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Notas à margem

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Notas à margem

15
Fev23

Histórias de A a Z para aprender a ler e escrever - Livro II - O tio do Brasil

Zé Onofre

O senhor do castelo saiu

O SENHOR DO CASTELO SAIU.jpg

 

Nos tempos de antigamente,
Mas não antigamente assim,
Os senhores das Terras
Não eram santos,
Eram apenas homens distantes.

Porém, entre os não santos,
Apenas homens distantes,
Havia alguns que passavam de distantes,
Atingiam, alguns o escalão da ruindade,
Outros ainda atingiam o topo
O escalão da pura Malvadez.

A sua fama de terror
Espalhava-se por léguas em redor.
O temor era tanto,
Que havia alguém atento
Que seguia os passos
Do maldito.

Ao primeiro sinal
Dos portões se abrirem,
No vento corria o sussurro
Por todos os casebres e Casais,
Por todas as quintas e quintais
- O senhor do Castelo Saiu!

Todos os servos,
E não servos,
O mal sussurrado
- O senhor do Castelo saiu,
Ouviam, recolhiam-se
Aos seus lares,
Aos seus afazeres dentro de portas
Ou, na falta de tempo,
Mergulhavam
Nos campos cobertos de erva,
Milho ou centeio,
Suspendiam a respiração,
Suspendiam a vida.

Um dia por acaso,
Ou por destino,
Uma criança inocente,
Ignorante da maldade
De que os humanos são capazes,
Ao ver um lindo cavalinho
Galopando à desfilada
Saltou do campo ao caminho,
Sem nada saber dos perigos.

Os sussurros
Cada vez mais insistentes,
Cada vez mais alto bradavam,
Tremendo de medo no vento,
- O senhor do Castelo saiu!
A criança espantada,
Alheia de tudo
Esperava.

O castelão aproxima-se.
O cavaleiro puxa a espada,
Levanta-a.
Descarrega-a mortalmente
Sobre a criança.
Por milagre,
Ou por sorte,
O cavalo espanta-se,
O senhor desequilibra-se,
Cai.

O cavalo parte à desfilada.
A inocente criança
Aproxima-se do Senhor,
Toca-lhe no rosto.
O povo,
Lentamente medroso,
Vai.
Depois,
Aceleradamente curioso,
Chega ao local do acontecido.

Olham a criança.
Olhão o Castelão.
Após um silêncio,
Que pareceu uma eternidade,
Um grito uníssono,
Gritado ao vento, explodiu
- O senhor do Castelo caiu!

      Zé Onofre

05
Fev23

Rebusco 17-18

Zé Onofre

               17

 

091/05/15

 

Do Mundo

Eu observo.

Eu registo.

Eu comunico.

Eu critico.

Eles criticam.

Eu observo.

Eu critico.

Eu transformo.

Eu comunico.

Eu deduzo.

Eu recrio.

Eu conceptualizo.

 

                 18

 

091/05/16

 

Falamos, falamos,

Palavra atrás de palavra,

Folhas no vento

Que ninguém trava.

 

Vivemos num mundo de ruídos

Sublinhados por pausas

De silêncios.

   Zé Onofre

01
Fev23

Rebusco 15

Zé Onofre

                  15

              

091/05/14

 

                  1

 

De novo, apenas o vento que passa.

Depois o pó assentará.

Há que o limpar cuidadosamente,

Não vá o caruncho morrer sufocado

 

                   2

 

Eu sei

Tu sabes

Ele sabe

Nós sabemos

Vós sabeis

Elas sabem

O quê?

Para quê?

Porquê?

Como?

 

                    3

 

Eu ensino ----------------- Eu aprendo

Tu ensinas ---------------- Tu aprendes

Ela ensina ----------------- Ela aprende

Nós ensinamos ----------- Nós aprendemos

Vós ensinais -------------- Vós aprendeis

Eles ensinam ------------- Eles aprendem

      

                      4    

 

João, filho

És. Serás

João, pai.

E João, continuarás.

 

A escola fará

O que a vida já fez.

Selecionará,

Crivará,

Separará o trigo do joio.

 

O professor

É, miseravelmente, o crivo

Usado, manipulado,

No aprofundamento

Das clivagens sociais.

  Zé Onofre

11
Jan23

Rebusco 8

Zé Onofre

          8

992/10

 

Ser céu e ser vento.

Forma retorcida, revolta

Nuvem correndo veloz,

Estar só sem nada à volta.

 

Ouvir na sala, em silêncio,

A chuva que lá fora cai.

Ouvir o canto do vento

Que apressado fala e se vai.

 

Cheirar a terra molhada,

As folhas que a terra destrói.

Sentir o cheiro das castanhas

Que queimam as mãos, mas não dói.

