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Notas à margem

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Notas à margem

14
Nov22

Dia de hoje 75 A - Canto triste XII

Zé Onofre

                 75 A

 

                   Canto triste XII

 

022/11/13

 

Neste momento duro, feroz, estéril de sentido

De rota perdida, sem norte, nem bússola

Da vida em tudo afastado;

Onde nem poeta sonha, ou voz canta,

Nem criança tem doce sorriso;

Cujo nome, das gentes conhecido,

É democracia, na verdade, ditadura.

 

A qual a propaganda

Elevou às alturas

De verdade absoluta

Onde uma dúvida à sua verdade

É sinal, de herética malvadez,

Saudade de uma experiência falhada.

 

Sendo uma amostra onde

O desejo de um regime vil se esconde;

Nele aparece o governo que se encosta

Ao regime, que vem em crescendo,

Do século dezoito, liberalismo chamado

Que conforme o tempo foi volvendo,

A sua língua de mel-veneno composta,

Outros nomes lhe têm dado.

 

Agora como vento quer apressado

Derrubar com o seu longo braço

Tudo que a luta operária obteve

Tida pelo capital como desventura.

Agora, nesta hora de retaliação pura  

O imperialismo, num momento breve,

Quer que a luta operária fique sem espaço,

Que para sempre a exploração  

Mantenha, em todo o mundo, dominação. 

 

Aqui chegamos, vivendo tristes os dias,

Que enganados fizemos maus, solitários,

De desprezo e de humilhações cheios,

Trabalho forçado indigno de operários,

Depois de lutas duras terem tido direitos e regalias.

 

O capital com vãs promessas de cofres cheios

Põem os operários sozinhos com os seus meios,

A lutarem contra a sua própria natureza.

Não reparam que quem assim os ilude,

Quer que percam, da união, a memória  

De lutas duras em que lhes sorriu a vitória.

Que esqueçam a gente que na união viram a virtude,

Para acabar com o capital com toda a certeza,

Que, apesar de à exploração e ignorância sujeita, sabia

Que um mundo sem exploradores haver poderia

   Zé Onofre

 

23
Jul21

Souto 17

Zé Onofre

               17

 25/11/974

                    I

Procuro-me incansável

Por entre os factos do dia-a-dia

E encontro

Sempre a mesma imagem desamparada.

Procuro-me insistentemente

No espelho do que fiz

Derrotas e humilhações

E vejo-me pessimista.

Prendo-me ao passado,

Cadeia que me enreda

Em algumas certezas,

Muitas incertezas,

E vejo

Um ser melancólico.

               II

Cada lágrima é uma lápide

A cada glória desperdiçada.

Olho,

Vejo-me cheio de raiva

Pelos factos que me mostro

E que jamais fiz.

Entretanto

Os outros não me veem

Como imagem falsificada

De mim próprio.

Quando no meu quarto,

Tendo-me como companhia única,

Sinto em mim um desistente

Incapaz de desistir

Por inércia

E na esperança

Que novas forças

Me venham arrancar

A este torpe,

Estéril,

Inútil,

Viver

  Zé Onofre