Histórias de A a Z para aprender a ler e escrever - Livro II - Primeira vez
Primeira vez
Quantas vezes,
Cátia,
Sentada nos bancos da estação,
Sonhou entrar no comboio.
Desde que se lembrava
Via-os passar,
Ouvia o seu cantar lento,
Mas ritmado,
Pouca-terra, pouca-terra.
Via-os chegar à estação,
Cansado a arfar,
Suado e sequioso
Refrescar-se e beber,
A goles enormes,
Água fresca.
Pois aquele
Era o dia dos seus sonhos.
Cátia iria com a mãe,
Visitar a tia Maria,
Ao Porto,
De comboio.
Durante a viagem,
Os seus sentidos dispersavam-se
Entre o bambolear da carruagem,
As árvores que fugiam
Dos seus olhos,
Os sons da máquina
Pouca-terra, pouca-terra,
As rodas a chiarem nas paragens,
O matraquear das rodas nos carris.
Nos intervalos
Massacrava a mãe com perguntas.
Ainda falta muito?
Como é o Porto?
Tem campos de milho?
E riachos como o da nossa casa?
Como são as casas do Porto?
A casa da tia é como a nossa?
Para bem da paciência da mãe,
A máquina estafada
Resfolegou uma última vez.
Desceram e seguiram
As dezenas de pessoas,
Que apressadas,
Se dirigiam à porta de saída,
Onde um homem de farda castanha,
Via os bilhetes.
A tia esperava-as de fora
E conduziu-as até à rua.
Cátia não acreditava,
Não queria acreditar,
No que os seus olhos viam.
Casas mais altas do que pinheiros,
De braço dado umas às outras,
Ladeavam um leito,
Onde não corria água,
Mas carros,
Uns para cima, outros para baixo.
Não tinha acordado, ainda,
Deste seu espanto
Quando um comboiozinho amarelo
Descia por entre as pessoas e os carros
Parecendo vir para cima dela.
Com o susto saltou para o lado
No momento em que mudava de direção,
O comboiozinho.
Tia,
Aqui no Porto
Os comboios andam
Por entre as pessoas e os carros?
Não,
Minha tontinha,
Aquilo não é um comboio,
É um carro elétrico.
Eu explico-te.
É uma espécie de camionete,
Que anda em cima de carris
E é movido a eletricidade.
Para completar
A alegria surpresa
A tia levou a Cátia
No carro elétrico.