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Notas à margem

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Notas à margem

19
Abr23

Comentário 314

Zé Onofre

                  314

023/04/17

Sobre Los Angeles, por Cotovia (MC ) em 16 ABR23, no blog https://cotoviaecompanhia.blogs.sapo.pt/

 

Acreditar,
Todos acreditamos em algo
Real,
Quanto a realidade o pode ser,
Transcendente,
Quanto transcendência possa haver.

Tenho uma crença
No Ser Humano
Tão efémera e frágil
Como é a Humanidade.
É uma centelha
Que A acompanha
Desde o berço profundo
Em terras de África,
E A seguirá até às estrelas,
Ou mais além.

É uma crença certamente vã
Como poderá ser outra qualquer.
Mas sem uma crença
Vã seria a vida.

  Zé Onofre

13
Abr23

Dia de hoje 94

Zé Onofre

                  94

 023/04/13

                               Canto triste XVIII

 Venham ventos, venham facas,

Que cortem esta desventura

Nascida de  políticas fracas

Que apenas trazem amargura.

 

Se ainda houver coração

Que reacenda a chama da vida

Pode ser que de novo a união

Não se deixe mais ser vencida.

 

Venha um sopro ainda que leve

Fazer de uma brasa perdida

Uma chama viva e alegre

Que dê razão a esta vida.

    Zé Onofre

25
Mar23

Comentários 309

Zé Onofre

                  309 

 

023/03/21

 

Sobre “E foi assim...há 30 anos!” por Isabel Silva, em 2023/03/17 no blog  https://imsilva.blogs.sapo.pt/

 

Quanto é belo dar vida ao futuro.

Iniciá-lo a partir das nossas entranhas.

Um novo futuro que nos faz sorrir.

Um futuro que exige a nossa proteção.

 

Um dia esse futuro ganhará asas,

Partirá para construir novo futuro

E quem o futuro lhe iniciou,

Limitar-se-á a vê-lo voar

Com o mesmo sorriso

Com que o fez chegar.

    Zé Onofre

24
Mar23

Que viva Spartacus 38

Zé Onofre

              38

 

023/03/24

 

Jovem,

Antes de decidires entrar nessa casa,

Pensa.

Ninguém nasceu

Para matar e ser morto

Em verdes planícies,

Em ondulados areais,

Em pacíficas aldeias,

Em montanhas,

Em perdido sertão,

Nas cidades,

Nas vilas.

Ninguém nasceu carne p’ra canhão.

Desiste,

Não queiras de soldado a sorte,

Isso não é modo de vida,

É, sim, modo de morte.

     Zé Onofre

23
Mar23

Dia de hoje 91 - Canto triste XVII

Zé Onofre

91

 

023/03/23

 

Canto triste XVII

 

 Há coisas difíceis de aceitar

Que tu, jovem, sem razão

Aceites, sem tentar perceber,

A missão de morrer e matar,

Dares-te em carne para canhão.

Tanta vida para não se viver

 

Que loucura é essa,

Que loucura é essa

Que trazes na cabeça

Que só te serve para morrer,

Que não te deixa viver.

Que loucura é essa, jovem,

Que loucura é essa, jovem,

Que serve a ambição de outros

Que para ti nada tem.

Que loucura é essa, jovem.

Que loucura é essa, jovem.

Que loucura é essa, jovem

 

Não me digas que não queres saber

Quando as mortes se sucedem,

Não me digas que não vês

Os mortos que se estendem

E o vermelho de sangue nas bermas da vida.

Não me digas que não queres saber.

  Zé Onofre

30
Dez22

Rebusco 6

Zé Onofre

               6

 

989/11/30

 

            I

 

Se eu fosse um pássaro

Era pequenino

Estava no quente

Do meu ninho

 

             II

Entra uma criança na escola

Com vontade de falar

Da sua vida.

 

Logo no primeiro dia

O silêncio fez-se.

Nada mais houve,

Para além de palavras sem sentido.

 

              III

 

De exercício em exercício

Matamos

A criatividade.

 

De exercício em exercício

Geramos

A monotonia.

   Zé Onofre

24
Dez22

Dia de hoje 83

Zé Onofre

               83

 

022/12/19

 

Natal,

Orar ao Sol

Que regresse

Para nos tirar do Hades

O reino das trevas

Onde caímos no equinócio do Outono.

 

Natal,

A memória de um novo Sol

Que nasceu num curral escuro de Belém

Para dar uma nova Luz ao Mundo.

