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Notas à margem

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Notas à margem

12
Ago22

histórias paraa ler e escrever - Livro I - Oto e a opa mágica

Zé Onofre

Oto e a opa mágica

 

OTO.jpg

 

Numa Terra, que poderia dizer

Ser longe, muito longe

E há muito, muito tempo.

Porém, nem a aldeia era no fim do mundo,

Nem isto aconteceu há muitos anos.

Casos como este estão sempre a acontecer.

 

Naquela aldeia, vila ou cidade

Havia um menino chamado Oto.

Era tão medroso, tão medroso,

Que vivia fechado no seu quarto.

Ao mais pequeno ruído

Já estava debaixo da cama.

 

Nunca saía sozinho à rua.

Apenas levado como um prisioneiro.

Dois guardas, um de cada lado,

Outros dois, um à frente outro atrás.

Mesmo assim a sua cabeça não parava.

Os seus olhos em tudo viam monstros.

 

Confessou uma vez, ao pai e à mãe,

Que até tinha medo de ter medo

E por isso se encerrava em casa.

– Assim não pode continuar.

– Até parece que é bruxedo,

Ter medo de ter medo!

 

Foram falar com os mais experientes.

Todos os ouviam com muita atenção,

Porém, ninguém tinha conhecimento de tal.

Desconheciam, portanto, qualquer solução.

Desistentes iam de cabeça baixa.  

Ouviram alguém gritar, sei como o fazer.

 

Olharam e repararam num garoto

Mais ou menos da idade do Oto.

Continuou o rapazinho. Para ele só magia,

Tenho lá em casa o que o Oto precisa.

Tenho uma opa que dá poderes mágicos

Mesmo ao menos corajoso dos meninos.

 

Vai lá buscar essa bendita opa

E vai ter connosco a nossa casa.

Se a tal opa não lhe fizer bem,

Mal também não lhe há de fazer.

O rapazito saiu disparado e chegou

A casa do Oto juntamente com os pais.

 

Filho anda cá. Não tenhas medo.

Um amiguinho tem uma prenda para ti.

De olhos quase fechados, pernas a tremer,

Pergunta trémulo, que tens aí?

Veste esta peça de roupa – uma opa.

Agora abre os olhos e vai até à porta.

 

Oto com a opa chega-se à porta,

Levanta os olhos, abre os braços.

Lança-se numa correria louca,

Passa caminhos, passa largos,

Passa montes, passa rios e lagoas.

Esbaforido regressa a casa.  

 

A opa? Opa! Que opa, pergunta o Oto.

Sou lá rapaz de usar uma peça dessas.

Ninguém mais me fale em opa.

Ninguém mais me diga que sou medroso.

Dizerem que tinha medo de ter medo! 

Ridículo! Uma opa contra o medo?!

Desenvolvimento

  1. Igual até ao ponto 12 dos outros textos
  2. Exemplo de frase

O Oto correu com a opa pelas ruas e praças.

  1. Dividem as palavras escolhidas em sílabas

 

              O + to                  o + pa

       

  1. Preenchem os seguintes quadros silábicos.

 

O + to                                     o + to

 

A                                                a

E                                                 e

I         I                                        i       i

O       O                                       o      o

U        U                                      u      u

Ãe                                              ãe

Ai                                               ai

Ao                                              ao

Ão                                              ão

Au                                              au

Ei                                               ei

Eu                                              eu

Iu                                               iu

Õe                                              õe

Oi                                               oi

Ou                                              ou

Ui                                               ui 

 

  1. Com as frases

 

O meu nome é____________________.

A Inês fez uma fogueira na ilha.

O Ulisses foi às uvas.

O Oto correu com a opa pelas ruas e praças.

 

  1. Proceder como nos núm. 14.15.16.17 dos outros trabalhos.

 

02
Out21

Penafiel 50

Zé Onofre

50

 

30/11/977

 

Natal

Natal.
Que palavra mágica
De enganar com ternura.
Há negociantes
Vendedores de Natal a metro.
Há velhos,
Roucos de silêncios
Nos bancos do jardim.
Há bairros de miséria,
Emparedados
Nas cercanias da opulência.
Há chuva,
Há vento,
Há sol,
Contratempo.
Há neve,
Algodão branco,
Nas montras.
Há casas de penhores
Em esquinas
De ruas esquecidas.
Vê-se lá,
A miséria do povo
À venda, nos mostruários,
As ilusões
Por uns míseros tostões.
Há casas decoradas
Com vermelhos,
Sangue,
Grito abafado
Nos corações,
De quem corre atrás do impossível.
Trabalhadores "apressadas"
Crianças, olhos arregalados
Bocas salivando,
Junto à montra das ilusões.
Há casas coloridas,
Cores arrancadas
À fome do dia a dia
De quem envergonhado,
Vai escondendo a fome que os alimenta.
Há risos,
Sorrisos,
Nas faces.
Há passos
apressados
Nas pedras dos caminhos
Há fúrias incontidas
No fundo das cores.
Há angústia,
Há raiva.
Há gente apressada
Levando amor,
Levando a paz,
Em embrulhos coloridos
Até às casas dos esquecidos da vida.
Bem sei,
É Natal...
Não deveria dizer,
Não deveria contar,
Não deveria expor
A realidade crua do outro lado do Natal.
Deveria guardá-la
No segredo
Do silêncio
Das grades dos sonhos perfumados,
Dos salões
Onde se projecta «este» Natal.

