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18/11/974
I
Perco-me
Na memória de mim
E na dos outros.
Não sei se nasci ontem
Se nasci hoje
Se estou ainda por nascer.
Faço-me
Hoje,
Todos os dias,
Marco de mim mesmo.
Ora sou ontem,
Ora me futuro amanhã.
Perco-me
Na memória de mim
E na dos outros,
Todos os dias
Me construo diferente.
Imagem sonhada,
Ou moldada
Pelo meu querer inconsciente.
A memória de mim
É sempre alterada
Pela memória dos outros.
II
Sendo eu,
Ou sendo outrem,
Não importa,
Seja ou o que for
As ilusões nascem-me como cogumelos.
Também a saudade
- Sempre a mesma palavra –
Se veste de recordação do passado,
Ora se enfeita de recordação do futuro,
Ou memória
Do que se não fez
E já não se pode fazer,
Ou esperança de encontrar
O que sequer se imaginou.
Saudade,
Que me prende ao passado,
Que me faz reviver o que fui,
E doentiamente o que não fui.
III
Sempre.
Procura permanente
De formas diferentes
De uma solução
Que crio,
Recrio,
Invento,
Destruo,
Endeuso,
Construo
E destruo.
A minha memória,
Factos de derrota,
De incertezas,
Desesperança de vencer.
A memória
Que me diz
Sentimental,
Rude,
Sensível,
Grosso,
Inteligente
E ininteligível.
Zé Onofre