Penafiel 10
10
23/05/978
Já não consigo
Levar nada a sério.
Já lá vai tudo perdido
Nas águas da Ribeira.
Loucura,
Vento,
Sol,
Nada.
Apena chuva.
Zé Onofre
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10
23/05/978
Já não consigo
Levar nada a sério.
Já lá vai tudo perdido
Nas águas da Ribeira.
Loucura,
Vento,
Sol,
Nada.
Apena chuva.
Zé Onofre
7
11/07/972
I
Que é feito do meu poema?
(Do poema que sonhei,
Só mesmo sonhado poderia ser meu.)
Poema tão lindo,
Tão gritantemente lindo.
Lancinante
De ódio,
De morte,
De azar,
De loucura.
Que é do sonho
Do poema do sonho
Que sonhei
No meio da febre,
Breve sonho.
II
Perdido.
Perdido de quem?
Perdido do quê?
Perdido desde quando?
Perdido onde?
Perdido para quê?
Perdido,
Perdido de mim mesmo.
Tudo me foi roubado.
(Mas quê,
Se nada sou,
Se nada tenho.
Até mesmo o poema
Nascido num sonho de febre
Não é meu.)
III
Vestido de lágrimas,
Uma a uma caídas
Lenta, lentamente,
Mais lentas,
Que o passar lento dos segundos
(Segundos ou anos?)
Tudo lento,
Como um relógio parado
E sou eu esse relógio.
IV
As lágrimas caídas,
Ping Ping Ping
Gotas de um teto calcário
Esculturando estalactites,
Seres fantasmagóricos,
Viventes no fundo de grutas,
Nuas e frias.
Grutas que as lágrimas
Caindo uma a uma,
Dos meus olhos solitários,
Criam no fundo de mim
Onde me escondo.
V
As minhas lágrimas
Tristes,
Somente lágrimas
De um perdido,
Há tantos anos perdidos,
Sem encontrar
Seja o que for,
Que nem eu sei o que procuro.
VI
As lágrimas
Uma a uma caídas,
Caindo há tanto tempo,
Despedem-se de mim,
Correndo pelo chão,
Até um largo lago,
Um mar
De ondas revoltas,
Batendo nas rochas negras,
Cobertas de algas,
Escorrendo espumas
De sal,
De solidão.
VII
As lágrimas
Uma a uma caídas
Dos meus olhos
De Olhares indefinidos,
Fixos
Num ponto para além de todos,
Para além das palavras,
Para além dos ecos do meu peito,
Das saudades que carrego,
Nem sei desde quando.
VIII
As lágrimas
Uma a uma caídas
Dos meus olhos,
Palavras repetidas, sempre repetidas
Na longa caminhada do deserto
Em que me fiz.
Dúvida.
Incerteza.
Tristeza.
Perdido.
Desnorteado.
Ontem.
Amanhã.
Amor.
Caminho.
Paz.
Longe.
Dentro.
Desencanto.
Desiludido
Loucura.
IX
As lágrimas
Uma a uma caídas
Dos meus olhos
Tristes,
Apagadas
Pelas curvas da vida.
Caídas,
Da longa bacia do meu olhar,
Lápide comemorativa
De cada morte que vivi,
Pela tortuosidade do ser.
Saídas do bosque
Sombrio
Dos meus pensamentos emaranhados
Que se atropelam
Zé Onofre