E, contudo,
Um dia fui criança.
Gostava de ir ao musgo,
À relva,
Aos galhos de árvores.
Gostava do presépio
No cantinho da sala,
De me levantar no Dia de manhã
Encontrar lá
Algum rebuçado deixado
Pelo Menino Jesus.
Gostava do presépio
Junto ao altar da Igreja
Que ajudara a fazer.
Gostava da noite "do par ou pernão",
No fim da Ceia,
À volta da lareira.
Gostava das brincadeiras
No largo da Igreja
À espera da Missa do Galo.
(Se me é permitido
Tenho saudades, mas muitas,
Desse Natal.)
Tenho saudades daquele Natal
Em que a Rosário respondeu ao Sr. Abade
- O Natal é comer!
(Por que caminhos te achaste,
Rosário?)
O que aconteceu ao "eu" rapazinho
Que tenho saudades
Das pinhas assadas no braseiro,
Do musgo fofo do monte,
Das brincadeiras na noite mágica
Da Missa do Galo,
Para agora olhar,
As gentes e as ruas,
As montras com neve de algodão,
As casas tremelicantes de luzes,
E sem ânimo,
Entre a saudade e o desespero,
Dizer
"Bem sei
É Natal.

  Zé Onofre

01
Jul21

...

Zé Onofre

Bem sei é Natal

Natal, cada um tem o seu Natal.

Que palavra mágica

De enganar com ternura.

Há negociantes

Vendedores de Natal a metro.

Há velhos,

Roucos de silêncios

Nos bancos do jardim.

Há bairros de miséria,

Emparedados

Nas cercanias da opulência.

Há chuva,

Há vento,

Há sol,

Contratempo.

Há neve,

Algodão branco,

Nas montras.

Há casas de penhores

Em esquinas

De ruas esquecidas.

Vê-se lá,

A miséria do povo

À venda, nos mostruários,

As ilusões

Por uns míseros tostões.

Há casas decoradas

Com vermelhos,

Sangue,

Grito abafado

Nos corações,

De quem corre atrás do impossível.

Trabalhadores/ apressadas 

Crianças, olhos arregalados

Bocas salivando,

Junto à montra das ilusões.

Há casas coloridas,

Cores arrancadas

À fome do dia a dia

De quem envergonhado,

Vai escondendo a fome que os alimenta.

Há risos,

Sorrisos,

Nas faces.

Há passos apressados

Nas pedras dos caminhos

Há fúrias incontidas

No fundo das cores.

Há angústia,

Há raiva.

Há gente apressada

Levando amor,

Levando a paz,

Em embrulhos coloridos

Até às casas dos esquecidos da vida.

Bem sei,

É Natal...

Não deveria dizer,

Não deveria contar,

Não deveria expor

A realidade crua do outro lado do Natal.

Deveria guardá-la

No segredo

Do silêncio

Das grades dos sonhos perfumados,

Dos salões

Onde se projecta «este» Natal.

Contudo,

Um dia fui criança.

Gostava de ir ao musgo,

À relva,

Aos galhos de árvores.

Gostava do presépio

No cantinho da sala,

De me levantar no dia de Natal 

Encontrar lá

Algum rebuçado deixado

Pelo Menino Jesus.

Gostava do presépio

Junto ao altar da Igreja

Que ajudara a fazer.

Gostava da noite "do par ou pernão",

No fim da Ceia,

À volta da lareira.

Gostava das brincadeiras

No largo da Igreja

À espera da Missa do Galo.

Se me é permitido

Tenho saudades, mas muitas,

Desse Natal.

Tenho saudades daquele Natal

Em que a Rosário respondeu ao Sr. Abade

- O Natal é comer!

(Por que caminhos te achaste,Rosário?)

O que aconteceu ao "eu" rapazinho

Que tenho saudades

Das pinhas assadas no braseiro,

Do musgo fofo do monte,

Das brincadeiras na noite mágica

Da Missa do Galo,

Para agora olhar,

As gentes e as ruas,

As montras com neve de algodão,

As casas tremelicantes de luzes,

E sem ânimo,

Entre a saudade e o desespero,

Dizer

"Bem sei

É Natal.

Zé Onofre