Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Notas à margem

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Notas à margem

12
Mai23

Histórias de A a Z para aprender a ler e escrever - Livro II - A princesa encantada

Zé Onofre

A PRINCESA ENCANTADA

 

Era uma vez…

Num reino para além

Dos horizontes

Dos vales, das montanhas,

Das lagoas, dos rios,

Dos mares e das fontes.

 

Era uma vez…

Num reino lá atrás,

No início de todos os anos,

De todos os séculos,

Das eras perdidas

E quem sabe

Num tempo sem medidas.

 

Nesse reino,

Sem espaço, nem tempo,

Vivia um rei

Senhor das terras,

Dos rios e dos lagos,

Dos prados e dos montes,

Dos mares e das praias,

Dos navios e das pontes.

 

Era dono

Dos seres vivos.

Dos que vivem nos ares,

Nas terras

E nos mares.

Da vegetação,

Do feno que ao vento ondula,

Aos arbustos que dançam

À canção do vento nas árvores.

De todos os minerais e pedras preciosas

Dos cinzentos granitos aos claros mármores.

 

Apesar de ser dono de tudo,

Deste deslumbramento

De tantas riquezas

De tanto mundo

De tantas belezas

Em que tudo se verga aos seus passos.

Apesar de tudo vivia triste.

Não tinha filho, nem filha,

Não teria neto, nem neta

Que apertasse nos seus braços,

Cada vez mais secos e cansados.

 

Um dia,

Em que o desânimo batia forte

Apareceu um velhinho

Trazido nas asas do vento norte.

Disse,

Na sua voz doce,

Serena e forte,

Que tinha vindo

Para acabar com a tristeza

Que há anos atormentava

Sua real alteza.

 

Logo o rei

Lhe prometeu mundos e fundos,

Riquezas mil que estavam à sua escolha

Por todo o seu reino.

O velhinho disse

De tudo quanto me oferece

Daqui só quero apreciar,

A ondulação do feno, verde-mar,

A canção do vento

Que faz os arbustos dançar.

 

Assim quis, assim se fez.

Passados nove meses

Aconteceu o que tinha de acontecer,

Com a bênção do velhinho,

Talvez sábio, ou feiticeiro,

Um menino acabou por nascer.

 

Nasceu Ricardo.

Cresceu belo e inteligente.

Porém,

Sem a companhia duma criança

Era um Ricardo desanimado,

Que vivia sem a esperança

Dum dia ter alegria.

A PRINCESA ENCANTADA.jpg

O rei

Ao ver o seu filho

Uma criança já envelhecida.

Lembrou-se

Do Velhinho,

Talvez sábio ou feiticeiro,

E pôs todos os seus criados à sua procura.

Que visitassem as searas ao vento,

Os arbustos a dançar,

Nas canções do vento.

Que visitassem todas as grutas,

Levantassem todas as pedras,

Atrás de todos os penedos,

Que não deixassem palmo por averiguar.

 

Assim fizeram,

Com esmero cumpriram as ordens

Nada ficou por esquadrinhar.

Do velhinho,

Sábio ou feiticeiro

Nem uma breve visão,

Nem o mais leve cheiro,

Ou algum som que dele viesse.

Voltavam

Já vencidos pela pouca sorte.

Ao entrarem no caminho,

Rumo ao Castelo

O velhinho

Aparecido ali, não sabiam de onde,

Trazia na mão uma gaiola de arame

Que tinha dentro um rato

Enfeitado com um laço amarelo.

 

O que se pode dizer

Contentes como um rato

Correram, quase voavam

Onde o Rei e a Rainha,

Aios e aias

E claro o Ricardo

Os aguardavam com ansiedade

E já nada de bom agouravam.

 

Ergueram a gaiola

Como se fosse um troféu

Desmontaram todos ao mesmo tempo

E com o devido respeito

Dirigiram-se à família real

E à sua frente ajoelharam,

Apresentaram a prenda original.

 

A luz voltou ao castelo.

Ricardo crescia agora

Belo, inteligente e alegre.

Era o rato atrás do Ricardo,

Era o Ricardo a seguir o rato.

Andava tudo num reboliço.

Móveis que saíam do lugar,

Jarras que se partiam

Depois de um voo pelo ar.

As carpetes ondulavam,

As tapeçarias balouçavam.

 

Apesar de contentes

Pela energia inebriante

Do seu filho Ricardo.

O que o pai e a mãe não sabiam,

Era com quem brincava o seu infante.

Onde os reis babados

Pela alegria sem comparação

Do seu filho Ricardo

Viam apenas um rato,

O filho de suas altezas

Brincava com a mais bela

De todas as princesas.

