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Notas à margem

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Textos escritos em cadernos, em guardanapos, em folhas encontradas ao acaso, sempre a propósito, nunca de propósito. isto é "vou escrever sobre isto". Não é assim que funciono.

Notas à margem

13
Mai23

Comentário 316

Zé Onofre

                  316 

 

023/05/13

 

Sobre  Assim sou eu, por Ana Mestre em 20.04.23, no blog https://sopalavrasminhas.blogs.sapo.pt/

 

Quero viver.

Que me importa

Navegar em águas tranquilas,

Navegar na ficção

De um “Barco do Amor”?

Só ali o mar ondula suavemente

Como se fosse uma seara ao vento.

 

Quero viver.

Lutar contra ventos e marés,

Descer rios bravios,

Desbravar caminhos

Nunca caminhados

Chegar a finais

Nunca imaginados

 

Quero viver.

Que me importa o remanso

Duns chinelos,

De uma barriguinha

Sentado num sofá frente à televisão?

Ali mostram-nos uma vida

Pintada a gosto de quem manda.

 

Quero viver.

Ser eu a enfrentar a tela da vida,

Pintá-la com as cores preferidas,

Com as mãos, ou os pés,

Usando pincéis, ou rolos.

Não quero ser Picasso,

Quero apenas ser eu.

 

Se esta inquietude me abandonar,

O coração poderá bater,

Poderei continuar a respirar.

Serei apenas um robô

Convencido que vive,

Mas que na verdade

Apenas está a vegetar.

  Zé Onofre

26
Out21

Penafiel 70

Zé Onofre

                  70

 

___/04/978

 

Quero cantar

Os gitos 

Feitos pedras

Nos dias abjetos

A que chamamos viver.

 

Quero cantar

Hoje

Não as prostitutas

Os operários,

Os bairros de lata,

As crianças abandonadas,

Os velhos dos bancos do jardim.

 

Quero apenas cantar

Os humildes

Que vivem na sombra

Dos telhados

Das casas mortas.

 

Quero cantar

A mulher feita objeto,

Corpo de prazer,

Jarra, ornamento.

 

Quero cantar

Aquele homem

Que vive de terra em terra,

Sem terra,

Sem casa,

Que morre

Nas bermas da opulência.

 

Quero cantar

Aquele vagabundo

Que bebe

Estrelas de luar.

 

Quero cantar

As flores do jardim,

As estrelas,

O sol,

A solidão,

Companheiros

De quem morre em vida.

    Zé Onofre

08
Ago21

Souto 26

Zé Onofre

           26

 21/02/975

                    I

Os dias não são eternos,

Mas são longos os minutos.

Nós é que fazemos o tempo.

O tempo encurta-se,

Alonga-se

À cadência dos anseios,

Dos desejos,

Das ilusões desiludidas.

                     II

Os dias não são eternos,

Mas são longos os minutos.

Longos, longos, longos.

Num minuto tudo se decide,

O viver e morrer

O tudo e o nada.

Tudo decisões de um minuto.

                   III

Os dias não são eternos,

Mas os minutos são longos.

Quanto mais longos,

Mais curtos os dias,

Menos eternos

                   IV

A vida mede-se

Pelo tempo vivido

Entre um minuto e outro minuto.

Entre esses momentos

Apagam-se os dias,

Anulam-se os anos,

Tudo se anula.

                 V                                                  

De repente acordamos,

O minuto arredonda-se

Em menos de um instante.

Os dias não são eternos,

Mas os minutos são longos.

         Zé Onofre