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Notas à margem

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Notas à margem

23
Dez21

Por aqui e por ali 28

Zé Onofre

               28

 

985/10/07, confeitaria Mário, Amarante

 

Tâmega,

Rio de sons

A lembrar o futuro.

Tâmega,

Sons de Inverno

A lembrar o Verão.

Tâmega,

Sons do presente

Lembranças da infância.

Tâmega,

Lágrimas,

Saudades de gente

Que se foi

Nos meandros da vida.

Tâmega,

Imagem do passado,

Ânimo,

Alma para continuar.

Tâmega,

Repouso do dia-a-dia.

  Zé Onofre

 

23
Jul21

Souto 17

Zé Onofre

               17

 25/11/974

                    I

Procuro-me incansável

Por entre os factos do dia-a-dia

E encontro

Sempre a mesma imagem desamparada.

Procuro-me insistentemente

No espelho do que fiz

Derrotas e humilhações

E vejo-me pessimista.

Prendo-me ao passado,

Cadeia que me enreda

Em algumas certezas,

Muitas incertezas,

E vejo

Um ser melancólico.

               II

Cada lágrima é uma lápide

A cada glória desperdiçada.

Olho,

Vejo-me cheio de raiva

Pelos factos que me mostro

E que jamais fiz.

Entretanto

Os outros não me veem

Como imagem falsificada

De mim próprio.

Quando no meu quarto,

Tendo-me como companhia única,

Sinto em mim um desistente

Incapaz de desistir

Por inércia

E na esperança

Que novas forças

Me venham arrancar

A este torpe,

Estéril,

Inútil,

Viver

  Zé Onofre

21
Jul21

Souto 16

Zé Onofre

             16

 18/11/974

I

Perco-me

Na memória de mim

E na dos outros.

Não sei se nasci ontem

Se nasci hoje

Se estou ainda por nascer.

Faço-me

Hoje,

Todos os dias,

Marco de mim mesmo.

Ora sou ontem,

Ora me futuro amanhã.

Perco-me

Na memória de mim

E na dos outros,

Todos os dias

Me construo diferente.

Imagem sonhada,

Ou moldada

Pelo meu querer inconsciente.

A memória de mim

É sempre alterada

Pela memória dos outros.       

                      II

Sendo eu,

Ou sendo outrem,

Não importa,

Seja ou o que for

As ilusões nascem-me como cogumelos.

Também a saudade

- Sempre a mesma palavra –

Se veste de recordação do passado,

Ora se enfeita de recordação do futuro,

Ou memória

Do que se não fez

E já não se pode fazer,

Ou esperança de encontrar

O que sequer se imaginou.

Saudade,

Que me prende ao passado,

Que me faz reviver o que fui,

E doentiamente o que não fui.

                     III

Sempre.

Procura permanente

De formas diferentes

De uma solução

Que crio,

Recrio,

Invento,

Destruo,

Endeuso,

Construo

E destruo.

A minha memória,

Factos de derrota,

De incertezas,

Desesperança de vencer.

A memória

Que me diz

Sentimental,

Rude,

Sensível,

Grosso,

Inteligente

E ininteligível.

       Zé Onofre