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Notas à margem

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Notas à margem

28
Mar23

Comentário 310

Zé Onofre

                  310

               

023/03/---

 

 Sobre “fala-me um pouco de ti” por Maria Soares, em 17.03.23 no blog  https://silencios.blogs.sapo.pt

Quando o caminhante

Se confunde com o caminho;

Quando o caminhante cria o caminho

Pelo qual vai caminhar;

Quando o olhar

Não distingue o caminheiro,

Do caminho que sonho criou,

Ficamos sem saber

Se há um caminhante,

Distinto de nós,

Ou se somos nós 

Que deambulantes,

Caminhamos?

   Zé Onofre

02
Mar23

Dia de hoje 89 Canto triste XV

Zé Onofre

                89

 

 023/03/01

 

Canto triste XV

 

Só uma palavra, apenas uma frase,

Só um pranto de molhada dolência,

Tudo maré vazante sem espanto.

 

Outra vez Zeca, Adriano,

Santareno e Redol,

Que nosso sonho ficou longe

E o presente de apagado farol.

 

Que venha o sol, novo amanhecer,

Mais um canto desesperado,

Por todos os filhos a haver.

 

Oh, volta Zeca, Adriano,

Santana e Redol.

A nossa utopia ficou longe,

E o futuro sem farol.

 

Choro este silêncio desesperante

Que faz da tristeza sozinha

Uma tristeza gigante.

 

Regressemos a Zeca, Adriano,

Santareno e Redol.

O futuro cada vez mais longe

E a perder-se a luz do farol.

   Zé Onofre

05
Jan23

Rebusco 7

Zé Onofre

               7

 

989/11/30

O pragmático tem como bandeira,

Embora a não desfralde,

O quero, posso e mando.

 

O pragmático tem um só sonho,

Embora o esconda nas sombras,

O de poder servir um ditador.

 

O pragmático acredita,

Embora não o confesse,

No ser humano, desumanizado.

 

O pragmático sabe,

Embora não o diga,

Que o medo é o melhor veneno para o Ser.

 

O pragmático, contudo, tem receio,

Embora não o transpareça,

Que da anulação do Ser nascerá,

Mais uma vez, a Esperança.

   Zé Onofre

03
Nov22

Histórias de A a Z para aprender a ler e a escrever - Livro I - Zita

Zé Onofre

Zita

ZITA (2).jpg

Zita, dos olhos inquietos,

Inquiridores, saltitantes,

Sempre irrequietos,

De sonhos brilhantes.

 

Agora aqui, já acolá

Sempre em andança

A sua imaginação

Não tem parança.

 

Agora, e não há engano,

Acabou de subir,

No avião das dez,

Para o Brasil.

 

Já está de volta,

O que não é mau,

No avião das onze,

Para Macau.

 

Na viagem de regresso,

Como é prática,

Foi ver a Índia

A caminho de África.

 

Olhem, lá vai a Zita,

Cabelo em desalinho

Montada numa zebra,

Como se fosse um torvelinho

 

Veloz como o pensamento,

A nossa pequena dama

Imagina que é mesmo

Uma Rainha Africana.

  Zé Onofre

14
Mai22

Por aqui e por ali 123

Zé Onofre

                    123

 

2003/__/__

 

Se não fosse a curiosidade

Que vem

Não se sabe de onde

 

Da pedra fortuitamente

Lascada

Não teria havido o machado,

 

Nem da faísca casual

Surgiria

O fogo sagrado.

 

Se não fosse a inquietude

Que vai

Não se sabe até que além,

 

Na martirizada Suméria

A escrita

Não teria tido o seu natal,

 

Nem teria havido pirâmides,

Nem Grécia,

Nem Roma Imperial.

 

Se não fosse este sonho

Que nos empurra

Sempre para mais e mais longe,

 

A escravatura seria

Ainda

A lei e a ordem,

 

O privilégio seria a norma

Não haveria

A declaração Universal dos direitos do Homem.

  Zé Onofre

16
Abr22

Por aqui e por ali 95

Zé Onofre

              95

 

996/02/23, acção de formação no Colégio S. Gonçalo. Amarante

 

No princípio era a tribo

E na tribo se fazia gente.

E a tribo era o espaço todo,

E a tribo era o tempo.

Havia o tempo e o espaço.

Havia a vida e o sonho.

 

Depois foi a cidade

E foi o campo.

Na cidade o espaço foi partido,

E o tempo encurtou.

O campo foi medido

E o tempo passou de sol a sol.

 

Na cidade foi o comércio,

O tempo contado,

O espaço diminuiu.

No campo foram as várias culturas,

O espaço foi contado.

O tempo diminuiu.

 

A cidade cresceu

As ruas apertaram

Os bairros nasciam

O espaço cada vez mais despedaçado,

O tempo cada vez mais controlado.

