Dia de hoje 83
83
022/12/19
Natal,
Orar ao Sol
Que regresse
Para nos tirar do Hades
O reino das trevas
Onde caímos no equinócio do Outono.
Natal,
A memória de um novo Sol
Que nasceu num curral escuro de Belém
Para dar uma nova Luz ao Mundo.
Natal,
Um novo olhar sobre a vida,
Uma nova visão dos homens,
Todos nascidos do ventre escuro da mãe,
Nus,
Sem coroas, nem mordomias,
Sem riquezas,
Todos nascidos de mãos nuas e puras.
Memória do nascimento de um menino,
Não por ter nascido um menino,
Igual a todos os outros meninos
E como outros tantos
Nascidos nas margens da vida,
Na margem da humanidade.
Natal, celebração de um Menino
No dia do seu Nascimento.
Porque esse Menino
Além de passar pelas fases de crescimento
- Criança e adolescente,
Jovem e adulto –
Cresceu também em Sabedoria
E Inteligência.
Aquele Menino, nascido num curral,
À luz das estrelas,
Entre animais e pastores,
No seu trabalho do dia-a-dia,
Na frequência da sua Igreja
Usando o saber que lhe transmitiam,
Usando a sua inteligência
Para ver a realidade
Confrontando-a com os ensinamentos.
Havia uma diferença abismal
Entre a vida e o ensinamento.
A sua aguçada inteligência
Não aceitava a distância
Que ia da palavra ao acto.
Principiou por confrontar
Os Mestres da sua igreja.
Denunciar,
Não a lei,
Mas a sua Manipulação
Pela hierarquia sacerdotal,
Pela hierarquia política,
Pela elite económica.
Há quem celebre o Natal
Como apenas o Nascimento de um menino.
É o Natal da minha infância.
Apanhar musgo,
Arbustos,
Para fazer o presépio na Igreja.
Era a alegria da brincadeira no Largo,
O entrar na Igreja para a Missa do Galo,
Ver o presépio iluminar-se
Ao som das badaladas da meia-noite
E de “o Gloria in excelsis Deo”.
Tudo isto depois da Ceia de Natal em família.
Como lembrar todos os nascimentos,
De tantas crianças
Que, como aquele menino,
Nasceram desamparados e abandonados por todos.
Como falar da miséria
Que fica para lá das janelas coloridas
Que expõem ao mundo o excesso
Enquanto, deitada em lençóis de neve,
Uma menina morre aquecida
Por fósforos não vendidos.
Como revolta
Contra aqueles que transformaram o Natal
Num Centro Comercial,
Que relegaram outra vez para um canto escuro
O aniversariante,
Substituindo-o por um velho barrigudo,
Barbas e cabelos brancos,
Vestido de vermelho,
O homem da Coca-cola.
Como apenas tendo sentido
Comemorar o Natal daquele menino,
Não pelo fato de ter nascido,
Mas pelo que fez
Até ser crucificado como um criminoso
Porque ousou enfrentar
Os poderes instituídos
Que manipulavam a lei em seu proveito.
Espero no próximo 24 de Dezembro
Comemorar com saudade o Natal da minha infância,
Sabendo, contudo, que o Natal
É muito mais que isso.
Zé Onofre