 

Natal,

Um novo olhar sobre a vida,

Uma nova visão dos homens,

Todos nascidos do ventre escuro da mãe,

Nus,

Sem coroas, nem mordomias,

Sem riquezas,

Todos nascidos de mãos nuas e puras.

 

Memória do nascimento de um menino,

Não por ter nascido um menino,

Igual a todos os outros meninos

E como outros tantos

Nascidos nas margens da vida,

Na margem da humanidade.

 

Natal, celebração de um Menino

No dia do seu Nascimento.

Porque esse Menino

Além de passar pelas fases de crescimento

- Criança e adolescente,

Jovem e adulto –

Cresceu também em Sabedoria

E Inteligência.

 

Aquele Menino, nascido num curral,

À luz das estrelas,

Entre animais e pastores,

No seu trabalho do dia-a-dia,

Na frequência da sua Igreja

Usando o saber que lhe transmitiam,

Usando a sua inteligência

Para ver a realidade

Confrontando-a com os ensinamentos.

 

Havia uma diferença abismal

Entre a vida e o ensinamento.

A sua aguçada inteligência

Não aceitava a distância

Que ia da palavra ao acto.

 

Principiou por confrontar

Os Mestres da sua igreja.

Denunciar,

Não a lei,

Mas a sua Manipulação

Pela hierarquia sacerdotal,

Pela hierarquia política,

Pela elite económica.

 

Há quem celebre o Natal

Como apenas o Nascimento de um menino.

É o Natal da minha infância.

Apanhar musgo,

Arbustos,

Para fazer o presépio na Igreja.

Era a alegria da brincadeira no Largo,

O entrar na Igreja para a Missa do Galo,

Ver o presépio iluminar-se

Ao som das badaladas da meia-noite

E de “o Gloria in excelsis Deo”.

Tudo isto depois da Ceia de Natal em família.

 

Como lembrar todos os nascimentos,

De tantas crianças

Que, como aquele menino,

Nasceram desamparados e abandonados por todos.

 

Como falar da miséria

Que fica para lá das janelas coloridas

Que expõem ao mundo o excesso

Enquanto, deitada em lençóis de neve,

Uma menina morre aquecida

Por fósforos não vendidos.

 

Como revolta

Contra aqueles que transformaram o Natal

Num Centro Comercial,

Que relegaram outra vez para um canto escuro

O aniversariante,

Substituindo-o por um velho barrigudo,

Barbas e cabelos brancos,

Vestido de vermelho,

O homem da Coca-cola.

 

Como apenas tendo sentido

Comemorar o Natal daquele menino,

Não pelo fato de ter nascido,

Mas pelo que fez

Até ser crucificado como um criminoso

Porque ousou enfrentar

Os poderes instituídos

Que manipulavam a lei em seu proveito.

 

Espero no próximo 24 de Dezembro

Comemorar com saudade o Natal da minha infância,

Sabendo, contudo, que o Natal

É muito mais que isso.

Zé Onofre

13
Dez22

Dia de hoje 81

Zé Onofre

              81

 

022/12/13

 

Nasceu,

Dizem,

Numa manjedoura,

Há dois mil anos,

Mais ano menos ano,

Uma criança.

 

Nasceu,

Dizem,

Na manjedoura de um curral

Depois de se fecharem todas as portas,

Para um casal cansado de longa viagem,

Cuja mulher

Se apresentava nitidamente grávida

Nos últimos dias.

 

Nasceu,

Dizem,

No curral

Onde dois dóceis animais,

Uma vaca pachorrenta

E um manso burro

Se aproximaram da manjedoura

E o cobriram de ternura.

 

Nasceu,

Dizem,

Ao som de coros universais,

De cantos de pastores

Que se recolhiam.

De joelhos caíram

Perante o milagre

Da vida.

 

Cresceu,

Dizem,

Em humanidade,

Inteligência

E sabedoria.

 

Adulto,

Dizem,

Que percorreu todos os caminhos.

Que andou por desertos

Por casais e aldeias,

Por vilas e cidades

Seguido por pescadores,

Cobradores de impostos,

Prostitutas e leprosos

E outros marginalizados.

 

Viu,

Dizem,

Tudo o que havia para ver.

Opulência.

Riqueza.

Miséria.

Opróbrio.

Violência.

 

Não gostou,

Dizem,

Do que viu.

