Histórias de A a Z para aprender a ler e escrever - Livro II - A princesa encantada
A PRINCESA ENCANTADA
Era uma vez…
Num reino para além
Dos horizontes
Dos vales, das montanhas,
Das lagoas, dos rios,
Dos mares e das fontes.
Era uma vez…
Num reino lá atrás,
No início de todos os anos,
De todos os séculos,
Das eras perdidas
E quem sabe
Num tempo sem medidas.
Nesse reino,
Sem espaço, nem tempo,
Vivia um rei
Senhor das terras,
Dos rios e dos lagos,
Dos prados e dos montes,
Dos mares e das praias,
Dos navios e das pontes.
Era dono
Dos seres vivos.
Dos que vivem nos ares,
Nas terras
E nos mares.
Da vegetação,
Do feno que ao vento ondula,
Aos arbustos que dançam
À canção do vento nas árvores.
De todos os minerais e pedras preciosas
Dos cinzentos granitos aos claros mármores.
Apesar de ser dono de tudo,
Deste deslumbramento
De tantas riquezas
De tanto mundo
De tantas belezas
Em que tudo se verga aos seus passos.
Apesar de tudo vivia triste.
Não tinha filho, nem filha,
Não teria neto, nem neta
Que apertasse nos seus braços,
Cada vez mais secos e cansados.
Um dia,
Em que o desânimo batia forte
Apareceu um velhinho
Trazido nas asas do vento norte.
Disse,
Na sua voz doce,
Serena e forte,
Que tinha vindo
Para acabar com a tristeza
Que há anos atormentava
Sua real alteza.
Logo o rei
Lhe prometeu mundos e fundos,
Riquezas mil que estavam à sua escolha
Por todo o seu reino.
O velhinho disse
De tudo quanto me oferece
Daqui só quero apreciar,
A ondulação do feno, verde-mar,
A canção do vento
Que faz os arbustos dançar.
Assim quis, assim se fez.
Passados nove meses
Aconteceu o que tinha de acontecer,
Com a bênção do velhinho,
Talvez sábio, ou feiticeiro,
Um menino acabou por nascer.
Nasceu Ricardo.
Cresceu belo e inteligente.
Porém,
Sem a companhia duma criança
Era um Ricardo desanimado,
Que vivia sem a esperança
Dum dia ter alegria.
O rei
Ao ver o seu filho
Uma criança já envelhecida.
Lembrou-se
Do Velhinho,
Talvez sábio ou feiticeiro,
E pôs todos os seus criados à sua procura.
Que visitassem as searas ao vento,
Os arbustos a dançar,
Nas canções do vento.
Que visitassem todas as grutas,
Levantassem todas as pedras,
Atrás de todos os penedos,
Que não deixassem palmo por averiguar.
Assim fizeram,
Com esmero cumpriram as ordens
Nada ficou por esquadrinhar.
Do velhinho,
Sábio ou feiticeiro
Nem uma breve visão,
Nem o mais leve cheiro,
Ou algum som que dele viesse.
Voltavam
Já vencidos pela pouca sorte.
Ao entrarem no caminho,
Rumo ao Castelo
O velhinho
Aparecido ali, não sabiam de onde,
Trazia na mão uma gaiola de arame
Que tinha dentro um rato
Enfeitado com um laço amarelo.
O que se pode dizer
Contentes como um rato
Correram, quase voavam
Onde o Rei e a Rainha,
Aios e aias
E claro o Ricardo
Os aguardavam com ansiedade
E já nada de bom agouravam.
Ergueram a gaiola
Como se fosse um troféu
Desmontaram todos ao mesmo tempo
E com o devido respeito
Dirigiram-se à família real
E à sua frente ajoelharam,
Apresentaram a prenda original.
A luz voltou ao castelo.
Ricardo crescia agora
Belo, inteligente e alegre.
Era o rato atrás do Ricardo,
Era o Ricardo a seguir o rato.
Andava tudo num reboliço.
Móveis que saíam do lugar,
Jarras que se partiam
Depois de um voo pelo ar.
As carpetes ondulavam,
As tapeçarias balouçavam.
Apesar de contentes
Pela energia inebriante
Do seu filho Ricardo.
O que o pai e a mãe não sabiam,
Era com quem brincava o seu infante.
Onde os reis babados
Pela alegria sem comparação
Do seu filho Ricardo
Viam apenas um rato,
O filho de suas altezas
Brincava com a mais bela
De todas as princesas.
Um dia
O rei João
Meteu na sua cabeça
Que chegara a hora de casar o Ricardo.
Este não gostou da lembrança.
Casar com quem
Perguntava à mãe
Que lhe dava mais confiança.
Não te aflijas seu tolo,
O teu pai quer, porque quer
Ter um neto, ou uma neta,
Nem repara que ainda és criança.
Todavia sua majestade
Insistia,
Persistia,
E por fim decidiu.
Amanhã começamos à procura,
Pois, menino Ricardo,
É chegada a altura
De deixares de brincar com o rato.
Na manhã seguinte,
Ricardo
Desceu com decisão
A escadaria
Que ia para a sala de jantar.
Levava na mão a gaiola
E o rato com o laço amarelo.
Senhor meu pai,
Minha querida mãe,
Já que me querem casar
Aqui têm
A minha pretendida.
Dizendo isto Ricardo
Com toda a delicadeza
Pousou a gaiola e o rato
Numa cadeira, à mesa.
Que brincadeira é esta.
Pensas que isto é uma brincadeira?
Onde já se viu um Príncipe
Casar com um simples rato,
Que por sorte escapou da ratoeira?
Meus soberanos pais,
Não estou a brincar.
Por favor abri os olhos
E vede o que tendes à vossa frente.
E sem magia, mas com lucidez,
Os pais com olhar persistente
Viram para seu espanto
Aparecer sentada à mesa
Não o rato das brincadeiras
Mas uma menina airosa
De rara beleza.
Zé Onofre