No campo a produção aumentava,

Nasciam os armazéns das sobras,

Os homens aumentavam

O espaço foi organizado,

A água dividida,

O tempo controlado.

 

Na cidade aumentavam 

As oficinas, e as oficinas eram escolas.

Na cidade aumentava o comércio,

Nascia a palavra escrita e o número,

E o comércio era a escola.

Da cidade partiam barcos,

À cidade chegavam barcos,

Nascia o tempo mecânico,

E os portos e os barcos eram a escola

 

Lentamente

As oficinas,

O comércio,

Os portos e os barcos,

Deixaram de servir de escolas,

Pois não respondiam

Aos problemas do dia-a-dia

Cada vez mais complicado.

E nasciam as escolas

Que ensinavam com o conhecimento

De experiência feito.

 

Havia ainda espaço e tempo de, e para a vida.

 

Finalmente a escola educativa, formativa.

Sem espaço e sem tempo,

Com salas a correr por corredores,

Com tempo escasso para as apanhar.

Espaço-tempo medido

Em fracções mínimas de espaço-tempo.

Lugar de passagem sempre p’r’à frente,

Que é preciso passar velozmente sem repouso.

 

A escola tornou-se um corpo estranho à vida.

Às vezes desabrocha em pérolas

Corpo estranho à escola que as enquista e cerca.

Zé Onofre

12
Abr22

Por aqui e por ali 91

Zé Onofre

              91

 

Livração sem data e sem lugar. O tempo e o lugar é estarmos com os amigos onde eles estiverem

 

Amigo Alexandrino

 

A ver se sossego, o desassossego que me toma ao passar frente à casa dos teus pais.

A ver se a saudade dos tempos, em que o tempo era feito com as nossas mãos, não se esvai pela névoa da distância que o tempo aumenta.

A ver se o fogo sagrado se não apaga de vez e continua em chama no recôndito dos dias que passam.

A ver se resistimos, ainda e sempre, à monotonia de um tempo, este, que pretende esmagar o sonho, a magia e as noites de luar.

Principalmente para dar um abraço sentido ao amigo ausente, sempre presente.

Para te enviar o que inopinadamente li numa noite de recordações e emoções fortes.

Não fora a ocasião, que foi, e nunca me atreveria a ler o que li e nunca prometeria o que prometi.

Cada linha que escrevo tem o sentido de mim mesmo. Não é muito do meu agrado andar a expor-me em público. Mas o prometido é devido.

Aí vão. Usa-as apenas para ti, como saudade de um tempo que esperamos reviver um dia.

Zé Onofre

996/01/05, Amarante, confeitaria Mário

 Zé Onofre

03
Abr22

Por aqui e por ali 83

Zé Onofre

                83

 994/10/16

                 I

Que é

Do fogo ardente

Que iluminava o nosso caminho?

Que é

Da fúria

De fazer o futuro ontem?

Que tempo é este

Que levanta barreiras

Onde deveria haver, apenas, sonho e magia?

Que tempo é este

Que tudo macula?

Que tempo é este?

Que tempo,

Sem tempo

Para sonhar mais longe.

                II

Que bom,

Poder olhar o céu

Sem sonhos no olhar.

Que bom,

Poder apreciar a paz

Sem lágrimas nas palavras.

Que bom,

Pisar serenamente

As pedras da calçada.

                III

Quanto mais bom seria,

Incendiar de sonhos

O futuro,

Iluminar de pureza

O caminho,

Semear de flores

A gravidade dos dias.

  Zé Onofre

19
Mar22

Por aqui e por ali 72

Zé Onofre

              72

 

991/04/23, Porto, Hotel Boega, Acção de Formação Ensinar é investigar

 

Chora palhaço

A tristeza perdida

No dia da tua estreia.

Chora palhaço

A dor do sonho perdido

No dia da tua estreia.

Chora palhaço,

Chora palhaço.

 

O que interessa não é percorrer o caminho,

É o modo como se percorre o caminho.

O importante é que tenha sido feliz a caminhada.

O resultado é sempre o mesmo – fim de linha.

 

 

De palavras sonhamos a vida.

De palavras enchemos a felicidade.

De palavras falamos o silêncio das nossas almas.

 

De linhas traçadas ao acaso

Fazemos encruzilhadas

Que querem ser vida.

Só ilusões nos unem,

Só ilusões se cruzam e entrecruzam.

 

Viagem ao país do impossível,

À solidão de cada um na cidade fria e cinzenta.

A viagem ao país do faz de conta,

Da magia, da fantasia,

E fuga das alegrias estudadas e normalizadas da cidade.

Viagem ao reino das paredes brancas

Onde tudo pode ser e nada é.

      Zé Onofre