Então,

Seguido pelos seus amigos,

Partiu a denunciar os desvios

E manipulação da Lei

Que os sumo-sacerdotes,

Os poderes políticos,

Os poderes económicos

Faziam em seu proveito.

 

Aquela criança,

Dizem,

Nascida em palhas

Bafejada por dois dóceis animais,

Um dia quis mudar o mundo

Com palavras

Ilustradas por actos.

 

Crucificaram-no na cruz,

Dizem,

Como um vulgar criminoso.

É assim

Que os poderes instituídos

Tratam quem ousa

Atravessar-se no seu caminho.

 

Hoje,

Passados dois mil anos,

Mais ano, menos ano,

Lembramos como grande

Aquele dia.

O dia em que um casal

Apenas encontrou abrigo num curral.

Onde uma criança

Acabou por nascer nas palhas

De uma manjedoura.

 

Lembramos

Aquele dia

Desejando

Um novo mundo, melhor,

O fim da Guerra,

O fim da Fome,

Um mundo de Paz,

Um mundo de Liberdade,

Um mundo de Igualdade,

Um mundo de Fraternidade.

 

Talvez cheguemos lá um dia,
Talvez.

Quando houver menos Cristãos
E mais seguidores de Cristo.


Talvez cheguemos lá um dia,
Talvez.
Quando toda a Humanidade
Acreditar
Que nada é de ninguém
E que todos têm direito a tudo.

Talvez cheguemos lá um dia,
Talvez.
Chegaremos lá?
Como chegaremos lá?
Não sei.


Talvez cheguemos lá um dia,
Talvez.

Zé Onofre

02
Dez22

Dia de hoje 78 - Canto triste XIV

Zé Onofre

              78

 

                  Canto triste XIV

 

022/12/02

 

“O ano de 2023 vai ser mais duro do que 2022”, Marcelo, o presidente a visar o povo que se prepare para mais um período de Austeridade.

 

Povo trabalhador ouve com atenção,

Para entenderes que no que não é dito

É que encontras o verdadeiro sentido

Das palavras ditas com a intenção

Para que fiques totalmente convicto

Que é o único rumo a ser seguido.

 

Manipula a verdade como quiseres,

Manipula as palavras como quiseres

Mostra bem que aprendeste a lição.

Manipula a verdade como quiseres,

Manipula as palavras como quiseres

Mostra bem quem é o teu patrão.

 

Povo trabalhador ouve com atenção.

O poder exige sacrifícios outra vez,

A ti que tens a vida bem complicada,

Fazem-te crer que estes dias são

Normais, que não vejas clara a avidez,

Dos que vivem da tua vida suada.

 

Manipula a verdade como quiseres,

Manipula as palavras como quiseres

Mostra bem que aprendeste a lição.

Manipula a verdade como quiseres,

Manipula as palavras como quiseres

Mostra bem quem é o teu patrão.

 

Povo trabalhador ouve com atenção.

Nunca ouviste os nossos governantes,

Pedirem ao patronato, num só momento,

O que a ti tiram sem qualquer comiseração,

Que os lucros, do próximo ano em diante,

Terão que ser reduzidos a zero por cento.

 

Manipula a verdade como quiseres,

Manipula as palavras como quiseres

Mostra bem que aprendeste a lição.

Manipula a verdade como quiseres,

Manipula as palavras como quiseres

Mostra bem quem é o teu patrão.

   Zé Onofre

10
Nov22

Dia de hoje 74 - Canto triste X

Zé Onofre

                   74

 

Canto triste X

 

022/11/10

 

Porque é que vais por esta vida

Entorpecido sem pensar

Que a escravatura não é vencida

Ainda temos muito para lutar.

 

Quem te vê ir de crista caída

És pessoa já derrotada,

Mesmo antes de ser vivida

A luta ainda não começada.

 

Por escritórios e fábricas,

Arrastas os passos doridos,

Com velhos enganos abdicas

De tempos mais coloridos.

 

Evitas ver nos outros rostos

Uma dor tamanha como a tua,

Temes que teus olhos neles postos

Bem unidos consigais até a lua.  

 

A luta é difícil, não percas a fé

Se tiveres que a luta recomeçar.

Mais vale viver um dia de pé,

Do que uma vida longa a rastejar.

 

Ver-te assim tão conformado

Com o teu viver tão cinzento

Fingires que não vives frustrado,

Para a revolta te faltar atrevimento.

   Zé Onofre