Rebusco 26
26
098/05/05
Era uma vez uma nota.
Andava fugida,
Nunca era apanhada no sítio certo.
Nunca ninguém soube
A que casa ela pertencia.
Saltava daqui
Ia para ali
De repente estava acolá.
Era o desatino de todos os músicos.
Um certo músico,
Mais persistente
Que a fugitiva nota,
Decidiu no seu íntimo
Domesticar a vadia.
Sentou-se à mesa
Onde treinava
O aprisionamento das notas.
Umas notas
Estavam no isolamento.
Outras emparelhadas.
Era uma cadeia multigénero,
Cabiam lá as notas, as mais diferentes.
Umas com rabos-de-cavalo,
Com um ou vários totós,
Outras de pernas para o ar.
Eretas,
Pretas retintas.
Algumas
Bolas de sabão,
Onde a luz ao passar
Soltava arcos-íris.
Estava decidido a cativar a fugitiva.
Porém, a espertinha usando de manha
Ora descia planando silenciosa,
Ora sapateava no teto
Onde se refugiava.
Ah maldita nota vadia,
Não haverá pauta que te sirva?
Trombeteava o músico,
Já quase vencido.
Teve, então, uma ideia de génio,
Que apenas os génios da música têm.
Se não te posso agarrar,
Posso ao menos registar
O teu rasto.
Pensou-o e fê-lo.
Durante um tempo longo,
Foi notando o seu rasto.
No fim tinha a nota no seu lugar.
No final,
Tinha escrito a mais bela sinfonia,
Que algum dia fora escrita.
Zé Onofre