histórias de A a Z para aprender a ler e a escrever - Livro 1 - Hugo, o engenhocas
Hugo, o “engenhocas”
Era Domingo de Primavera,
Daqueles mesmos primaveris.
Um céu azul diáfano,
Uma ou outra nuvem feitas caravelas,
Uma aragem morna
Que os consolava das geadas
Que parecia partirem as janelas.
Era Domingo e,
Como não há Sábado sem sol,
Domingo sem missa
E segundas sem preguiça,
O Hugo e o resto da cambada,
Sobe a estrada com ar misterioso
De quem tem alguma preparada.
E na verdade assim acontecia.
Toda a semana Hugo os cansara
Com a mesma ladainha.
Domingo ninguém vai à missa das sete,
Vamos todos à das onze
Que o seu fim promete.
Naquele Domingo
O sermão parecia não ter fim.
Que raios, pensava o Hugo.
Logo hoje, que tenho pressa.
O Sr. Padre zangado,
Com palavras cortantes como facas,
Condenava uns tais de Tedy boys
E que um dia veríamos Tedy vacas.
Mal o padre disse
As palavras mágicas
“Ite missa est”.
Mesmo não sabendo latim,
Hugo e os seus amigos
Sabiam que a missa chegara ao fim.
Vão apressados atrás do Hugo
Que sobe as escadas do patronato
E desce ao poço do pára-raios.
Aparece de braços ao céu,
Nas mãos um carro de rolamentos
Como quem ergue um troféu.
Bolas Hugo, é essa a surpresa?
Hugo mergulha no poço de novo,
E com ar triunfante
Arranca lá do fundo um atrelado,
Que de tão comprido,
Todo amigo fica de olho arregalado.
Corre para a estrada.
Monta carro e atrelado.
Senta-se às guias.
Toca a sentar
Hoje vai tudo a foguete.
Estão aqui, estão em casa.
Está tudo pronto?
Vamos, lá então, na brasa.
As areias reduzidas a pó
Faíscam sob os rolamentos.
Nem se dão conta
Da curva logo ali.
Hugo inebriado com a emoção
Nem se apercebeu
Que a carga se esfola pelo chão.
Continua célere
Totalmente esquecido
Que outra curva já lá vem,
Mais apertada que a primeira,
Nada havia a fazer.
O carro já era
Lançara-se num ribeiro,
O Hugo voa no ramo de uma hera.
Zé Onofre