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Notas à margem

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Notas à margem

02
Mar23

Dia de hoje 89 Canto triste XV

Zé Onofre

                89

 

 023/03/01

 

Canto triste XV

 

Só uma palavra, apenas uma frase,

Só um pranto de molhada dolência,

Tudo maré vazante sem espanto.

 

Outra vez Zeca, Adriano,

Santareno e Redol,

Que nosso sonho ficou longe

E o presente de apagado farol.

 

Que venha o sol, novo amanhecer,

Mais um canto desesperado,

Por todos os filhos a haver.

 

Oh, volta Zeca, Adriano,

Santana e Redol.

A nossa utopia ficou longe,

E o futuro sem farol.

 

Choro este silêncio desesperante

Que faz da tristeza sozinha

Uma tristeza gigante.

 

Regressemos a Zeca, Adriano,

Santareno e Redol.

O futuro cada vez mais longe

E a perder-se a luz do farol.

   Zé Onofre

11
Jan23

Rebusco 8

Zé Onofre

          8

992/10

 

Ser céu e ser vento.

Forma retorcida, revolta

Nuvem correndo veloz,

Estar só sem nada à volta.

 

Ouvir na sala, em silêncio,

A chuva que lá fora cai.

Ouvir o canto do vento

Que apressado fala e se vai.

 

Cheirar a terra molhada,

As folhas que a terra destrói.

Sentir o cheiro das castanhas

Que queimam as mãos, mas não dói.

 

Olhar as cores mil que inebriam:

Do verde austero do pinhal,

Ao cinzento fugidio das nuvens,

Sonhar regressos ao pecado original.

  Zé Onofre

30
Dez22

Rebusco 6

Zé Onofre

               6

 

989/11/30

 

            I

 

Se eu fosse um pássaro

Era pequenino

Estava no quente

Do meu ninho

 

             II

Entra uma criança na escola

Com vontade de falar

Da sua vida.

 

Logo no primeiro dia

O silêncio fez-se.

Nada mais houve,

Para além de palavras sem sentido.

 

              III

 

De exercício em exercício

Matamos

A criatividade.

 

De exercício em exercício

Geramos

A monotonia.

   Zé Onofre

09
Nov22

Dia de hoje - 73 - Canto triste IX

Zé Onofre

           73

Canto triste IX

 

022/11/08

 

A primavera de Abril foi bonita de viver

Tão depressa avançava como estava a retroceder.

Para mim acabou a arte de se sonhar

Parece que Fascismo se disfarçou para a matar.

 

Não há cantores na rua a alegrar a caminhada

Por mais gente que vá na rua sinto-a muito acomodada.

De que vale haver um motivo para o povo se revoltar

Ter vontade de o fazer e não ter com quem a partilhar?

 

Passo horas à escuta, à espera de ouvir.

Tudo à volta é silêncio não sei para onde ir.

Vejo agora aqueles dias que não soubemos usar,

De manhã ouço um sábio – Nada há para mudar.

 

 

Vou por aí abaixo a chamar a todas as janelas

Pelas avenidas, ruas, veredas e vielas.

Companheiro, a primeira tentativa morreu de sede

Vem daí, vamos juntos escaqueirar esta parede.

 

Não vês que ser escravo em lei alguma está disposto,

Tens de lutar por um futuro que raie com novo rosto.

Porque não é, por ser como é, que tenha de ser assim

Há ainda uma revolução para mudar o mundo, sim.  

   Zé Onofre

 

 

 

09
Jun22

Por aqui e por ali 146

Zé Onofre

                146

 

018/10/06, Livração

 

Sons e palavras,

Sons e silêncios.

Fantasmas do passado,

Vindos de lá do início do tempo,

Em que os Homens

Inocentes viviam

No ser que eram,

Desconhecendo o ter.

 

Sons e silêncios,

Fantasmas dos tempos

Que foram seguindo

Levando na sua corrente os Homens

Que somos hoje.

 

Silêncio puro

Que transformamos em monstros

Palavrosos

Que manipulam e enganam,

Que nos engolem e nos excretam,

Lixo que somos.

 

Agora os fantasmas somos nós,

Aqui e agora,

Sombras que pensamos viverem.

Não passamos de mortos a brincar de vivos.

  Zé Onofre

07
Jun22

Por Aqui e por ali 145

Zé Onofre

              145

 

018/08/10, Casa de Xisto, Paredes de Coura

 

Silêncio,

É cristal puro

De transparências líquidas

Sem reflexos,

Sem refracções,

Apenas vibração única,

Suave,

Terna,

Onde as palavras nascem

De fonte pura,

 Límpida.

 

Palavras correntes,

Fio transparente,

Sem medos, nem mágoas,

Sem sombras, nem espinhos,

Apenas palavras exactas.

 

Silêncio,

Solar luminoso

Onde vivo e convivo,

Onde livremente o pensamento vai

De rocha em rocha,

De penedo em penedo.

 

Silêncio, borboleta arco-íris

Etérea de flor em flor,

Segredando palavras

Leves como aromas,

Perfumada com todos os perfumes

De Alecrim e rosmaninho,

Que o vento correndo

Espalha

Pelos velhos caminhos da aldeia,

Em dias de sol e amêndoas

   Zé Onofre

19
Mai22

Por aqui e por ali 128

Zé Onofre

128

 

011/02/25, Biblioteca EB2.3, Vila Caiz, Amarante        

 

Silêncio …

Que bom ouvir o fluir das raízes

Nas entranhas da terra,

Os segredos dos ventos

Nas folhas macias,

O canto das aves

No cimo da madrugada,

O luar

No orvalho verde do anoitecer,

O cintilar das estrelas

Na brisa do infinito,

O crepitar do Sol

Nas sombras do amanhecer.

  Zé Onofre

 

17
Mai22

Por aqui por ali 126

Zé Onofre

                 126

 

2008/09/02

 

Bendito silêncio,

Dimensão plena do som.

Bendito silêncio,

Viagem além das nuvens e dos horizontes.

Bendito o silêncio,

Caminho para o longe de nós mesmos.

Bendito o silêncio,

Dimensão da eternidade.

Obrigado silêncio, pelo que me dás.

Obrigado silêncio, por me ajudares a manter a serenidade.

  Zé Onofre

23
Abr22

Por aqui e por ali 102

Zé Onofre

              102

 

sd

 

O céu e o vento,

Formas torcidas,

Revolta nuvem correndo veloz

Estar só, sem nada à volta.

 

Ouvir na sala em silêncio

A chuva que lá fora cai.

Ouvir o canto do vento

Que apressado canta e se vai.

 

Cheirar a terra molhada,

A folhagem que a terra destrói,

Sentir o calor das castanhas

Que queimam as mãos, mas não dói.

 

São cores mil que inebriam

Do verde austero do pinhal

Ao cinzento fugidio das nuvens

São regressos ao pecado original.

Zé Onofre