Histórias de A a Z para aprender a ler e escrever - Livro II - O tio do Brasil
O senhor do castelo saiu
Nos tempos de antigamente,
Mas não antigamente assim,
Os senhores das Terras
Não eram santos,
Eram apenas homens distantes.
Porém, entre os não santos,
Apenas homens distantes,
Havia alguns que passavam de distantes,
Atingiam, alguns o escalão da ruindade,
Outros ainda atingiam o topo
O escalão da pura Malvadez.
A sua fama de terror
Espalhava-se por léguas em redor.
O temor era tanto,
Que havia alguém atento
Que seguia os passos
Do maldito.
Ao primeiro sinal
Dos portões se abrirem,
No vento corria o sussurro
Por todos os casebres e Casais,
Por todas as quintas e quintais
- O senhor do Castelo Saiu!
Todos os servos,
E não servos,
O mal sussurrado
- O senhor do Castelo saiu,
Ouviam, recolhiam-se
Aos seus lares,
Aos seus afazeres dentro de portas
Ou, na falta de tempo,
Mergulhavam
Nos campos cobertos de erva,
Milho ou centeio,
Suspendiam a respiração,
Suspendiam a vida.
Um dia por acaso,
Ou por destino,
Uma criança inocente,
Ignorante da maldade
De que os humanos são capazes,
Ao ver um lindo cavalinho
Galopando à desfilada
Saltou do campo ao caminho,
Sem nada saber dos perigos.
Os sussurros
Cada vez mais insistentes,
Cada vez mais alto bradavam,
Tremendo de medo no vento,
- O senhor do Castelo saiu!
A criança espantada,
Alheia de tudo
Esperava.
O castelão aproxima-se.
O cavaleiro puxa a espada,
Levanta-a.
Descarrega-a mortalmente
Sobre a criança.
Por milagre,
Ou por sorte,
O cavalo espanta-se,
O senhor desequilibra-se,
Cai.
O cavalo parte à desfilada.
A inocente criança
Aproxima-se do Senhor,
Toca-lhe no rosto.
O povo,
Lentamente medroso,
Vai.
Depois,
Aceleradamente curioso,
Chega ao local do acontecido.
Olham a criança.
Olhão o Castelão.
Após um silêncio,
Que pareceu uma eternidade,
Um grito uníssono,
Gritado ao vento, explodiu
- O senhor do Castelo caiu!
Zé Onofre