!

 

Será que ouço chamar?

Mãe,

é só pegar nesta tralhada

vou já

não demora nada!

 

 

Desenvolvimento

 

Frase – Ex.: O Augusto chegava a casa cansado das aulas.

 

Proceder como nos textos anteriores

07
Jun22

Por Aqui e por ali 145

Zé Onofre

              145

 

018/08/10, Casa de Xisto, Paredes de Coura

 

Silêncio,

É cristal puro

De transparências líquidas

Sem reflexos,

Sem refracções,

Apenas vibração única,

Suave,

Terna,

Onde as palavras nascem

De fonte pura,

 Límpida.

 

Palavras correntes,

Fio transparente,

Sem medos, nem mágoas,

Sem sombras, nem espinhos,

Apenas palavras exactas.

 

Silêncio,

Solar luminoso

Onde vivo e convivo,

Onde livremente o pensamento vai

De rocha em rocha,

De penedo em penedo.

 

Silêncio, borboleta arco-íris

Etérea de flor em flor,

Segredando palavras

Leves como aromas,

Perfumada com todos os perfumes

De Alecrim e rosmaninho,

Que o vento correndo

Espalha

Pelos velhos caminhos da aldeia,

Em dias de sol e amêndoas

   Zé Onofre