 

Olhar as cores mil que inebriam:

Do verde austero do pinhal,

Ao cinzento fugidio das nuvens,

Sonhar regressos ao pecado original.

  Zé Onofre

02
Jun22

Por aqui e por ali 142

Zé Onofre

              142

 

017/02/28

 

Conseguistes tirar-me o sossego

Que não o “criticar”.

Conseguistes pôr-me a pensar

No que fui,

No que sou,

No que virei a ser.

 

Tudo o que fiz.

Tudo o que faço.

Nada trouxe,

Nada traz,

Que modifique a dolorosa realidade

Que vivemos.

 

Que adianta gritar ao vento,

Sou o que sou?

Que adianta gritar ao vento,

Igualdade, liberdade, fraternidade?

Que adianta gritar ao vento,

De cada um segundo as suas capacidades,

A cada um segundo as suas necessidades?

Que adianta gritar ao vento,

Amai-vos como eu vos amei?

Que adianta gritar ao vento,

Necessário, necessário,

Estritamente o necessário,

O extraordinário é demais?

 

Todos estes utopistas foram vencidos,

Inexoravelmente vencidos.

Um na Cruz,

Outros por aqueles,

Que os esmagaram sob muros,

Muros que construíram com mentiras.

 

Uns guilhotinaram impassivelmente

A Liberdade,

A igualdade,

A fraternidade.

Que força pode ter

Um pobre urso,

Fantasia animada,

Que desaparece com a luz?

 

Que me adianta, num mundo assim,

Gritar ao vento e ao mar,

Ao sol, às estrelas e à lua,

Sou o que sou?

  Zé Onofre

22
Mai22

Por aqui e por ali 131

Zé Onofre

                   131

 

011/05/17, Biblioteca EB2.3, Vila Caiz, Amarante        

 

     Hora do conto

 

Falamos, falamos, …

Sons perdidos no vento, sem rumo, sem destino, sem vida.

Balões vazios, corrente de ar à procura de um destino.

Falamos, falamos, …

As palavras perdem-se num deserto de ouvintes ausentes em parte incerta.

  Zé Onofre

18
Mai22

Por aqui e por ali 127

Zé Onofre

                 127

 

011/02/12, EB2.3, Vila Caiz, Amarante        

 

Olhemos as páginas escritas.

Nelas nada há de sonhos,

Nada há de mistérios,

Nada há de aventura.

 

Corramos pelas páginas brancas

Em busca do vento,

Em busca das labaredas,

Em busca do infinito,

Em busca do desconhecido.

 

Se de repente

Na esquina alva

De uma linha por escrever,

Nos aparecer a luz,

Nos surpreender uma sombra,

Tropeçarmos numa mágoa,

A subtileza de um amanhã,

Teremos então a certeza

– A viagem não foi em vão. –

  Zé Onofre

15
Mai22

Por aqui e por ali 124

Zé Onofre

                 124

 

2003/12/11, sobre o Projecto Curricular de Turma

 

               I

 

Em papel nos fazemos,

Em papel nos enredamos,

Em papel nos perdemos,

Em papel nos anulam,

Em papel nos escondemos,

Em papel nos revelam.

 

               II

    

De papel nos vestimos,

Atrás de papel nos escondemos,

Alunos que nunca vimos,

Nem sabemos.

 

Não sabemos os teus anseios,

Na Primavera da inocência,

Não sabemos do vosso sonhar,

Nos despertares da adolescência.

 

De vós sabemos apenas

O que cegos avistamos,

Não queremos saber

O que de vós quereis que saibamos.

 

De papel nos vestimos,

Atrás de papel nos escondemos

Alunos que nunca vimos

Nem sabemos.

 

Não sabemos dos vossos sonhos,

A voar alto nas asas do vento.

Não sabemos das vossas alegrias,

No rodar inconstante do pensamento.

 

Não sabemos das vossas tristezas

Que como fumo nascem e voam.

Não sabemos das pequenas vidas

Que forjais nos dias que passam.

 

De papel nos vestimos,

Atrás de papel nos escondemos

Alunos que nunca vimos

Nem sabemos.

 

                III

 

Papel, papel, papel,

Tudo é papel.

  Zé Onofre

07
Mai22

Por aqui e por ali 116

Zé Onofre

                       116

 

2000/08/23

 

Que venha o vento

Encher de música este verde vale.

De seguida

Venham as crianças,

De mãos dadas,

Cobrir os campos de alegria.

E venham os jovens

Descobrir

Nos seus corpos esbeltos

Os mistérios do amor.

Ao entardecer,

Que o sol espalhe,

Para além do horizonte,

Novas sementes de vida

Neste vale fecundadas.

  Zé Onofre