 

Um dia

O rei João

Meteu na sua cabeça

Que chegara a hora de casar o Ricardo.

Este não gostou da lembrança.

Casar com quem

Perguntava à mãe

Que lhe dava mais confiança.

Não te aflijas seu tolo,

O teu pai quer, porque quer

Ter um neto, ou uma neta,

Nem repara que ainda és criança.

 

Todavia sua majestade

Insistia,

Persistia,

E por fim decidiu.

Amanhã começamos à procura,

Pois, menino Ricardo,

É chegada a altura

De deixares de brincar com o rato.

 

Na manhã seguinte,

Ricardo

Desceu com decisão

A escadaria

Que ia para a sala de jantar.

Levava na mão a gaiola

E o rato com o laço amarelo.

Senhor meu pai,

Minha querida mãe,

Já que me querem casar

Aqui têm

A minha pretendida.

Dizendo isto Ricardo

Com toda a delicadeza

Pousou a gaiola e o rato

Numa cadeira, à mesa.

 

Que brincadeira é esta.

Pensas que isto é uma brincadeira?

Onde já se viu um Príncipe

Casar com um simples rato,

Que por sorte escapou da ratoeira?

Meus soberanos pais,

Não estou a brincar.

Por favor abri os olhos

E vede o que tendes à vossa frente.

E sem magia, mas com lucidez,

Os pais com olhar persistente

Viram para seu espanto

Aparecer sentada à mesa

Não o rato das brincadeiras

Mas uma menina airosa

De rara beleza.

  Zé Onofre

19
Ago22

Histórias para aprender a ler e escrever - Livro I - O monte do Pastor

Zé Onofre

Monte do Pastor

 

O MONTE DO PASTOR.jpg

 

Há, numa aldeia,

Perdida das estradas

Mais conhecidas do país,

Um monte a que chamam

O monte do Pastor.

 

É um lugar calmo,

Verdejante,

Onde no verão

Corre uma aragem fresca

Que convida as crianças

Para as suas inocentes brincadeiras.

 

Lá, no cimo do monte,

Há um penedo

Que o tempo e o vento

Moldaram em forma de lobo.

 

Um lobo a chorar.

Dos buracos dos olhos,

Dois fios de água,

Escorrem pelo focinho.

É ali que nasce o ribeiro da aldeia.

 

Ora, conta-se que em tempos antigos

Um rei poderoso e malévolo

Se apaixonara pela princesa Uiara,

A sereia das águas doces.

 

O rei poderoso e malévolo

Pediu princesa Uiara em casamento.

Não,

Estou noiva do Príncipe Pastor.

 

Furioso, o malévolo rei

Foi ter com o Príncipe Pastor.

Exigiu-lhe,

Ameaçando-o,

Que desfizesse o noivado com Uiara.

 

O poderoso e malévolo rei

Arrastou o príncipe Pastor

Até à princesa Uiara

E ordenou-lhes que se separassem.

Não, disseram os dois à uma.

 

O rei ficou tão dentro da sua malvadez

Que enviou o Príncipe Pastor para a lua,

Agarrou a linda Uiara nos seus braços

E transformou-se em cabeça de lobo.

A princesa começou a chorar.

A água que escorre do penedo

São as suas lágrimas tristes.

 

Passados muitos anos,

Um jovem desconhecido

Passou pelo penedo. 

Sequioso encostou os lábios

Para beber a água fresca que corria.

 

Nesse preciso momento

Ouviu-se um forte uivo,

Do rei-lobo

Que sentiu que aqueles lábios

Vieram para libertar a Uiara.

 

Foi tão forte e tremendo o uivo

Que o penedo abriu uma fenda.

Pela fenda saiu Uiara.

De mão dada foi com o jovem desconhecido.

Pela fenda continua a jorrar água,

As lágrimas aprisionadas

Que o uivo libertou.

 

Desenvolvimento

 

Frase – Ex.: O uivo do lobo libertou a princesa Uiara.]

 

Proceder como nos textos anteriores

22
Abr22

Dia de hoje 101

Zé Onofre

                 101

 

sd

 

O certo é que,

E para o caso pouco importa,

O caso é, digo eu

Que Inês é morta.

 

Não foi preciso o “Bravo”,

Nem a sua sombra tutelar,

Que usou um Pacheco qualquer

Como arma mortal.

 

Apenas se o tempo foi Rei

E a rotina, que longamente se instalou,

Foi do Pacheco a mão assassina

Que o sonho ao amanhecer matou.

 

Agora resta-nos

Reconstituir em fita,

Fazer de conta que o tempo não passou

Que a rotina não se instalou.

 

O certo é,

E para o caso até importa,

Que Inês é morta.

   Zé Onofre