Histórias de A a Z para aprender a ler e a escrever - Livro I - Os socos da Sónia
Os socos da Sónia
Sónia,
Por motivos de necessidade,
Passou uns dias com os avós
Bem longe da cidade.
Sónia conhece
A aldeia dos pais
Apenas de dia de festa
E, claro, pelos natais.
Estranhava
Os caminhos.
Arrastavam-se sós
Até às casas,
Plantadas em tapetes verdes,
Ou suspensas dos ramos das árvores
E do azul do céu.
Da janela
Observava espantada
O que lá fora se passava.
Nos caminhos solitários,
Nem um chiar de travões.
Ouvia-se
Um chiar de carro de bois ao longe
Um raro som de tractor,
Ou uma voz
Que subia da rua
E os avós como estão?
Coisa estranha,
As pessoas iam e vinham
Pelos caminhos
Centradas no ontem,
Ou no amanhã,
E os pés levavam-nas,
Sem engano,
Aos seus destinos.
Via a vida acontecer
E ela a vê-la da bancada.
Um dia saltou da cama,
Passou a correr
Pelos avós.
Vou fazer uma caminhada
E foi.
Nem ouviu o aviso do avô.
Toma atenção por onde vais,
Para não te perderes
Por esses campos ou montes.
Olha por onde vais,
Para saberes voltar.
Já ia longe
Pisava a erva verde,
Saltava os fios de água,
Corria pelos carreiros dos montes
Atirava-se para um penedo
Estendido no meio do pinhal.
Deu-se conta
Que certamente estaria perdida,
Ou pelo menos louca de certeza.
Não sabia por onde regressar,
O que também não sabia
Era que o vento podia
Segredar aos ouvidos
Palavras tontas
Calça os socos certos.
Doidinha e perdida
Estou.
Agora socos,
Socos que não vira
E agora ali estão eles.
Uns, amarelos de sol poente,
Outros vermelhos, sangue ardente.
Calço uns e logo se vê.
Apenas diferem na cor,
Ambos servem para caminhar
Irei ter a algum lugar.
Calçou um soco amarelo
Apenas luz
De dia a acabar.
Calçou um soco vermelho
Viu-se
Como quem se mira ao espelho.
São os socos vermelhos
Pois então.
Não hesitou mais
E já tem os dois calçados
E num zás-trás
Ouviu o avô
Então, ainda aí estás?