Penafiel 63
63
03/03/978
Solidão
É ter o direito de dizer a nossa palavra
E calá-la.
É ter espaço para a gritar
E não o aproveitar.
É ter pernas
E não querer andar.
É ter olhar
E não querer ver.
Solidão
É o diz-se, diz-se
Das mesas do café.
É o murmúrio
Nos recantos dos corredores.
É ter a luz acesa
E apaga-la.
Solidão
É ter o dever de falar
E calar.
É ter o dever de ocupar o espaço
E abandoná-lo.
É ter o dever de andar
E amarrar as pernas.
É o dever de olhar em frente
E baixar os olhos.
Solidão
É querer estar só.
São estas paredes cheias
Do silêncio das nossas vozes.
É vazio gritado
De murmúrios.
É o sussurro bichanado
Ao ouvido do teu amigo.
Solidão
É ter o dever de estar presente
E fugir.
É direito de estar
E não o usar.
Zé Onofre