Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Notas à margem

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Notas à margem

17
Dez22

Histórias de A a Z para aprender a ler e escrever - Livro II - Ana e a ave

Zé Onofre

Ana e a ave

ANA E A AVE.jpg

 

Da janela do seu quarto,

Ana

Olha a paisagem

Com colinas e encostas,

Vales e ribeiros,

Que certamente irão até ao mar,

Que fica para lá do horizonte,

No qual se impõe na maior montanha,

Coberta de neve

Que reflete o sol,

O luar e as estrelas.

 

Não,

A Ana não vive numa aldeia.

Da janela do seu quarto

Vê prédios, atrás de prédios,

Uns mais altos, outros mais baixos,

Presos entre ruas, ruelas,

Praças e avenidas,

Para acabar  

Num prédio todo envidraçado

Do solo de onde se ergue

Até roçar as nuvens.

 

Uma tarde,

Como noutras tantas tardes,

Ana olhava o longe.

Naquela tarde o seu olhar

Encontrou um ponto de interesse.

Era um pequeno ponto

Que se desprendeu lá longe,

Do alto do prédio envidraçado,

E se dirigia para a sua janela.

   

Agora que estava mais próximo

Identificou aquele ponto

Como uma ave.

Era uma ave para ela desconhecida

Tão diferente das avezinhas

Que conhecia dos parques e jardins da cidade.

A sua cabeça,

Ora branca, ora prateada,

Desprendia-se um arco-íris

Que coloria as suas penas.

 

Dos olhos fundos e negros

Formaram-se duas lagoas

Que refletiam a ave,

Que se aproximava velozmente,

Ignorante do perigo

Que representava o vidro da janela.

 

A ave

Chocou violentamente contra o vidro

Caiu como morta no parapeito.  

Com cuidado abriu um pouquinho a janela,

Pegou na ave

E as lagoas dos olhos de Ana

Transbordaram sobre a ave

Que recuperou do choque.

Ana bateu palmas,

A ave bateu as asas.

Ana pegou na ave com jeitinho,

Abriu-lhe a janela,

Deu-lhe um beijo na cabeça,

Deixou-a partir.

 

Agora todas as tardinhas

A ave vinha visitar a Ana.

  Zé Onofre